“Baía da Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza”
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza”
Nascido em Bragança a 17 de fevereiro de
1929, faleceu no passado dia 13 de Junho, em Lisboa, Alípio Cristiano de Freitas.
O álbum de José Afonso “Com as minhas tamanquinhas”
inclui uma canção-homenagem com o nome ‘Alípio de Freitas’ (ler em anexo).
Entre muitas outras funções, foi
professor universitário, jornalista na Rádio Televisão Portuguesa, padre em
Portugal, cooperante em Moçambique e revolucionário no Brasil. Foi promotor e
dirigente de diversos movimentos sociais e associações cívicas, fundador das
Ligas Camponesas no Brasil, co-fundador da Casa do Brasil em Lisboa, membro da
Comissão Coordenadora do Tribunal Mundial sobre o Iraque e fundador de diversas
associações.
Pai da cantora brasileira Luanda Cozetti
(do grupo ‘Couple Coffee’), esteve cerca de 10 anos no Brasil, preso às ordens
dos governos ditatoriais da altura.
Ordenado padre em 1952, foi viver para
junto dos pobres na Serra de Montesinho, aceitando, cinco anos depois, um
convite do arcebispo de Maranhão para viver no Brasil, onde deu aulas na Universidade.
Num subúrbio de São Luís do Maranhão fundou uma paróquia, uma escola e um posto
médico. Quando dizia missa celebrava-a em português, antecipando as orientações
do Concílio Vaticano II. Em 1962 participou no Congresso Mundial da Paz, em
Moscovo, onde privou com Pablo Neruda, a Pasionaria e Kruchtchev, donde regressou
ao Brasil, rompendo com a hierarquia da Igreja. Apoiou a candidatura de Miguel
Arraes ao governo de Pernambuco, o que lhe valeu ser raptado pelo exército e
detido durante 40 dias.
Naturalizou-se brasileiro, foi para o
Rio de Janeiro, viveu nas favelas e ajudou a fundar as Ligas Camponesas, movimento
que, entre outras iniciativas, organizava ocupações de terras. Na sequência do
golpe militar de 1964, pediu asilo político no México. Após ter recebido treino
político-militar em Cuba, regressou clandestinamente ao Brasil em 1966. A
partir daí percorreu o país de ponta a ponta, promovendo os movimentos
campesinos, tendo sido um dos integrantes e mentores do movimento Acção
Popular.
Homem corajoso e expressando-se
desassombradamente numa época em que todos tinham medo, foi resistente à
ditadura militar, tendo sido preso em Maio de 1970, enquanto dirigente do
Partido Revolucionário dos Trabalhadores, e sujeito à privação do sono durante
30 dias e todo o tipo de torturas, como simulação de afogamento, choques
elétricos em todo corpo, nomeadamente nos órgãos genitais, pendurado no pau de
arara e sentado na cadeira do dragão, entre outras sevícias cruéis. Saiu da
prisão em 1979, como apátrida. Logo depois, escreveu o livro “Resistir é
preciso”. Em 1981, foi viver para Moçambique, num projeto com camponeses, tendo
sido visitado e elogiado por Samora Machel.
Já na década de 1980 regressou a
Portugal, entrando para os quadros da RTP onde permaneceu até 1994, tendo realizado
com Mário Zambujal, Carlos Pinto Coelho e José Nuno Martins o programa ‘Fim de
Semana’. Embora tenha continuado a passar por Moçambique e pelo Brasil, vivia
em Portugal, onde dava aulas de Economia Política. Esteve ligado ao Tribunal
Mundial sobre o Iraque (Audiência Portuguesa), assim como a diversos movimentos
sociais, nomeadamente o Fórum Social Mundial e associações cívicas, tais como a
Associação José Afonso, de que foi fundador com o nº 7, da Casa do Brasil de
Lisboa, de que foi fundador com o nº 1, a Associação Abril e a Associação Mares
Navegados. Em 2010, ingressou no Conselho Editorial do Jornal ‘A Nova
Democracia’.
Mesmo após ter ficado cego, continuou a
militar na defesa dos desprotegidos.
Neste sentido,
a Assembleia Municipal de Lisboa delibera, na sequência da presente
proposta dos eleitos do Partido Ecologista “Os
Verdes”:
1 - Manifestar o seu profundo pesar pelo
falecimento de Alípio Cristiano de Freitas, recordando a sua memória e elevada
participação cívica, guardando um minuto de silêncio.
2 - Enviar as suas mais sentidas condolências
e solidariedade à família enlutada e à Associação José Afonso.
3 - Sugerir à CML que pondere a aposição
de uma placa evocativa ou atribuição de uma designação toponímica na cidade de
Lisboa.
Assembleia
Municipal de Lisboa, 20 de Junho de 2017
O Grupo Municipal de “Os Verdes”
Cláudia Madeira J. L. Sobreda Antunes
ANEXO
Faixa do álbum de José Afonso “Com as minhas tamanquinhas”, editado em 1976
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