02/07/2009

Grande expedição transoceânica estuda alterações climáticas

Lisboa será a primeira escala de uma ambiciosa expedição de três anos por todos os oceanos do mundo que a partir de Setembro irá estudar o impacto das alterações climáticas nos microrganismos marinhos.
A expedição será realizada por uma equipa multidisciplinar internacional de 14 membros a bordo do veleiro francês Tara, que a 4 de Setembro solta as amarras do porto de Lorient, na Bretanha, para só ali regressar em Novembro de 2012.
Navegando ao longo da costa, o veleiro de dois mastros chega a 10 de Setembro ao cais de Alcântara, em Lisboa, onde permanecerá dois dias, seguindo depois para Tânger, rumo ao Mediterrâneo, disse à Lusa a responsável pela Comunicação da missão Tara-Oceanos, Eloïse Fontaine.
Durante a estadia da escuna em Lisboa, haverá a bordo uma conferência de imprensa na qual o director da expedição, Eric Karsenti, e outros responsáveis científicos explicarão os objectivos em vista, acrescentou.
A equipa a bordo inclui oceanógrafos, biólogos, ecologistas, jornalistas e artistas, estando previstos contactos em Lisboa com investigadores portugueses através do IPIMAR (Instituto das Pescas, da Investigação e do Mar).
O veleiro de 36 metros de comprimento por 10 de largura e 120 toneladas entrou já na história ao concluir, em Janeiro de 2008, uma viagem de 18 meses no Árctico, entre a Sibéria e a Gronelândia, no quadro do Ano Polar Internacional.
A nova viagem evoca o espírito pioneiro das efectuadas pelo lendário Beagle (1831-1836), no qual Charles Darwin concebeu a sua teoria da evolução, ou pelo Challenger, 36 anos depois, que marcou o nascimento da oceanografia moderna.
Num trajecto de 150 mil quilómetros (metade da distância da Terra à Lua), o Tara fará 60 escalas em 50 países e irá das regiões mais quentes às mais frias do planeta, de Ocidente a Oriente e de pólo a pólo, percorrendo o Mediterrâneo, o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico, os oceanos Índico, Atlântico, Antárctico, Pacífico e Árctico.
A missão "Tara-Oceanos" mobilizará, no mar e em terra, uma centena de investigadores de mais de 50 laboratórios e institutos científicos de 15 países, associando vários domínios da investigação, da oceanografia à biologia e da genética à física.
Segundo Eric Karsenti, chefe do departamento de Biologia Celular e de Biofísica no laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) de Heidelberg, Alemanha, a missão dará continuidade à "Tara-Árctico", que "evidenciou a realidade do aquecimento climático".
Os microrganismos marinhos constituem 90 por cento da biomassa dos oceanos, absorvem a maioria do CO2 atmosférico e produzem 50 por cento de oxigénio, sendo a base da cadeia alimentar marinha.
"Sem essas micro-espécies, o homem nunca teria visto a luz do dia", sublinhou em Paris na apresentação da expedição. "Sem elas desapareceria".
É por isso que a medição do impacto do aquecimento que sofrem e o estudo dos ciclos do carbono e do oxigénio permitirão incorporar novos dados até agora desconhecidos nas simulações climatológicas futuras.
Os investigadores a bordo da escuna procederão periodicamente a recolhas de plâncton e de fitoplâncton a diferentes profundidades que serão analisadas por um consórcio de laboratórios e institutos internacionais.
Segundo Karsenti, o estudo dos ecossistemas nunca foi feito na globalidade e continuidade de todos os mares do mundo. "Aí reside a singularidade da missão", comentou.
O veleiro está equipado com as tecnologias mais avançadas em matéria de recolha, classificação e medições submarinas, de imagiologia e metadados oceanográficos.
Pela primeira vez, os cientistas a bordo poderão associar os conhecimentos da oceanografia em grande escala com as técnicas da genómica e da biologia celular.
Para partilhar e valorizar as conclusões da expedição, os cientistas envolvidos darão origem a um banco público de dados e de acesso livre chamado Bio-Bank, gerido por institutos internacionais.
A missão será realizada sob os auspícios do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

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