22/05/2008

A incoerência das políticas de mobilidade

Vivemos num caos de “congestionamento automóvel permanente (que) penaliza gravemente a qualidade de vida”. As afirmações - que apesar de não serem recentes, continuam bem actuais - são do presidente da companhia de transportes públicos Carris, proferidas no mês passado na Sociedade de Geografia de Lisboa, no âmbito das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra.
O ‘caos’ é também imputável à autarquia da capital, que “tem de assegurar transportes colectivos de qualidade e deixar de planear a cidade para o automóvel”.
‘Et voilá’, alguém reclama ter descoberto a verdade de ‘Monsieur de La Palisse’.
“Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento são as medidas que a Câmara deveria tomar de imediato”. “O estacionamento não pode continuar a ser feito da forma que o fazemos em Lisboa, sem regras claras e sem uma política rigorosa” preveniu, perante uma plateia de cerca de 25 académicos.
“Aumentar o espaço de estacionamento na cidade é andar ao contrário do que deve ser feito (…) É só ver as segundas filas, os passeios cheios de carros, a falta de fiscalização e o sentimento de impunidade generalizado dos cidadãos”. “Regular bem o estacionamento não é fazer espectáculos ocasionais para as televisões”.
[Esta afirmação assenta, aliás, que nem uma luva, não apenas ao anterior, como até bem melhor, ao actual executivo camarário, que logo no início do seu mandato produziu um mero ‘show-off’ de política fiscalizadora e repressiva dos estacionamentos abusivos para a comunicação social, mas que bem depressa foi esquecida].
E, finalmente, a cereja no topo do bolo: Está-se a “fazer tudo ao contrário do que (se) diz”. “Dizem que querem uma cidade descongestionada e depois anunciam novos parques (de estacionamento) no centro da cidade. Qual a coerência deste modelo?”
“Há 400 bilhetes diferentes na AML (Área Metropolitana de Lisboa) e até nós não sabemos qual é o título mais adequado a cada viagem” (!!), esclareceu o presidente da Carris. “ Não se pode continuar a fingir que o problema não existe só porque a reformulação do sistema comportaria um aumento das tarifas”.
Mais esclarecedor não poderia ter sido!
Com efeito, onde está a articulação efectiva das companhias de transportes colectivos da AML? Porque continua o Governo sem criar a Autoridade Metropolitana de Transportes? Quem lucra no município com o tarifário do estacionamento à superfície e subterrâneo? Porque é cada vez maior o apelo ao transporte individual? Quem lucra com os impostos sobre o aumento dos combustíveis?

Ver “Carris acusa Câmara de empurrar com a barriga problemas de mobilidade” IN Público 2008-04-20, p. 25

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