Em primeiro
lugar “Os Verdes” destacam a
importância da realização por iniciativa da AML dos debates temáticos sobre
assuntos de importância para a cidade de Lisboa e para os munícipes.
A 2ª
Circular atravessa a coroa norte da cidade, ligando os nós rodoviários entre a
CRIL e o IC19 ao nó entre a A1, a CRIL e a Ponte Vasco da Gama, distribuindo
trânsito de âmbito regional, sendo por isso uma via frequentemente
congestionada, pois não se pode esquecer que Lisboa recebe, diariamente, mais
de 400 mil veículos.
Daí que o
processo de requalificação em debate pretenda transformá-la numa via urbana
mais estruturante. Acontece que, no futuro, os condutores que sentirem o
aumento de dificuldades no seu atravessamento optarão por outras vias
alternativas, já hoje manifestamente engarrafadas nas horas de ponta. Prevê-se,
assim, que as intervenções mais relevantes tenham, naturalmente, impactes
assinaláveis, não só na rede rodoviária existente, como também nas vias que
atravessam os bairros envolventes, afectando a qualidade de vida dos seus
residentes. E esta é, para “Os Verdes”,
uma situação fulcral que deverá ser prioritariamente acautelada.
Muito se
tem escrito e comentado, na maior parte dos casos por analistas que nem sequer
se deram ao trabalho de ler os estudos apresentados para beneficiar esta via. A
requalificação tem como objectivos genéricos a repavimentação da via, a
reabilitação do seu sistema de drenagem, a melhoria da iluminação pública, a
renovação da sinalização e o controlo da velocidade média, medidas que parecem
consensuais.
Contudo, se
o projecto comporta um conjunto de vantagens óbvias, possui também algumas
debilidades e omissões por ausência de uma visão global da cidade e reflexos
nos municípios limítrofes. Não aprofunda, assim, uma das soluções que “Os Verdes”, e a comunidade em geral, preconizam como
imprescindível: a de uma mobilidade alternativa mais sustentável. Senão
vejamos.
O modelo de
tráfego utilizou unidades de análise com base nas viaturas ligeiras,
calculando, como estimativa, que a um veículo pesado corresponderiam dois
veículos ligeiros. Mas, ficando-se por aqui, poderíamos questionar: um
transporte colectivo corresponderá a quantas viaturas de uso individual? Se
calcularmos que, em média, equivalerá a umas largas dezenas, parece
suficientemente conclusivo que, pela inclusão de transportes colectivos, o
volume de tráfego e os inevitáveis engarrafamentos seriam fácil e
vantajosamente minimizados.
Daqui
resulta uma das soluções chave para “Os Verdes”:
a introdução a curto prazo de sistemas de mobilidade complementares que sejam
alternativos, não apenas ao transporte individual, como à actual carreira da
Carris (a 750) que circula hoje na mesma faixa de rodagem das viaturas, mais
concretamente, a inclusão de um transporte colectivo público em sítio próprio.
Ou seja, um eléctrico rápido ou metro de superfície que sirva as interfaces de
modos de transportes, ligando, por exemplo, o Aeroporto à estação da CP em
Benfica, podendo prever-se o seu posterior prolongamento até Algés.
Quanto a
algumas das deficiências plasmados no projecto, apontamos como mais gravosa a
previsão de eliminação da via ‘em caracol’ de saída da 2ª Circular para o Campo
Grande, no sentido nascente poente, o que obrigará à saída do trânsito junto às
Doroteias, com desvio antes da Churrasqueira para entrada pela Alameda das
Linhas de Torres, circular à esquerda para a Rua Cipriano Dourado junto à interface
de transportes, para aceder de novo ao Campo Grande, literalmente 'entupindo' o
escoamento do trânsito local no Lumiar. É uma proposta que não tem nexo, nem
trará qualquer vantagem relevante.
Outras
omissões, com resultados gravosos, implicam o aumento de tráfego em Telheiras, a
não salvaguarda para parque verde do terreno Maria Droste, a não previsão dos fluxos
oriundos da Estrada de Telheiras e Rua prof. Francisco Gentil, após a
construção do Colégio feminino Mira Rio, que terá uma lotação de cerca de 850
crianças e adolescentes, entupindo ainda mais as entradas e saídas do bairro
junto à Escola Alemã, tudo isto porque o estudo encomendado pela CML nunca
‘olha’ para os lados da 2ª Circular, nem prevê minimizar os impactes sobre as
Freguesias adjacentes, nem a previsão de bolsas de estacionamento junto a
interfaces.
Quanto à
apreciação do relatório e da proposta de deliberação final relativos ao debate
temático, saudamos os intervenientes e os relatores pelo trabalho que desenvolveram
com qualidade, rigor e brevidade. Efectivamente, temos hoje um relatório muito
completo, fiel ao que se passou e que inclui as várias posições e recomendações
que surgiram ao longo do debate.
Genericamente
“Os Verdes” concordam com as
recomendações elaboradas, sendo que as várias propostas que apresentámos estão
aí plasmadas, aguardando agora que depois de aprovadas, a CML as possa estudar
em pormenor para as incluir no projecto e posteriormente as implementar.
Consideramos que os
objectivos do projecto são genericamente positivos mas, se não se tiver
presente as recomendações provenientes do debate público, será apenas mais um
projecto inconsequente, que vai gastar recursos e que não dará respostas às
necessidades de transporte e de mobilidade da população em geral.
Para “Os Verdes” a questão fulcral da requalificação
da 2ª circular passa assim obrigatoriamente pela criação de alternativas reais
e sustentáveis ao uso do transporte individual, algo que está presente no
relatório e nas respectivas recomendações. Razão pela qual voltamos a insistir
na necessidade de haver uma efectiva e eficiente rede de transportes públicos
colectivos, com qualidade, confortáveis, com uma oferta adequada de intervalos
de circulação e a preços socialmente justos. Sem esta medida chave nada irá
mudar.
Finalmente,
a CML terá também toda a vantagem em periodicamente reportar aos munícipes, às Comissões
desta AML e aos municípios confinantes da Área Metropolitana, um balanço sobre
o desenvolvimento dos trabalhos. Se assim for, o projecto poderá obter uma
maior aceitação dos resultados pretendidos.
Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes”
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