26/05/2015

Intervenção sobre os Relatórios das 4 CPCJ de 2015


Assembleia Municipal de Lisboa de 26 de Maio de 2015

Já desde a Declaração Universal dos Direitos da Criança (de 1959) e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (de 20 de Novembro de 1989) que são considerados um amplo conjunto de direitos fundamentais, que englobam as obrigações dos pais, da sociedade e do Estado em relação à criança e adolescente. Esta Convenção não constitui apenas uma declaração de princípios gerais, pois, quando ratificada, representa um vínculo jurídico para os Estados que a ela aderem. E Portugal ratificou esta Convenção em 21 de Setembro de 1990.
Estes direitos e as políticas de protecção da criança radicam em duas vertentes: nas desigualdades no contexto económico, social e familiar em que se inserem essas mesmas crianças e nos meios e recursos indispensáveis para se cumprir os desígnios daqueles princípios internacionais e constitucionais.
No entanto, um conjunto de investigadoras do ICS-UL apresentou no final de Janeiro (27/01/2015) um estudo sociológico sobre os “Impactos da Crise nas Crianças Portuguesas”, tendo observado, em síntese, que entre 2010 e 2013 houve uma redução drástica no apoio económico do Estado às famílias, deixando mais vulneráveis os agregados familiares, designadamente, aqueles com crianças a seu cargo, traduzindo-se num indesmentível agravamento da exclusão social em Portugal e da pobreza dita infantil.
Também no recente “Relatório da crise da Cáritas Europa 2015” sobre «O aumento da pobreza e das desigualdades», divulgado no mês passado, veio aclarar a que situação conduziu a ausência de medidas do Governo para o reforço efectivo da protecção das crianças no contexto familiar e institucional: é que há famílias que estão a cortar em bens essenciais, que muitas vezes inclui a própria alimentação, e como essas famílias não conseguem fazer face à situação de crise, o grupo mais afectado é, inevitavelmente, o das crianças.
Ao Governo é exigido entre outras medidas, o fortalecimento dos sistemas de protecção social, garantias efectivas de um rendimento mínimo para todos e a definição de uma estratégia Nacional de Combate à Pobreza e Exclusão Social, com melhor apoio às famílias e seus filhos. Porém, onde estão as medidas de protecção de crianças em meios familiares economicamente débeis, quando uma das situações reportada nos relatórios das CPCJ são as de desigualdade social que representam um dos factores de instabilidade social e familiar, pondo em causa os “direitos das crianças”, devido à falta de acesso a rendimentos, protecção e de serviços de apoio adequados.
E o que tem promovido o Governo? No caso concreto das CPCJ, o Instituto da Segurança Social (ISS) retirou centenas dos seus técnicos da composição dessas Comissões, pondo em risco não apenas as suas atribuições e funcionamento, como a sua missão de protecção das crianças e jovens em risco. Relembre-se que, só em 2012, foram objecto de acompanhamento pelas CPCJ cerca de 69 mil crianças e suas famílias, sendo que cerca de 90% das medidas de protecção aplicadas foram-no em ambiente familiar, junto dos pais ou de outro familiar.
E embora o sr. Secretário de Estado (Agostinho Branquinho) tenha garantido num debate (que teve lugar na Assembleia da República em 2014) que “nesta matéria nenhuma CPCJ, nenhum organismo desse género (…) sofrerá qualquer diminuição” de técnicos. E que “não será pela Segurança Social que nenhum destes organismos deixará (…) de prestar o seu serviço”, o que se verificou foi, ainda em 2014, o despedimento de 630 trabalhadores do Instituto da Segurança Social, acabando as CPCJ por ficar muito mais fragilizadas na sua constituição e na resposta a apoios às crianças, a que se somou o aumento do número de processos em constituição e análise.
Atentos a este grave desenlace, alguns Grupos Parlamentares apresentaram em plenário Projectos de Lei e de Resolução que apontavam para a definição de um quadro financeiro com verbas oriundas do Orçamento de Estado, para a reafectação daqueles técnicos, para o reforço da cooperação entre Ministérios, em suma, para a disponibilização dos meios e recursos mínimos indispensáveis ao pleno funcionamento das CPCJ, iniciativas que seriam chumbadas pela maioria PSD/CDS, demonstrando, o quão irrelevante constituem para si as políticas de protecção infantil e juvenil e qual o seu verdadeiro sentido de classe: “os pobres que paguem a crise”.
Por tudo isto, “Os Verdes” insistem no imediato reforço dos meios e recursos necessários ao normal funcionamento das CPCJ. Assim o Governo tivesse o bom senso de recuar nas suas posições anti-sociais. Porque às crianças não se pode dizer “é para amanhã”.

J. L. Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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