A Vila Martel possui um único acesso por
um discreto portão de ferro existente na Rua das Taipas, perto da Praça da
Alegria. Foi mandada construir por José Trigueiros de Martel, em 10 de Janeiro
de 1944, para "refúgio e mansões de trabalho de pintores e
escultores", sendo que compreende um conjunto de 9 habitações térreas
contíguas e todas iguais e quatro casas anexas, duas em cada extremidade, com
características distintas que serviram de ateliers para artistas plásticos.
Actualmente, a poucas dezenas de metros,
no interior de um logradouro encravado que ocupa as traseiras a poente dos
prédios da Vila Martel, separado por um muro que serve de suporte e de parede
daquelas habitações, estão a decorrer obras de construção de um hotel com 40
quartos, distribuídos por três pisos, e que terá como único acesso uma estreita
abertura em forma de túnel existente sob o edifício nº 60 da Rua D. Pedro V.
Na sequência das últimas chuvadas e das
obras em curso no logradouro daquela unidade hoteleira, ocorreu um deslizamento
de terras que se acumularam junto ao muro e que já ultrapassam a sua altura,
colocando em causa a segurança física dos prédios da Vila Martel, os quais
apresentam problemas de infiltrações provenientes da cobertura daquelas habitações.
Recentemente, uma outra empresa
hoteleira entregou um pedido de informação prévia na Câmara Municipal de Lisboa
para apurar a viabilidade de vir a ser autorizada a construção de um edifício
com 14 pisos, oito dos quais subterrâneos, o qual seria construído no local
onde se encontra a Vila Martel, que seria demolida para o efeito. A intenção
seria que os primeiros 12 andares fossem afectos a um parque de estacionamento
robotizado, com capacidade para um total de 186 lugares, e os dois últimos
pisos destinados à ampliação, com mais 24 quartos, do hotel já em construção na
face superior da encosta. Para justificar esta proposta de demolição, o
promotor imobiliário sustenta que “o conjunto apresenta sinais de degradação e
abandono, falta de condições de salubridade e anomalias construtivas”.
Considerando a urgência de proceder à
imperiosa necessidade de estabilização da encosta onde se localiza o logradouro
com acesso pelo túnel existente sob o edifício nº 60 da Rua D. Pedro V;
Considerando que as Vilas na cidade de
Lisboa constituem um dos mais relevantes vestígios vivos do processo de
industrialização da capital, iniciado em meados do século XIX;
Considerando que a Vila Martel está
inscrita na Carta Municipal do Património e classificada como Bem de Valor
Patrimonial Relevante no Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona
Envolvente (PUALZE), onde o seu regulamento determina que qualquer intervenção
nos bens de valor patrimonial relevante “deve visar a preservação das
características arquitectónicas do edifício”, em que as únicas intervenções aí
permitidas são as “obras de reabilitação e de ampliação, desde que aceites pela
estrutura consultiva” camarária prevista no regulamento supracitado;
Considerando que a Direcção Geral do
Património Cultural emitiu um parecer vinculativo desfavorável no dia 17 do mês
passado referente a este projecto, por entender ser “excessiva a volumetria
proposta para o novo corpo de unidades de alojamento e estacionamento do hotel,
[pelo que] a solução arquitectónica deverá ser revista, dado tratar-se de um
conjunto edificado com características próprias” e referindo ainda que “deverão
ser respeitadas essas mesmas características morfológicas e tipológicas [da
Vila Martel], aceitando-se um aumento de cércea, assim como deverá ser
respeitada de uma forma geral a topografia da encosta”.
Considerando que a preservação e
reabilitação do actual conjunto edificado da Vila Martel, mantendo a sua traça
original, propiciaria a oferta de habitações acessíveis a jovens que queiram fixar-se
na cidade de Lisboa.
Neste sentido, a Assembleia Municipal de
Lisboa delibera, na sequência da presente proposta dos eleitos do Partido
Ecologista “Os
Verdes”, recomendar à Câmara Municipal de Lisboa que:
1 - Promova uma vistoria a todos os
prédios da Vila Martel para averiguar as condições de habitabilidade e a origem
dos problemas de infiltrações existentes.
2 - Notifique a entidade responsável por
realizar as prementes obras de estabilização da encosta, que representa um
perigo eminente de segurança pública.
3 - Embargue as obras em curso no
logradouro com acesso pelo túnel existente sob o edifício nº 60 da Rua D. Pedro
V até à estabilização desta encosta.
4 - Proceda ao indeferimento do pedido
de informação prévia ao projecto apresentado pela empresa hoteleira Ekmar por
desrespeitar as normas definidas no regulamento do PUALZE e ter tido parecer
vinculativo desfavorável da Direcção-Geral do Património Cultural.
5 - Faculte toda a informação disponível
para que esta temática seja acompanhada pelas 3ª e 4ª Comissões Permanentes da
AML.
Mais delibera ainda:
6 - Enviar a presente deliberação à
Autoridade Nacional de Protecção Civil, à Direcção-Geral do Património
Cultural, à Estrutura Consultiva do PUALZE ao responsável pelas obras de
construção em curso daquela unidade hoteleira e a todos os vereadores da CML.
Assembleia
Municipal de Lisboa, 19 de Abril de 2016
O Grupo Municipal de “Os Verdes”
Cláudia Madeira J. L. Sobreda Antunes
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