Lembrai-vos desta arte,
Penso que tem defesa!
Aparece em toda a parte,
Pois ela é bem portuguesa.
Quis sobretudo ser franco,
Fala aberto o coração!
Trabalho o preto e branco,
Sou um ourives do chão.
[António Mateus (Tony), calceteiro-poeta]
Em 15 de Dezembro de 2006, o
Município de Lisboa homenageou e imortalizou a arte de calceteiro, com a
inauguração do Monumento ao Calceteiro. Na cerimónia estiveram também presentes
os formandos da Escola de Calceteiros de Lisboa.
O monumento, da autoria de
Sérgio Stichini e executado por 2 dezenas de artífices da autarquia, era
composto por duas estátuas em tamanho real feitas em bronze - com figuras de um calceteiro a esculpir a
pedra e um ajudante (batedor) com o maço a calcar a pedra -, e enquadradas por
um quadro de calçada à portuguesa com a barca de São Vicente, em calcário
branco e negro, e os corvos padroeiros da cidade (ver anexo). Situava-se na Rua
da Vitória, entre a Rua da Prata e a Rua dos Douradores, em frente à Igreja de
São Nicolau, local escolhido pela proximidade ao Rossio, onde surgiu em 1849 a
calçada à portuguesa, tal como a conhecemos hoje, com o famoso desenho do mar
largo.
Na altura, a vereação
destacou representar "um símbolo fidedigno da cidade, tal como existe no
primeiro testemunho gráfico, do século XIV", sendo aquela “uma homenagem
da cidade de Lisboa a todos os calceteiros do passado, do presente e do futuro
pelo seu trabalho magnífico de pessoas dedicadas, esforçadas e abnegadas”,
lembrando que o ofício de calceteiro tem levado o nome de Lisboa e de Portugal
a outras cidades do mundo inteiro pela beleza da sua arte, concluindo que "já
não se fazia uma barca destas há 50 anos, a última foi criada no Jardim da
Estrela".
Após a vandalização de uma
das peças - a do batedor -, o conjunto escultórico acabaria por ser recolhido
pelos serviços Lx Alerta do Município, para ser recuperado e, dizia-se,
regressar o mais brevemente possível ao espaço público, mas a sua reposição jamais
se verificou.
Considerando que a CML
investiu nesta arte com a criação, em Novembro de 1986, da Escola de
Calceteiros de Lisboa, que vinha desenvolvido um intenso trabalho de formação
ao longo das últimas décadas, formando calceteiros e auxiliando a preparação de
profissionais em outros países.
Considerando que, além do
reconhecimento público da profissão, o Monumento ao Calceteiro tinha como
objectivos a promoção da calçada à portuguesa e da qualidade artística do
espaço público.
Considerando que o Monumento
ainda continua a ser divulgado em roteiros culturais da cidade, fazendo com que
turistas, infrutiferamente, procurem a sua localização.
Considerando que, ainda hoje,
a calçada à portuguesa se mantém uma realidade em diversos pontos do mundo por
onde os portugueses passaram, de Portugal a Timor, do Brasil a Macau, sendo um
cartão de visita e parte da cultura portuguesa.
Neste sentido,
a Assembleia Municipal de Lisboa delibera, na sequência da presente
proposta dos eleitos do Partido Ecologista “Os Verdes”, recomendar à Câmara
Municipal de Lisboa que:
1 - Reconheça as valências artísticas e
turísticas das obras dos mestres calceteiros, trabalhadores especializados na
colocação da calçada à portuguesa ou mosaico português, na cidade de Lisboa.
2 - Após o devido restauro, seja
encontrado, na capital, um espaço público condigno para acolher o conjunto
escultórico do Monumento ao Calceteiro.
3 - Pondere a elaboração de um guia
turístico actualizado, representando e descrevendo os principais trabalhos
artísticos em calçada à portuguesa na cidade de Lisboa.
4 - Dê conhecimento da presente
deliberação a todos os vereadores da CML e à Escola
de Calceteiros de Lisboa, sita na Quinta Conde dos Arcos.
Assembleia Municipal
de Lisboa, 28
de Junho de 2016
O Grupo Municipal de “Os Verdes”
Frederico Lyra J.
L. Sobreda Antunes
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