26/05/2015

Intervenção do Deputado Municipal do PEV, Sobreda Antunes, na Declaração Política em defesa dos serviços públicos


Assembleia Municipal de Lisboa, 26 de Maio de 2015

Sectores sociais do Estado, como a Educação, o Serviço Nacional de Saúde ou o sistema público da Solidariedade Social, verdadeiras conquistas do 25 de Abril, são áreas onde as desigualdades mais tendem hoje a avolumar-se, visto estarem a ser postas em causa por políticas de austeridade que procuram não apenas limitar, como anular esse princípio da universalidade dos direitos sociais.
Entre 2012 e 2015, as áreas da educação e ensino superior, a saúde e as prestações sociais foram reduzidas em mais de 2 mil milhões de €. Estas e outras medidas deixaram sequelas em vários sectores estratégicos da economia nacional, com particular incidência em sectores públicos plasmados na Constituição da República Portuguesa.
Nos últimos 3 anos, estes cortes nas funções sociais do Estado refletiram-se na crescente degradação dos serviços públicos prestados à população. Por exemplo, como admitiu o próprio Ministro da Saúde, mais de um milhão de portugueses continua sem médico de família, com particular incidência na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. As estatísticas provam que as verbas para a educação têm o valor mais baixo do PIB, ficando a cerca de metade das recomendações internacionais, sendo já Portugal um dos últimos países do ranking da OCDE. A falta de auxiliares de educação nas escolas e o recurso a desempregados nos centros de emprego, para contratos precários, têm sido ciclicamente contestados. Os trabalhadores da Função Pública viram o seu horário de trabalho semanal aumentar de 35 para 40 horas, mantendo a mesma remuneração com cortes salariais. Por falta de funcionários noutros serviços, a obtenção de documentos, como a renovação de uma simples carta de condução, poderá demorar cerca de um ano. O Instituto da Solidariedade Social retira técnicos das Comissões de Crianças e Jovens. Os aposentados vêem de novo as suas reformas em risco. E os exemplos da crescente degradação dos serviços públicos podiam multiplicar-se.
Os Verdes” constatam que medidas como estas representam consequências dramáticas para a generalidade dos portugueses, nomeadamente para as famílias de baixos rendimentos ou que os perderam por terem ficado sem emprego, tendo afectado também, e de uma forma profunda, a prestação de serviços públicos aos cidadãos.
Acontece que os serviços públicos não funcionam sem trabalhadores. Mas não se pense que os cortes na despesa pública, impostos pela "troika" e aplicados pelo actual Governo, foram-no apenas nas despesas com pessoal. Eles também atingiram o investimento em inúmeras áreas sociais, agravando as desigualdades no acesso à educação e à saúde, e atirando milhares e milhares de portugueses para a miséria e para a exclusão social, contribuindo para agravar as condições de funcionamento e da prestação desses serviços à população.
É à custa destes sacrifícios que o Governo e os media, ofuscados pela ideologia dominante e submissos a poderes estrangeiros ou, para empregar as palavras do ministro das Finanças grego, "mais alemães que os próprios alemães", ainda dizem que a "austeridade resulta", ou que os portugueses “aguentam… aguentam". Perante este ataque à dignidade e à vida dos portugueses e ao País, por um lado, os trabalhadores lutam por melhores condições de trabalho, por outro, os utentes procuram defender a prestação de serviços públicos de proximidade e de qualidade.
Finalmente, interessa lembrar que esta calculista e premeditada destruição de sectores estratégicos do Estado e dos serviços públicos em Portugal abre e facilita a sua crescente privatização, assistindo-se ao denominado "negócio do século XXI", segundo os próprios representantes dos grupos económicos, mas que comporta consequências nefastas para um futuro sustentável da qualidade de vida dos portugueses.
O Estado tem a obrigação, perante os cidadãos, de investir em políticas públicas que garantam o pleno emprego e os padrões mínimos de qualidade de vida. É, por isso, indispensável uma mudança de políticas que assegure o crescimento e o desenvolvimento económico, aposte na produção nacional, crie mais e melhor emprego, promova uma justa distribuição da riqueza e garanta a defesa e a melhoria das Funções Sociais do Estado.
Por tudo isto, “Os Verdes” consideram que este modelo de desenvolvimento é profundamente injusto e desumano para as famílias portuguesas, designadamente, para aquelas que subsistem com rendimentos mínimos e no limiar da pobreza.
É pela pertinência de todos estes factores que “Os Verdes” propõem que a Assembleia Municipal de Lisboa delibere pugnar pela defesa dos serviços públicos consagrados na Constituição da República Portuguesa, que reconheça as vantagens da prestação de serviços públicos de proximidade e de qualidade, em prol dos cidadãos e dos lisboetas em particular e, finalmente, que se expresse junto do Governo e dos seus órgãos sectoriais de decisão, a sua preocupação e oposição perante tentativas de alienação/privatização de sectores estratégicos do Estado e dos serviços públicos em particular.

J. L. Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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