10/05/2016

Intervenção sobre as Demonstrações Financeiras e Relatório de Gestão de 2015, na Assembleia Municipal de Lisboa de 10 de Maio de 2016


 
Sobre as Demonstrações Financeiras e o Relatório de Gestão de 2015, Os Verdes pretendem destacar os seguintes aspectos:
 
Tal como já tínhamos alertado na altura da discussão do orçamento, previa-se um aumento da carga fiscal, havendo um agravamento dos valores a pagar pelos lisboetas, algo com que Os Verdes não concordaram, por considerarmos que o caminho não podia ser esse.
 
Os documentos que agora discutimos vêm demonstrar aquilo que dissemos. Em 2015 CML arrecadou mais 54,6 milhões de euros com taxas e impostos. Ou seja, no total conseguiu 409 milhões de euros, mais 15,4 % face ao ano de 2014.
 
Diz o sr. Vereador que “está a correr de acordo com o que estava planeado”, e efectivamente está, o problema aqui são as opções do executivo.
 
Os munícipes estão a pagar mais do que estava previsto, por exemplo, um consumidor médio paga mais 10 euros e, em média, cada lisboeta paga mais 80 euros por ano.
 
Os cidadãos são sobrecarregados e não é a devolução do IRS que vai compensar essa sobrecarga, porque está a acontecer exactamente aquilo que dissemos que ia acontecer: as taxas e impostos aumentam para todos e depois, alguns mas não todos, beneficiam da devolução do IRS. Viu-se logo que esta história de dar com uma mão a alguns para, com as duas mãos, tirar a todos, não ia resultar.
 
Sobre isto, era importante perceber se o executivo pondera baixar as taxas ou se vai manter esta opção, porque o que estes documentos nos mostram é que as contas da CML até podem ser as melhores da década, mas não o são para os munícipes.
 
E outro aspecto que temos levantado não só agora mas ao longo dos anos prende-se com os recursos humanos. Pelas contas da autarquia terão saído 155 trabalhadores, de forma definitiva, e previa-se que tivessem entrado 94, sendo que nesses 94 se incluem os 48 bombeiros que ainda não estão em funções. Mais uma vez, continuamos a ter um mapa de pessoal aquém das necessidades do município.
 
E, de facto, a questão que se coloca é: se até agora não se fez mais porque não havia dinheiro, então porque não se faz agora, quando é tão publicitada a disponibilidade financeira? E é nesta inversão de prioridades que se encontra a nossa maior divergência com as opções do executivo.
 
Quanto às alienações de património realizadas no ano de 2015, resultaram num encaixe financeiro de 76,7 milhões de euros, o que também nos suscita sérias reservas.
           
Para Os Verdes é completamente inaceitável que se venda ao desbarato património da Câmara onde funcionam serviços municipais, quando isso traz graves consequências para os trabalhadores a nível das condições de trabalho e para os lisboetas na qualidade da prestação desses serviços.
           
Dois exemplos flagrantes são o caso do caso do Quartel do Colombo e o Complexo de Alcântara. Em ambos os casos o executivo corre com os trabalhadores de locais onde havia condições, para os transferir para espaços com menos condições, para dar lugar à expansão de um hospital privado, no Colombo, e em Alcântara, para construir de raiz um novo hospital privado.
Não se pode aceitar tudo para arrecadar receita!
 
Por outro lado, seria bom vermos o executivo tão activo e diligente a defender os Centros de Saúde e os hospitais públicos na cidade de Lisboa, enfim a lutar pelo Serviço Nacional de Saúde, como defende e apadrinha o Grupo Espírito Santo e o Grupo Mello. Torna-se cada vez mais evidente que são opções, e o executivo tem mostrado claramente de que lado está.
 
Um outro ponto que não pode ser ignorado, é a baixa taxa de execução. Sabemos que o executivo está satisfeito com as contas. E com a taxa de execução? Estão o Sr. Presidente da CML e o Sr. Vereador satisfeitos com a actividade da Câmara e já estavam à espera que assim fosse?
 
A nível da taxa de execução do Plano de Actividades temos alguns dados preocupantes: o Eixo C - Lisboa Inclusiva não chegou aos 58% e o Eixo D – Lisboa Sustentável, nem os 56% atingiu. A “cidade de bairros” ficou-se nos 34,4%, o “espaço público amigável” nos 44,6%, o “direito à habitação” nos 47,5% e o Eixo D5 – Cidade das Energias Renováveis teve uma execução de apenas 23,4%, o que contrasta de forma flagrante com a execução de 99,2% do Eixo E3 – Cidade do Turismo, que apresenta a mais alta taxa de execução.
 
É que ter apenas as contas equilibradas não chega. É preciso que isso se reflicta na cidade e nas pessoas. Não chega cabimentar determinada verba para fazer algo que não se faz, ou dar prioridade apenas àquilo que se entende, indo contra as necessidades das pessoas. E com estas prioridades, é fácil perceber quem fica a perder.
 
Podemos também constatar, da análise dos documentos agora em discussão, que houve um aumento da verba para a aquisição de serviços, ultrapassando os 130 milhões de euros, mais 36% face ao ano de 2014. Ou seja, não há mais trabalhadores da Câmara, mas há mais serviços contratados a entidades externas. Estamos, mais uma vez, perante a aposta na externalização que os Verdes contestam.
 
Por fim, terminar dizendo que não temos nada a apontar do ponto de vista técnico. Apesar das reservas ainda referenciadas no parecer do Revisor do Oficial de Contas, reconhecemos a melhoria que houve, contudo, sobre o carácter político das contas de 2015, mantemos as mesmas reservas e as mesmas divergências, razão pela qual votaremos em conformidade com o que defendemos.



Cláudia Madeira
 
Grupo Municipal de Os Verdes

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