10/04/2008

Crime diz a ONU

A ideia parecia a galinha dos ovos de ouro: produzir combustível a partir de milho, soja, cana de açúcar ou trigo. As emissões, dizia-se, ficavam no zero (o dióxido de carbono emitido seria o mesmo que tinha sido sugado pelos cereais e plantas enquanto cresciam).
Tudo fazia sentido. E a U.E. rendeu-se aos biocombustíveis e inclui-os no seu plano de corte de emissões de gases com efeito de estufa – até 2010, 10% do fuel usado nos transportes deveria ter origem em produtos agrícolas. E, por seu turno, o Governo português, entusiasmado, prometeu esses mesmos 10% para daqui a dois anos.
Pura ilusão. A tendência para o politicamente correcto poderá agora transformar-se num trambolhão ecológico. Vários estudos recentes concluem que o agrofuel emite mais gases do que os combustíveis tradicionais, sobretudo por causa da desflorestação (responsável por 20% do total de emissões mundiais (…)


Mas o efeito mais perverso dos alegados “combustíveis verdes” ultrapassa o aquecimento global. As Nações Unidas estimam que 5 milhões de povos indígenas das florestas percam as suas terras, empurrados pela necessidade de aumentar as áreas de cultivo.

E o preço dos cereais, já hoje em rápido crescimento, poderá atingir valores incomportáveis para os países em desenvolvimento. Este aumento relacionado com os biocombustíveis levou dois investigadores americanos a rever as suas previsões sobre a fome no mundo, em 2025: a população em risco deverá subir para 1,2 milhões.

A confirmar-se, não admira que um alto responsável das Nações Unidas tenha apelidado o biofeul de “crime contra a Humanidade”.


Ver Visão 2008-04-10, p. 134

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