16/12/2014

Intervenção da Deputada Municipal do PEV Cláudia Madeira sobre Orçamento da CML para 2015, GOP, Mapa de Pessoal e Taxas


Assembleia Municipal de Lisboa de 16 de Dezembro de 2014

Sobre o orçamento da Câmara Municipal de Lisboa para 2015 e os restantes documentos que compõem e complementam esta proposta, Os Verdes gostariam de salientar o seguinte:
Em primeiro lugar, é preciso dizer-se que este orçamento demorou a se apresentado talvez devido aos avanços e recuos da Câmara em saber o que fazer com as taxas que decidiu criar até descobrir como haveria de ir buscar mais dinheiro, do que propriamente à análise do Orçamento de Estado.
Este orçamento, no valor de 698,5 milhões de euros, apresenta como objectivos reduzir a despesa do município, reduzir a dívida alienando activos não estratégicos, autonomizar o financiamento da Protecção Civil, entre outros. E o executivo afirma que este orçamento contempla uma opção política que assegura a sustentabilidade estrutural das finanças do município de Lisboa, readequando a estrutura de receita à nova realidade socioeconómica.
Ora, Os Verdes têm alguma dificuldade em encontrar esta intenção no orçamento pois o que constatamos é um aumento do encargo fiscal para os munícipes face ao ano passado, o qual ultrapassa os 50 milhões de euros, ao mesmo tempo que se diminui o investimento em sectores que são absolutamente prioritários para a cidade, como a área social, a reabilitação e o espaço público.
Apesar de o executivo continuar a dizer que consegue manter tudo na mesma, a verdade é que há uma tributação acrescida sobre os lisboetas. Entre umas taxas eliminadas e outras criadas, contas feitas, do ponto de vista geral, há um aumento efectivo das receitas proveniente das taxas cobradas aos munícipes.
Para esse aumento contribui a criação da Taxa Municipal de Protecção Civil, em que se prevê um aumento de 18,9 milhões de euros e de 7 milhões resultante da criação da Taxa Municipal Turística.
Podemos então dizer que os lisboetas poderão não pagar mais IMI, mas vão de certeza ter que abrir os cordões à bolsa no que diz respeito a taxas, pois, em média, terão de pagar mais por mês com resíduos e saneamento, a que acresce a nova Taxa Municipal de Protecção Civil, que substitui a taxa de conservação de esgotos, a qual deverá render 18,9 milhões de euros, em vez dos 16,9 milhões da actual taxa.
Os Verdes compreendem que a Protecção Civil precisa de investimento, mas não desta forma. Ou seja, não deveriam ser os munícipes a ser chamados a contribuir para algo que se enquadra nas competências e obrigações da Câmara Municipal, porque não basta o executivo reconhecer na teoria o bom trabalho prestado pelos diversos agentes de protecção civil. É preciso não apenas investir, como facultar as condições de trabalho adequadas!
Sobre a Taxa Turística criada para suportar um Fundo de Desenvolvimento Turístico, o que nos separa da proposta do executivo, são questões de princípio. Por exemplo, não será injusto que os emigrantes, alguns dos quais até enviam remessas das suas poupanças para Portugal, tenham que pagar esta taxa?
Este orçamento refere valores muito positivos para as famílias, pela manutenção dos elevados benefícios fiscais atribuídos (é indicado o valor de 176,5 milhões de euros relativamente ao IMI e IRS) e pelo facto de as alterações e novas taxas criadas não apresentarem um impacto substancial no benefício anual apurado.
Sobre o IRS, é preciso esclarecer que a Câmara se propõe a prescindir de metade da sua participação variável neste imposto, devolvendo-o aos munícipes, mas esta medida acaba por configurar uma distorção na progressividade deste imposto, pois beneficia apenas quem tiver os escalões mais elevados, ferindo, assim, o princípio da capacidade contributiva.
Ou seja, se a Câmara beneficia apenas as classes económicas com rendimentos mais elevados, e quem tem rendimentos menores nunca chega a ver essa devolução, como se poderá dizer que estamos perante elevados benefícios fiscais? Afinal, aquilo que parece é e é-o, previsivelmente, só para alguns.
Existe ou não também uma diminuição do investimento na cidade de Lisboa, quando a CML quer, por um lado, obrigar as pessoas a pagar mais, mas, por outro, acha que não tem que investir no bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos?
um aumento do valor afecto ao Plano de Actividades, que decorre essencialmente das transferências para as juntas de freguesia, mas não por haver mais investimento ou iniciativas por parte da autarquia.
Exemplo claro disso são as diminuições significativas de afectação de verbas no Plano de Actividades, por exemplo no Eixo C - Lisboa Inclusiva”, nos direitos sociais com uma redução de mais de 50%, e nos direitos à saúde, desporto e bem-estar na casa dos 40%. No “Eixo D - Lisboa Sustentável” também se verifica uma diminuição, aliás, a maior diminuição verifica-se na “cidade reabilitada e reabitada”, no “espaço público amigável” e na “cidade acessível”. Acontecerá, por exemplo, que o Plano de Eficiência Energética será para esquecer e para pôr na gaveta porque não irá haver verbas disponíveis?
Preocupa-nos que este orçamento, à semelhança de anteriores, se fique por baixas execuções e preocupa-nos, acima de tudo, que este orçamento reflicta uma Câmara esvaziada das suas competências e que, por este andar, se prevê venha a definhar ainda mais.
