20/06/2017

Voto de Pesar “Alípio Cristiano de Freitas”


“Baía da Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza”

Nascido em Bragança a 17 de fevereiro de 1929, faleceu no passado dia 13 de Junho, em Lisboa, Alípio Cristiano de Freitas. O álbum de José Afonso “Com as minhas tamanquinhas” inclui uma canção-homenagem com o nome ‘Alípio de Freitas’ (ler em anexo).

Entre muitas outras funções, foi professor universitário, jornalista na Rádio Televisão Portuguesa, padre em Portugal, cooperante em Moçambique e revolucionário no Brasil. Foi promotor e dirigente de diversos movimentos sociais e associações cívicas, fundador das Ligas Camponesas no Brasil, co-fundador da Casa do Brasil em Lisboa, membro da Comissão Coordenadora do Tribunal Mundial sobre o Iraque e fundador de diversas associações.

Pai da cantora brasileira Luanda Cozetti (do grupo ‘Couple Coffee’), esteve cerca de 10 anos no Brasil, preso às ordens dos governos ditatoriais da altura.

Ordenado padre em 1952, foi viver para junto dos pobres na Serra de Montesinho, aceitando, cinco anos depois, um convite do arcebispo de Maranhão para viver no Brasil, onde deu aulas na Universidade. Num subúrbio de São Luís do Maranhão fundou uma paróquia, uma escola e um posto médico. Quando dizia missa celebrava-a em português, antecipando as orientações do Concílio Vaticano II. Em 1962 participou no Congresso Mundial da Paz, em Moscovo, onde privou com Pablo Neruda, a Pasionaria e Kruchtchev, donde regressou ao Brasil, rompendo com a hierarquia da Igreja. Apoiou a candidatura de Miguel Arraes ao governo de Pernambuco, o que lhe valeu ser raptado pelo exército e detido durante 40 dias.

Naturalizou-se brasileiro, foi para o Rio de Janeiro, viveu nas favelas e ajudou a fundar as Ligas Camponesas, movimento que, entre outras iniciativas, organizava ocupações de terras. Na sequência do golpe militar de 1964, pediu asilo político no México. Após ter recebido treino político-militar em Cuba, regressou clandestinamente ao Brasil em 1966. A partir daí percorreu o país de ponta a ponta, promovendo os movimentos campesinos, tendo sido um dos integrantes e mentores do movimento Acção Popular.

Homem corajoso e expressando-se desassombradamente numa época em que todos tinham medo, foi resistente à ditadura militar, tendo sido preso em Maio de 1970, enquanto dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, e sujeito à privação do sono durante 30 dias e todo o tipo de torturas, como simulação de afogamento, choques elétricos em todo corpo, nomeadamente nos órgãos genitais, pendurado no pau de arara e sentado na cadeira do dragão, entre outras sevícias cruéis. Saiu da prisão em 1979, como apátrida. Logo depois, escreveu o livro “Resistir é preciso”. Em 1981, foi viver para Moçambique, num projeto com camponeses, tendo sido visitado e elogiado por Samora Machel.

Já na década de 1980 regressou a Portugal, entrando para os quadros da RTP onde permaneceu até 1994, tendo realizado com Mário Zambujal, Carlos Pinto Coelho e José Nuno Martins o programa ‘Fim de Semana’. Embora tenha continuado a passar por Moçambique e pelo Brasil, vivia em Portugal, onde dava aulas de Economia Política. Esteve ligado ao Tribunal Mundial sobre o Iraque (Audiência Portuguesa), assim como a diversos movimentos sociais, nomeadamente o Fórum Social Mundial e associações cívicas, tais como a Associação José Afonso, de que foi fundador com o nº 7, da Casa do Brasil de Lisboa, de que foi fundador com o nº 1, a Associação Abril e a Associação Mares Navegados. Em 2010, ingressou no Conselho Editorial do Jornal ‘A Nova Democracia’.

Mesmo após ter ficado cego, continuou a militar na defesa dos desprotegidos.
Neste sentido, a Assembleia Municipal de Lisboa delibera, na sequência da presente proposta dos eleitos do Partido Ecologista “Os Verdes”:

1 - Manifestar o seu profundo pesar pelo falecimento de Alípio Cristiano de Freitas, recordando a sua memória e elevada participação cívica, guardando um minuto de silêncio.

2 - Enviar as suas mais sentidas condolências e solidariedade à família enlutada e à Associação José Afonso.

3 - Sugerir à CML que pondere a aposição de uma placa evocativa ou atribuição de uma designação toponímica na cidade de Lisboa.

Assembleia Municipal de Lisboa, 20 de Junho de 2017

O Grupo Municipal de “Os Verdes



Cláudia Madeira                                                        J. L. Sobreda Antunes




ANEXO




Faixa do álbum de José Afonso “Com as minhas tamanquinhas”, editado em 1976

Sem comentários: