09/12/2014

Intervenção do Deputado Municipal do PEV Sobreda Antunes, no Debate de actualidade sobre transportes


Assembleia Municipal de Lisboa de 9 de Dezembro de 2014

O Governo vem pretendendo abrir à iniciativa privada a exploração dos serviços públicos de transporte de passageiros prestados actualmente por empresas na esfera do Estado, ainda no decurso do Memorando de Entendimento assinado com a ‘troika’.
Tal acontece logo agora que estas empresas se tornaram ainda mais apetecíveis para os privados, pois, como o próprio Secretário de Estado dos Transportes realçou, as empresas de transporte público tiveram, pelo segundo ano consecutivo, um EBITDA (ou seja, ganhos antes de juros, impostos e amortizações) positivo. Não há dúvida que o Governo se prepara para privatizar ‘bife do lombo’. E começa a temperá-lo por intermédio do D.-Lei 161/2014, de 29/10, com a concentração das administrações. A questão é: estará o PS na CML disponível para rejeitar as medidas ‘tróiquistas’ do Governo?
Com efeito, a CML apresentou recentemente (19/11) a Proposta nº 653/2014 tendente à assunção pelo Município de Lisboa da gestão da Carris e do Metropolitano mediante contrato interadministrativo de parceria pública a celebrar com o Estado. De imediato os pressupostos desta Proposta foram rejeitados por todos os partidos da oposição camarária.
A gestão municipalizada dos serviços de transporte da Carris e do Metro, que o PS na CML pretende levar a cabo de mãos dadas com o Governo, tem por base os seguintes pressupostos:
- assunção pelo Estado da dívida histórica da Carris e do Metro (incluindo os encargos decorrentes do leasing do material circulante);
- acordo com o Estado sobre um plano de investimentos estruturais para o período da parceria (nomeadamente no caso do Metro);
- acordo com o Estado quanto a compensações sociais (por ex. em matéria de passes sociais);
- acordo social de médio prazo em ambas as empresas;
- exclusão do perímetro da parceria de algumas das participadas, quer da Carris (por ex. a Carristur, dependente de uma solução para a questão da situação contratual de motoristas ao serviço da Carris), quer do Metro (por ex. a Ferconsult), ou seja, traduza-se esta esotérica expressão por palavras que os utentes entendam: a privatização poderá começar pela lucrativa Carristur e pela Ferconsult.
Na reunião de CML do passado dia 15 de Abril, o executivo ainda defendeu, na Proposta nº 164/2014, a titularidade das empresas Carris e Metropolitano de Lisboa, pela salvaguardada da unidade da prestação do serviço público e excluindo a concessão a privados, parcial ou total da exploração de ambas as empresas. Preocupantemente, não é o que parece acontecer hoje, passados 8 escassos meses.
O principal objectivo do Governo é a anunciada abertura à iniciativa privada, para reduzir os encargos do Estado, pondo assim em causa um serviço público fulcral, como o de transporte colectivo de passageiros. O objectivo do PS na CML é uma municipalização unilateral, excluindo os outros municípios da Área Metropolitana de Lisboa. Mas estas duas não são opções únicas.
Com efeito, os transportes podem e devem manter-se na esfera pública estatal. Pelo que qualquer negociação tendente a transferir para as Câmaras a gestão pública das duas empresas deve preservar integralmente a sua unidade operacional, manter as condições que certifiquem a qualidade de um serviço público, garantindo os direitos e os postos de trabalho nas empresas e assegurando condições de financiamento que não onerem as populações e os próprios municípios.
Mais: para “Os Verdes”, falta afinal uma estratégia pública que estimule e aumente a utilização dos transportes colectivos; falta levar a cabo medidas para que o Estado e as autarquias servidas por estas empresas optimizem o sistema de transportes, sob a égide de uma Autoridade com atribuições claras na definição de redes, serviços e tarifários; falta assumir um modelo de financiamento que não se restrinja às receitas da bilhética; falta reduzir e unificar o número de títulos de transporte disponível e definir um tarifário único e coerente para a Área Metropolitana de Lisboa, com a sustentabilidade das empresas a garantir um excedente que seja reinvestido internamente nas suas redes, factor para o qual a perspectiva imediatista do lucro empresarial jamais conseguirá contribuir.
Em conclusão, “Os Verdes” reforçam o princípio de a gestão das empresas dever manter-se na esfera pública, excluindo a concessão a privados, com a sua coordenação a passar pela Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa, onde todos os municípios servidos por aquelas duas empresas terão de ter sempre uma palavra a dizer sobre os direitos dos seus utentes de transportes públicos.
Urge, srª presidente, agendar para o plenário as conclusões do debate específico sobre transportes que mantivemos nesta Assembleia.

J. L. Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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