Curiosamente, dos cinco eixos, há apenas um deles que tem um aumento considerável (de 43% para 87%), que é o “Eixo A – Lisboa Mais Próxima”, mais concretamente a “Governação próxima e participada. Ou seja, todos os eixos descem, uns mais que outros, à excepção deste. Porém, que medidas em concreto propõe a Câmara para este Eixo?
Perante este facto, lançamos um desafio ao executivo para que explique a esta Assembleia e a todos os lisboetas, o que é que deste orçamento, concretamente, vai melhorar as suas vidas. Como vai conseguir fazer de Lisboa a cidade a que se propõe nos objectivos e nos eixos que acompanham este orçamento para 2015? Como vai revitalizar esta cidade para os munícipes? Aliás, como vai sequer conseguir concretizar as próprias acções a que se propôs e que apresentou, inclusive, como bandeira eleitoral?
Sr. Presidente, Srªas e Srs. Vereadores, perguntem-se se Lisboa está a corresponder às necessidades das pessoas! Para Os Verdes mais parece que os objectivos apresentados têm vindo a pular de orçamento em orçamento, mas não passam disso.
Quanto ao Mapa de Pessoal para 2015, a CML começa por entrar em contradição quando considera que ele “é uma mera previsão de postos de trabalho, (que) não corresponde necessariamente ao número de trabalhadores ao serviço”, como se afirma na p. 9. Mas, assim sendo, dificilmente se pode levar a cabo uma “consequente avaliação das possibilidades reais de recrutamento sobre o mercado de trabalho, programando a abertura dos procedimentos concursais necessários nas áreas operacionais mais deficitárias”. Esclareça-nos então, sr, vereador, se a futura abertura de concursos passará a ser conduzida por navegação à vista, de acordo com necessidades pontuais, transitórias ou mesmo imprevistas.
De momento, o que se sabe é que existem 10.261 postos de trabalho previstos, ou seja, menos 166 que em 2014 e menos 1.249 quando comparados com os números de 2010. E de acordo com o quadro nº 2, da p. 11, em relação aos postos de trabalho ocupados, a CML estima um decréscimo de 20,8%, o que representa um número de tal modo significativo, que até parece que a Direcção Municipal de Recursos Humanos pretende fazer concorrência às medidas abolicionistas da srª Ministra das Finanças.
Depois, a vereação até promete promover a criação de postos de trabalho por procedimentos concursais a abrir em 2015, para áreas como as de assistente operacional, de condutores de máquinas pesadas e veículos especiais, de montadores electricista, de calceteiros e até de limpa colectores. Mas como de promessas está o município cheio, veremos se não passarão de meras intenções. A ser verdade já ter sido feito esse estudo previsional, diga-nos muito concretamente, sr. vereador, qual o número de lugares que vai, por exemplo, abrir para calceteiros? E quantos mais para preencher a carreira de jardineiros?
Esclareça-nos de vez, como Os Verdes já aqui tantas vezes questionaram nesta Assembleia, se vai ou não o executivo reactivar as Escolas de Jardineiros e Calceteiros da Quinta de Conde de Arcos? Se sim, qual a calendarização prevista para o reinício das acções de formação? Está ou não o executivo suficientemente informado para nos responder cabalmente a esta questão? Ou confirma-se, mais uma vez, que à vereação até lhe agrada fazer cruzeiro por navegação à bolina até ao fim do mandato, optando umas vezes por uns quantos recibos verdes, e outras pela insistência na externalização de serviços?
Como pretende colmatar as necessidades sentidas nas oficinas do Departamento de Reparação e Manutenção Mecânica nos Olivais, onde a urgência em contratar pessoal é por demais evidente? E como tenciona a CML obviar às consequências do aumento dos processos de aposentação, que poderão provocar a ruptura de alguns serviços municipais, caso não esteja prevista a entrada de novos trabalhadores? Tem a vereação consultado o sindicato para que atempadamente se pronuncie sobre o Mapa de Pessoal, dando assim cumprimento ao direito de participação sindical?
É expectável que, cedo ou tarde, o sr. vereador até venha a argumentar com as restrições do Orçamento do Estado para a abertura de novos concursos. Mas já não nos espantará que um ou vários vereadores venham a apresentar novos pedidos ou propostas para contratação de serviços a privados.
Em suma, perante a estrutura do orçamento que nos é apresentado, concluímos que não podemos concordar com estas opções e com a linha que se pretende seguir, pois contraria as propostas que temos vindo a apresentar e defendido ao longo dos tempos nesta Assembleia.
O que os munícipes facilmente poderão constatar, isso sim, é que esta maioria pretende descartar e reduzir cada vez mais os serviços públicos que a Câmara presta ou devia prestar à população.
O orçamento para 2015, que deveria ser um documento importante e estratégico, que conduzisse a cidade ao desenvolvimento, à sustentabilidade, à melhoria da qualidade de vida de todos os lisboetas, está carregado de opções dúbias, senão mesmo erradas. Não nos parece, portanto, que este orçamento traduza as preocupações dos lisboetas e da população em geral.
Mais uma vez, esteve na mão do executivo do PS elaborar um orçamento que fosse ao encontro do que Lisboa e as pessoas precisam, e mais uma vez estamos perante uma oportunidade desperdiçada, indo apenas ao encontro não das necessidades de todos, mas dos interesses só de alguns, o que é lamentável.

Cláudia Madeira
Grupo Municipal de “Os Verdes

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