03/05/2016

Intervenção na Proposta nº 205/2016 “Reestruturação das instalações do Arquivo Municipal e remodelação dos pisos não residenciais, terraços, envolventes exterior e espaço público das Torres do Alto da Eira”, na Assembleia Municipal de Lisboa de 3 de Maio de 2016


 
Na primeira metade do século XX, o aumento do volume da documentação, bem como a exiguidade dos Paços do Concelho, originaram a divisão física do Arquivo Municipal por diferentes espaços da cidade, tendo sido realizadas volumosas transferências de documentação para um edifício no bairro do Arco do Cego, permanecendo nos Paços do Concelho a documentação mais antiga. Com o incêndio de 1996, seria ainda transferida documentação na sua fase intermédia para um edifício no Alto da Eira e para um outro em Campolide, no Bairro da Liberdade. Hoje, como sabemos, inclui também o espólio Fotográfico na Rua da Palma e a Videoteca em Alcântara.
 
Ora o Município vem reconhecendo que todas estas instalações são deficientes, "com problemas de inundações e falta de circulação de ar". Os técnicos lamentam ainda a actual dispersão dos equipamentos municipais pela cidade, falha essa que representa uma necessidade detectada já nos anos 50 do século passado, pelo que pareceria lógico que seria este o momento ideal para o executivo providenciar uma solução que procedesse à sua concentração num único local.
 
Deveria ainda justificar uma prioritária actualização dos serviços oferecidos aos utilizadores, incluindo a mais cómoda disponibilização em formato digital de algumas das suas colecções, para obviar a que tenham de se deslocar a instalações dispersas. Dispersão espacial essa que vem acarretando custos significativos em termos da própria gestão e dos sempre escassos recursos humanos. Em tempos, chegou-se a falar na recuperação e reabilitação do Convento de Arroios, usado hoje apenas para estacionamento desde que dali saíram os serviços de prevenção da tuberculose.
 
No Alto da Eira, o espaço para o Arquivo juntará, apenas, perto de 80% dos fundos do Arquivo Intermédio, continuando por identificar os espaços para albergar os Arquivos Histórico, o Fotográfico e a Videoteca. Como facilmente se constata, a remodelação da envolvente das Torres do Alto da Eira não é uma solução integral, pois os restantes núcleos continuarão dispersos. Ou seja, muda-se algo, para quase tudo ficar na mesma.
 
Para Os Verdes, continua a não existir uma visão e solução integradas do executivo para a totalidade dos serviços que constituem o Arquivo Municipal de Lisboa. E o mais grave é que este Arquivo, o segundo mais importante do País, é detentor de um acervo documental que se estende desde o século XIII à actualidade.
 
Foi entretanto criado um grupo de trabalho, integrando funcionários dos pelouros da Cultura e do Urbanismo e técnicos externos, para “definir exactamente qual poderia ser o modelo espacial organizacional e de gestão que deveria existir” e que terá já produzido um estudo para, a curto/médio prazo, se encontrar um local único para o Arquivo Municipal.
 
Todavia, desde a Proposta nº 671/2015, de Novembro passado, que estamos na expectativa de nos ser apresentado o seu relatório de avaliação. Porque continua esta Assembleia a desconhecê-lo?
 
No caso presente, a adjudicação desta empreitada ascende a mais de 2,6 milhões € para reestruturação das instalações do Arquivo e remodelação da envolvente das Torres do Alto da Eira, estimando-se que as obras terminem no final de 2017. O que não se entende será o facto de a CML ir despender 2,6 milhões € numa obra provisória.
 
Não deveria ser o seu principal objectivo evitar a actual dispersão espacial de que actualmente o Arquivo padece? Não considera ser esta obra um mero paliativo, uma vez que não vai resolver o problema de fundo que é a dispersão geográfica do Arquivo Municipal por núcleos dispersos na cidade de Lisboa? Ou, afinal, a CML terá entretanto desistido da ideia de agregar a documentação arquivística? Em suma, onde projecta localizar os Arquivos Intermédio e Histórico?

Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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