10/02/2016

Intervenção no debate temático sobre a requalificação da 2ª Circular, proferida em 10 de Fevereiro de 2016


Em primeiro lugar “Os Verdes” destacam a importância da realização por iniciativa da AML dos debates temáticos sobre assuntos de importância para a cidade de Lisboa e para os munícipes.
A 2ª Circular atravessa a coroa norte da cidade, ligando os nós rodoviários entre a CRIL e o IC19 ao nó entre a A1, a CRIL e a Ponte Vasco da Gama, distribuindo trânsito de âmbito regional, sendo por isso uma via frequentemente congestionada, pois não se pode esquecer que Lisboa recebe, diariamente, mais de 400 mil veículos.
Daí que o processo de requalificação em debate pretenda transformá-la numa via urbana mais estruturante. Acontece que, no futuro, os condutores que sentirem o aumento de dificuldades no seu atravessamento optarão por outras vias alternativas, já hoje manifestamente engarrafadas nas horas de ponta. Prevê-se, assim, que as intervenções mais relevantes tenham, naturalmente, impactes assinaláveis, não só na rede rodoviária existente, como também nas vias que atravessam os bairros envolventes, afectando a qualidade de vida dos seus residentes. E esta é, para “Os Verdes”, uma situação fulcral que deverá ser prioritariamente acautelada.
Muito se tem escrito e comentado, na maior parte dos casos por analistas que nem sequer se deram ao trabalho de ler os estudos apresentados para beneficiar esta via. A requalificação tem como objectivos genéricos a repavimentação da via, a reabilitação do seu sistema de drenagem, a melhoria da iluminação pública, a renovação da sinalização e o controlo da velocidade média, medidas que parecem consensuais.
Contudo, se o projecto comporta um conjunto de vantagens óbvias, possui também algumas debilidades e omissões por ausência de uma visão global da cidade e reflexos nos municípios limítrofes. Não aprofunda, assim, uma das soluções que “Os Verdes”, e a comunidade em geral, preconizam como imprescindível: a de uma mobilidade alternativa mais sustentável. Senão vejamos.
O modelo de tráfego utilizou unidades de análise com base nas viaturas ligeiras, calculando, como estimativa, que a um veículo pesado corresponderiam dois veículos ligeiros. Mas, ficando-se por aqui, poderíamos questionar: um transporte colectivo corresponderá a quantas viaturas de uso individual? Se calcularmos que, em média, equivalerá a umas largas dezenas, parece suficientemente conclusivo que, pela inclusão de transportes colectivos, o volume de tráfego e os inevitáveis engarrafamentos seriam fácil e vantajosamente minimizados.
Daqui resulta uma das soluções chave para “Os Verdes”: a introdução a curto prazo de sistemas de mobilidade complementares que sejam alternativos, não apenas ao transporte individual, como à actual carreira da Carris (a 750) que circula hoje na mesma faixa de rodagem das viaturas, mais concretamente, a inclusão de um transporte colectivo público em sítio próprio. Ou seja, um eléctrico rápido ou metro de superfície que sirva as interfaces de modos de transportes, ligando, por exemplo, o Aeroporto à estação da CP em Benfica, podendo prever-se o seu posterior prolongamento até Algés.
Quanto a algumas das deficiências plasmados no projecto, apontamos como mais gravosa a previsão de eliminação da via ‘em caracol’ de saída da 2ª Circular para o Campo Grande, no sentido nascente poente, o que obrigará à saída do trânsito junto às Doroteias, com desvio antes da Churrasqueira para entrada pela Alameda das Linhas de Torres, circular à esquerda para a Rua Cipriano Dourado junto à interface de transportes, para aceder de novo ao Campo Grande, literalmente 'entupindo' o escoamento do trânsito local no Lumiar. É uma proposta que não tem nexo, nem trará qualquer vantagem relevante.
Outras omissões, com resultados gravosos, implicam o aumento de tráfego em Telheiras, a não salvaguarda para parque verde do terreno Maria Droste, a não previsão dos fluxos oriundos da Estrada de Telheiras e Rua prof. Francisco Gentil, após a construção do Colégio feminino Mira Rio, que terá uma lotação de cerca de 850 crianças e adolescentes, entupindo ainda mais as entradas e saídas do bairro junto à Escola Alemã, tudo isto porque o estudo encomendado pela CML nunca ‘olha’ para os lados da 2ª Circular, nem prevê minimizar os impactes sobre as Freguesias adjacentes, nem a previsão de bolsas de estacionamento junto a interfaces.
Quanto à apreciação do relatório e da proposta de deliberação final relativos ao debate temático, saudamos os intervenientes e os relatores pelo trabalho que desenvolveram com qualidade, rigor e brevidade. Efectivamente, temos hoje um relatório muito completo, fiel ao que se passou e que inclui as várias posições e recomendações que surgiram ao longo do debate.
Genericamente “Os Verdes” concordam com as recomendações elaboradas, sendo que as várias propostas que apresentámos estão aí plasmadas, aguardando agora que depois de aprovadas, a CML as possa estudar em pormenor para as incluir no projecto e posteriormente as implementar.
Consideramos que os objectivos do projecto são genericamente positivos mas, se não se tiver presente as recomendações provenientes do debate público, será apenas mais um projecto inconsequente, que vai gastar recursos e que não dará respostas às necessidades de transporte e de mobilidade da população em geral.
Para “Os Verdes” a questão fulcral da requalificação da 2ª circular passa assim obrigatoriamente pela criação de alternativas reais e sustentáveis ao uso do transporte individual, algo que está presente no relatório e nas respectivas recomendações. Razão pela qual voltamos a insistir na necessidade de haver uma efectiva e eficiente rede de transportes públicos colectivos, com qualidade, confortáveis, com uma oferta adequada de intervalos de circulação e a preços socialmente justos. Sem esta medida chave nada irá mudar.
Finalmente, a CML terá também toda a vantagem em periodicamente reportar aos munícipes, às Comissões desta AML e aos municípios confinantes da Área Metropolitana, um balanço sobre o desenvolvimento dos trabalhos. Se assim for, o projecto poderá obter uma maior aceitação dos resultados pretendidos.
 
Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

Sem comentários: