Em
Portugal, a criação da Rede Nacional de Leitura Pública, que para o ano
comemora 30 anos, veio diversificar as ofertas culturais das bibliotecas
municipais. Neste quadro estrutural de mudança (de organização tecnológica, de públicos e de actividades), começou
a ganhar forma a rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa, durante o primeiro
mandato de Jorge Sampaio, entre 1989 e 1993.
A
questão que “Os
Verdes” aqui
trazem reporta-se à implementação do Programa Estratégico Biblioteca XXI,
aprovado na CML há já 4 anos, pela Proposta nº 249/2012, sem qualquer voto
contra, que tinha como objectivo promover a requalificação da rede municipal e
onde a vereação se propôs pugnar pela “elaboração de uma proposta de avaliação
e requalificação da rede existente, planeamento de novas bibliotecas públicas e
definição de uma rede pensada à escala global e actual da cidade”.
Com
a reforma administrativa da cidade, alguns destes equipamentos passaram para as
Juntas, mas algumas não se encontram capacitadas sobre a gestão biblioteconómica,
nem como acompanhar as suas especificidades técnicas. E como uma biblioteca não
se constitui como uma mera colecção de livros, alguns espólios estarão em
risco.
Felizmente,
reabre exactamente hoje a Secção Infantil da Biblioteca Orlando Ribeiro, em
Telheiras, com a qual nos congratulamos. No entanto, por debaixo dessa sala
continuam entaipadas as obras do Auditório da Biblioteca. Também estava
prevista para Setembro deste ano a conclusão das obras no Palácio Galveias, mas
já se sabe que a reabertura apenas deverá ocorrer algures em 2017. Prazos para
a Biblioteca de Alcântara continuam a não ser publicamente apresentados. A
Hemeroteca, que esteve anunciada pela vereação para transitoriamente ocupar o
Complexo Desportivo da Lapa, foi temporariamente relocalizada num par de lojas
na Rua Lúcio de Azevedo, às Laranjeiras. Falta saber se alcançará o seu destino
final previsto no Programa Estratégico Biblioteca XXI.
A
Bedeteca tem-se progressivamente deparado com salas de leitura vazias, onde
seria desejável a presença de crianças. Longe dos tempos em que era vista como
um equipamento cultural de referência, parece ter havido, nos últimos anos, um
claro “desinvestimento neste equipamento”. Fala-se numa prometida transferência
para a futura Biblioteca de Marvila, facto que poderá agravar a situação, pois
os funcionários especializados que ali vêm trabalhando, ao longo de duas
décadas, não deverão acompanhar a colecção, visto terem entretanto transitado
para o mapa de pessoal da Freguesia dos Olivais.
Pergunta-se
também se, a confirmar-se a anunciada transferência da colecção com cerca de 9
mil referências de banda desenhada, ilustração e caricatura, para a Quinta das
Fontes, em Marvila, não se porá um travão ao crescimento e às ofertas de novos
espólios, por ter deixado de ser uma biblioteca especializada. Tecnicamente
seria preferível que a Bedeteca juntasse e disponibilizasse este tipo
particular de documentação e a ela até poderia ter sido adicionada a antiga
colecção de literatura infantil da Biblioteca de São Lázaro, que tinha sido
reaberta em 2006, e que, inadvertidamente, ficou de ‘malas aviadas’ para fora desta
biblioteca.
Será
que o destino que se adivinha para a Bedeteca é semelhante ao drástico
desmembramento que sucedeu com a Fonoteca, após a sua saída das antigas
instalações da Praça Duque de Saldanha? E o que dizer dos serviços mínimos da
única Biblioteca Itinerante, quando em tempo chegaram a existir 3 carrinhas com
circuitos autónomos de circulação? Assim, apesar de todos os esforços e do
trabalho de excelência possível realizado pelos técnicos da Divisão de
Bibliotecas, não estarão em causa as programáticas igualdade de oportunidades,
cidadania, inclusões digital e social e a aprendizagem ao longo da vida?
Voltando
ao cerne da Proposta nº 249/2012, o Programa Estratégico prevê a criação de 18
bibliotecas de bairro e 8 bibliotecas âncora, a saber: as de Belém, Benfica e
Galveias, cada uma com 1.850 m2, mais as do Alto do Pina, Baixa,
Santos o Velho, Marvila, com 2.400 m2 e a da Alta de Lisboa com total
de 5 mil m2. Entre as de menor dimensão poderíamos perguntar, a
título exemplificativo, onde estão as de Alcântara, Arroios, Campolide,
Carnide, Mouraria ou na antiga São Francisco Xavier?
Agora,
mais especificamente, as bibliotecas âncora consideradas prioritárias a médio
prazo que, para além da de Benfica, projectada para a antiga Fábrica Simões, inclui
a da Alta de Lisboa. Esta biblioteca, estudada com a UIT Norte e a implantar no
PUAL, foi entendida como um equipamento determinante, não apenas para a zona,
mas sobretudo por reunir uma biblioteca âncora com cerca de 2.600 m2,
mais ainda a Hemeroteca Municipal, mais a estrutura de coordenação e gestão da
rede, mais o Serviço de Aquisição e Tratamento Técnico das colecções (SATT) e
os depósitos de difusão.
Neste
contexto, srª vereadora, esclareça-nos também, por favor, se o Programa
Estratégico Biblioteca XXI, aprovado em CML sem qualquer voto contra, foi ou
não parcialmente abandonado? O que se mantém verdadeiramente em projecto? Quando
serão calendarizados os novos equipamentos ou se transitarão para um futuro
mandato autárquico? Será possível apresentar brevemente aos GMs uma listagem
com a previsão e uma calendarização mais actualizadas?
Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes”
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