08/02/2008

Concerto na rua contra a reforma do ensino da música

Cerca de 50 pessoas, sobretudo alunos da Escola de Música do Conservatório de Lisboa, concentraram-se hoje em frente do Ministério da Educação para mostrar a sua ‘insatisfação’ com a reforma do ensino público artístico recentemente anunciada.
Ivo Cruz, fundador do Movimento de Defesa do Ensino Artístico - MovArte e ex-aluno da escola -, disse que esta reforma “acaba com a possibilidade de 90% dos alunos do ensino especializado de música terem aulas, visto que se prevê que o regime o supletivo termine, e este é o que oferece mais condições para alunos e seus pais”.
No âmbito da reforma do ensino artístico especializado, a partir do próximo ano lectivo as escolas públicas de música estão impedidas de dar aulas ao 1º ciclo e terão de funcionar em regime integrado, ou seja, ministrarem formação geral (como em qualquer escola) e especializada (artística).
O Governo pretende assim acabar com o chamado regime de ensino supletivo, que permite aos alunos frequentar as disciplinas musicais no Conservatório e as do ensino geral numa escola à sua escolha. O ensino supletivo “tem contribuído para a formação de inúmeras gerações de músicos de que são exemplo Maria João Pires, Mário Laginha, Jorge Palma e muitos outros”, lê-se no site do movimento MovArte.
De acordo com dados do Governo, apenas 17 mil alunos num universo de 1,5 milhões têm acesso ao Ensino Artístico Especializado. Segundo a tutela, a reforma “tem como objectivo fundamental aumentar o número de alunos a frequentar o Ensino Artístico Especializado”, objectivo que passará por uma melhor organização da oferta destes cursos e sua disseminação “por uma rede mais alargada de escolas ao nível do ensino básico e secundário”.
Porém, segundo o maestro Vitorino d'Almeida, “esta é uma medida demagógica porque nós não queremos formar milhões de músicos”, considerando mais importante “dar trabalho aos músicos que temos, e que servem as nossas orquestras”. O maestro, que estava entre o grupo que se concentrou em frente do Ministério, disse que acabar com esta formação especializada de base seria “como estarmos a acabar com as nossas escolas primárias”.
Para o fundador do MovArte, a generalidade das escolas não terá meios técnicos suficientes para assegurar o ensino da música, nomeadamente instrumentos musicais. Ivo Cruz afirmou ainda duvidar “do que se consegue ensinar em duas horas apenas” nas actividades de enriquecimento curricular das escolas do 1º ciclo e que “a ministra parece querer transformar [a música] em mais uma disciplina de ATL em todas as escolas nacionais”.
Na concentração estiveram presentes jovens de diferentes turmas do Conservatório que, através de pequenos concertos com diferentes instrumentos, quiseram demonstrar a “importância do ensino de música especializado” 1.
Num apelo à srª Ministra da Educação recordam que “um país musical é um país convenientemente preparado para aceitar todas as lições do progresso, para saber sentir e saber vibrar” 2. A petição na Internet ultrapassou já as 11.000 assinaturas 3.

1. Ver Lusa doc. nº 7978112, 07/02/2008 - 19:15 e Público 2008-02-08
2. Ver
http://suggia.weblog.com.pt/arquivo/257926.html
3. Ver www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?CFEEMP

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