15/03/2016

Declaração política do PEV sobre o Orçamento Participativo, proferida em 15 de Março de 2016


 
O desenvolvimento das práticas de uma cidadania participativa permite uma partilha de responsabilidades entre os actores públicos e os cidadãos nos processos de decisão e nas políticas de descentralização. No caso dos Orçamentos Participativos (OP), tal processo implica o envolvimento dos cidadãos na discussão e na deliberação sobre as prioridades de investimento público, permitindo promover a inovação nas instituições locais e a criatividade dos munícipes.

E é por reconhecermos a importância e o valor dos processos de elaboração de OP, em que os projectos sejam efectivamente concretizados, não descredibilizando a participação democrática dos cidadãos na apresentação de sugestões relevantes para uma melhor gestão da cidade, uma melhor qualidade de vida na sua convivência com o espaço público, e acompanhados de um processo de comunicação transparente, que Os Verdestrazem hoje esta temática à AML, através de uma declaração política complementada por uma recomendação.

No espaço europeu, o OP está presente em cerca de centena e meia de cidades, sendo visto como um instrumento democrático na melhoria da gestão municipal. Portugal não apenas possui mesmo o maior número de experiências de OP, como Lisboa terá sido a primeira capital europeia a implementar o OP, com o objectivo de aprofundar a ligação da autarquia aos seus munícipes. Foi inspirando-se nos valores da Democracia Participativa que o OP de Lisboa teve a sua 1ª edição em 2008, conferindo aos cidadãos a possibilidade de apresentarem sugestões para a sua cidade e votarem naqueles projectos que considerem prioritários.

Como é que as instituições locais e os cidadãos adaptam o modelo aos seus contextos de vivência da cidade?

De acordo com a Carta de Princípios do Orçamento Participativo do Município de Lisboa, do lado dos munícipes, a participação passa pela resposta ao incentivo de diálogo entre cidadãos, eleitos e instituições, processando-se na procura das melhores soluções para os problemas, tendo em conta os recursos disponíveis. Pretende-se ainda contribuir para a educação cívica, permitindo aos cidadãos integrar as suas preocupações pessoais com o bem comum, compreender a complexidade dos problemas e desenvolver atitudes, competências, práticas de participação e sugerir soluções.

Do ponto de vista da CML, tem-se em conta procurar adequar as políticas públicas municipais às necessidades e expectativas das pessoas. Tal deverá passar por aumentar a transparência da actividade da autarquia, o nível de responsabilização dos eleitos e da estrutura municipal, contribuindo para reforçar a qualidade da democracia, bem como melhorar a qualidade de vida na cidade. Periodicamente deverá o município apresentar um balanço sobre o estado de desenvolvimento dos processos.

Com efeito, com base no 3º princípio da referida Carta, “a Câmara Municipal de Lisboa assume o compromisso de integrar na proposta de plano de actividades e orçamento municipal os projectos votados pelos cidadãos”.

E com base no 7º princípio da mesma Carta, a CML “compromete-se a informar os cidadãos sobre os contributos acolhidos e não acolhidos e as razões do não acolhimento, nomeadamente através de um relatório anual de avaliação do orçamento participativo”. A CML “compromete-se, igualmente, a informar periodicamente os cidadãos sobre a execução dos projectos vencedores do OP, inscritos no plano de actividades e orçamento”.

Assim, na Informação Escrita para o período de Nov. 2015 a Jan. 2016, reporta-se genericamente que, no ano passado, a 8ª edição do OP obteve uma votação superior a 42 mil votos, indicando-se, na p. 9, que se verificaram 13 projectos vencedores na categoria dos projectos até 150 mil euros e 2 na categoria dos projectos entre os 150 e 500 mil euros. A mesma Informação Escrita refere também que os serviços terão procedido à monitorização e acompanhamento dos projectos vencedores em edições anteriores.

Verifica-se, no entanto, que após a edição de 2010/2011, os relatórios de avaliação disponíveis na página da Internet do município deixaram de reportar o ponto de situação em que se encontram os projectos vencedores nos anos anteriores, dificultando a transparência no seu acompanhamento pelos munícipes.
 
De facto, se Lisboa terá sido das primeiras capitais a implementar um OP com o objectivo de aprofundar a ligação da autarquia com os seus munícipes, inspirado nos valores da Democracia Participativa, tal como inscrito no artigo 2º da Constituição da República Portuguesa, será que aos cidadãos não lhes é permitido acompanhar e serem esclarecidos sobre as propostas por si apresentadas?
 
Desconhece-se o motivo ou motivos para os atrasos na implementação de alguns dos projectos vencedores do OP, pelo que nos interrogamos se o adiamento ou a não execução dos projectos vencedores não acaba defraudando as justas expectativas dos munícipes. Por vezes surgem casos de mudança de localização para a execução dos projectos, o que também não cai nada bem junto dos candidatos e das expectativas por si entretanto criadas.

O assunto já foi inclusive abordado no ano passado em sessão de CML, tendo o sr. presidente respondido que iria indicar aos serviços para que preparassem e apresentassem os relatórios de avaliação contendo o ponto de situação actualizado sobre os diversos OP. E é nesse mesmo contexto que já desde 2014 Os Verdes” vêm questionando o executivo sobre esta situação e hoje, passados dois anos, voltam a recomendar para que sejam apresentados os resultados das obras em curso ou em atraso das edições anteriores, bem como a sua divulgação pelos munícipes e grupos municipais.
 
J. L. Sobreda Antunes,
Grupo Municipal de “Os Verdes

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