Estudo alerta para o perigo de que se está a gastar de mais em todo o mundo. Sobre Portugal, peritos avisam que seriam precisos quatro países iguais ao nosso para não faltarem recursos.
Imagine que tem um frigorífico em casa com comida para uma semana. Só que em vez de ir poupando para se alimentar nos sete dias, come tudo nos primeiros três. Nos restantes vai ficar cheio de fome e arrepender-se do que fez. Agora é só trocar "comida" por "recursos" e "frigorífico" por "planeta Terra" e chegará à conclusão do mais recente estudo da Global Footprint Network (GFN): estamos a gastar mais recursos do que aqueles que temos. Trocando por números, precisaríamos de um planeta e meio para chegar ao fim do ano "sem fome", indicam os investigadores.
"Estamos a usar mais recursos do que aqueles que temos e isto não vai durar muito tempo", contou ao DN Willy De Backer, da GFN, que todos os anos calcula a pegada ecológica de mais de 100 países e também de toda a humanidade em conjunto. A pegada ecológica é um conceito que se tornou uma ferramenta de análise ambiental. "Os países já lhe dão uma importância ao nível do produto interno bruto", acrescenta o belga da GFN.
Os cálculos da associação incluem, obviamente, Portugal. Segundo a GFN, serão precisos quatro países iguais ao nosso para que nunca nos faltem recursos para consumir. Isto num país que tem como mais-valias apenas as pastagens e florestas, segundo o estudo.
Este problema não passa ao lado dos ecologistas portugue- ses, que se mostram preocupa- dos pelo rumo do nosso planeta. "Este ultrapassar da pegada ecológica já acontece desde o fim dos anos 80. O planeta não consegue repor recursos e absorver os resíduos", explica Hélder Spínola, da associação ambientalista Quercus.
O estudo afirma: "Os dados mostram que consumimos recursos naturais e geramos resíduos, como o CO2, a um ritmo que é 44 por cento mais rápido do que a natureza demora a regenerar e absorver". Dito de outro modo, a Terra precisa de 18 meses para recuperar-se do esforço que lhe exigimos todos os anos. Segundo o relatório, "as urgentes ameaças que enfrentamos hoje, como as alterações climáticas, mas também a perda de biodiversidade, a diminuição das florestas, o esgotamento dos stocks pesqueiros e a perda de recursos hídricos, são sintomas desta alarmante tendência" de consumo em excesso.
"Muitas pessoas pensam que não precisam de se preocupar porque quando os recursos acabarem elas já cá não estão. Mas é preciso lembrar que não são só os recurso das gerações futuras que estamos a consumir. São já os desta geração", alerta o ecologista português.
Os piores casos apontados no estudo são os Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos da América. São estes os campeões do consumo. Fazendo as contas, se todos no mundo consumissem como estes dois países, seriam preciso cinco planetas Terra para não haver défice de recursos. Caso o exemplo viesse da Europa, seriam precisos "apenas" dois planetas e meio.
Os autores lembram por fim que ao mesmo tempo que cresce a pressão sobre os ecossistemas, a capacidade que estes têm para satisfazer as nossas necessidades mantém-se igual ou decresce. Algo fácil de entender: as florestas já cortadas ou os stocks pesqueiros esgotados não podem ser reutilizados no ano seguinte.
Fonte: Diário Notícias por Bruno Abreu
1 comentário:
Soluções: é preciso controlar a população, como a China está a fazer, e acabar com o capitalismo e a sua sociedade de consumo - simples de dizer mas difícil de se fazer devido à globalização capitalista...
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