24/06/2014

Intervenção na Assembleia Municipal de Lisboa de 24 de Junho de 2014


Petição nº 5:
A presente petição surge no contexto da anunciada transferência da Biblioteca da Penha de França, das instalações onde funciona desde 1964, uma antiga casa senhorial do século XVI situada no cruzamento entre a Calçada do Poço dos Mouros e a Travessa do Calado, para uma outra zona, numa loja de um edifício de habitação na Rua Francisco Pedro Curado, entre as avenidas General Roçadas e Mouzinho de Albuquerque.
A biblioteca foi a primeira das bibliotecas municipais de Lisboa a ser remodelada e informatizada, já em 1992, tendo sido objecto de nova requalificação em 2009. Dispõe de cerca de 25 mil documentos, presta serviços de consulta local e empréstimo domiciliário, apoio à investigação, espaço infanto-juvenil próprio autónomo da leitura geral, e actividades de promoção da leitura e das literacias, facultando o acesso à comunicação social e à Internet, entre outros, a diversos desempregados.
Segundo o “Programa de avaliação de desempenho - PAD BLX, de 03-06-2014, a Biblioteca serve prioritariamente as Freguesias da Penha de França, Areeiro, São Vicente e Arroios. Por isso, e de acordo com a Proposta nº 4/2014, este equipamento foi considerado estruturante, ficando na dependência da CML.
A Proposta nº 249/2012, que aprovou o “Programa Estratégico Biblioteca XXI - Proposta de requalificação da Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa”, indica que a Biblioteca da Penha de França ocupa hoje 230 m2, prevendo que venha a ser substituída por uma outra com uma área de 460 m2. No entanto, a transferência agora proposta é afinal para um espaço com apenas 257 m2, com recurso a um eventual acesso adicional a um pátio pertencente ao condomínio do prédio. Recorde-se ainda que, entretanto, foi desactivada na área da Freguesia uma Sala de Leitura existente no edifício da antiga Junta de Freguesia de São João.
O motivo apresentado deve-se ao argumento de a Junta precisar de mais espaço para o seu funcionamento. No entanto, estranha-se que apenas tenha sido equacionada a transferência da biblioteca, mas, que se saiba, não o foi a mudança de instalações da própria Junta para uma zona mais central da Freguesia, como seria óbvio.
Recorde-se que no passado mês de Março, a Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD) se tinha reunido com a srª vereadora da Cultura, no seguimento da decisão de transferência de algumas Bibliotecas para as Juntas de Freguesia, mas, estranhamente, nada lhe foi adiantado quanto a esta decisão de mudança, decisão que afinal se encontrava já entretanto tomada.
A BAD estranha esta transferência tendo em conta que em 2008-2009 a Biblioteca da Penha de França sofreu obras de beneficiação de quase 18.500 euros e que agora o Município terá de despender mais cerca de 18.000 euros para adaptação das novas instalações, antes da mudança para a referida área de 460 m2, prevista no Programa Estratégico Biblioteca XXI.
Assim, para a BAD, esta decisão vem novamente comprovar as suas preocupações quanto ao funcionamento da Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa, já explanadas aquando da recente decisão de transferência de 7 bibliotecas municipais para as Juntas de Freguesia e, no caso da Penha de França, quanto ao destino da colecção constituída por cerca de 25 mil documentos.
A BAD concluiu que, para além da partilha de preocupações quanto ao futuro deste equipamento cultural, poderá vir a estar em causa a própria salvaguarda da manutenção de espaços, colecções, fundos documentais, designadamente o infanto-juvenil, serviços e recursos humanos e materiais. Pergunta-se: confirma o executivo que esta colecção vai ser desmembrada?
Quanto às acessibilidades, o Relatório da Petição nº 5 omite que o edifício da biblioteca dispõe de elevador interno que serve os dois pisos do Palácio Diogo Cão, embora sem acesso a cadeira de rodas, bem como possui uma porta para saídas ocasionais ou de emergência, no piso inferior. Recorde-se que, neste equipamento, desempenha funções um funcionário com mobilidade reduzida que utiliza o elevador quando necessário.
No mesmo Relatório, em 2.1 d), é referida a “distância dos transportes públicos”, o que não corresponde à realidade, pois existe paragem da Carris exactamente à porta do edifício, ao contrário do que acontecerá no futuro espaço previsto. Indica ainda em 2.2 a) a “possibilidade de expansão/utilização de 600 m2” após a mudança, omitindo que esse espaço exterior, situado num terraço, depende afinal do condomínio do prédio, tendo o seu uso, necessariamente, de ser alvo de negociação.
Também na p. 4 deste Relatório se refere que se prevê que a Biblioteca venha a ser aumentada para “uma equipa de 5 funcionários”, o que não é de todo verdade. Com efeito, até há pouco tempo a biblioteca dispunha realmente de 8 técnicos, vendo-se actualmente reduzida a apenas 5, pelo que não se prevê qualquer acréscimo do número de técnicos BAD. Também na mesma p. 4, se refere que “o horário será das 10h às 18h”, quando, de facto, o horário acabou de ser reduzido de uma hora diária de abertura ao público.
Perante a incongruência dos dados do Relatório, estranha-se que a CPCEJD não tenha ouvido, como era sua obrigação, nem os peticionários, nem os funcionários da Biblioteca. Srª, Presidente, este processo está a ser apressadamente mal conduzido.
Tendo em conta a escassez de oferta de serviços culturais na área das Freguesias da Penha de França, Areeiro, São Vicente e Arroios, “Os Verdes” são de parecer ser vantajosa a manutenção de, no mínimo e para já, 2 polos da Biblioteca da Penha de França até à construção prevista no Programa Estratégico Biblioteca XXI.
As conclusões do Relatório propõem, e bem, que “se mantenha um polo da biblioteca” em funcionamento no Palácio Diogo Cão, mas, e apenas, para entrega e recepção de documentos. Ora, tendo em consideração a tipologia local de consulta especializada que predomina nas actuais instalações, para além da mudança parcial dos restantes serviços biblioteconómicos, o GM do PEV defende ser de todo o interesse para a comunidade do universo de utilizadores que sejam também salvaguardados, no actual espaço, essa consulta e um gabinete ou alvéolos de leitura.
Questionamos ainda a CML sobre se esta mudança e a despesa que ela implica são temporárias e se mantém ou não o seu projecto de construção previsto no “Programa Estratégico Biblioteca XXI” para uma área de 460 m2? Ou será, srª vereadora, que este programa já foi definitivamente relegado para as calendas gregas?
Finalmente, considerando que a CML não apresentou à 7ª Comissão qualquer programa ou projecto, sejam eles funcional ou de execução, nem sequer uma planta, mesmo que provisória, sobre a redistribuição da colecção, a arrumação dos cerca de 25 mil documentos, espaços funcionais, para grupos de utilizadores e serviços técnicos para os funcionários, o processo referente à presente Petição nº 5 não deve de imediato ser encerrado, devendo ser reavaliado aquando da apresentação dos referidos documentos técnicos pela Divisão da Rede de Bibliotecas.
É este também o sentimento dos peticionários que “Os Verdes” daqui querem mais uma vez saudar.

Sobreda Antunes

Grupo Municipal de “Os Verdes

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