15/09/2015

Intervenção sobre a Proposta nº 342/2015 - Desafectação do domínio público de parcela de terreno e constituição de um direito de superfície sobre a mesma parcela e sobre o Pavilhão Carlos Lopes, a favor da Associação de Turismo de Lisboa, na Assembleia Municipal de Lisboa de 15 de Setembro de 2015

 
Na sequência duma Recomendação de “Os Verdes”, aprovada por unanimidade nesta AML em Fevereiro deste ano, a CML avaliou a necessidade de recuperação do Pavilhão Carlos Lopes e seus espaços adjacentes. Porém, com a Proposta nº 342/2015, de facto, a CML tem em vista entregar esse desígnio à Associação de Turismo de Lisboa, começando por propor a desafectação do domínio público para o domínio privado municipal da parcela de terreno com a área de 12.860,70 m2, para a ceder à Associação de Turismo de Lisboa.
 
O edifício, criado na década de 1920 para celebrar o 100º aniversário da independência do Brasil e depois adaptado para instalações com actividades desportivas em 1946, fora encerrado em 2003 pelo executivo do PSD/CDS, privando da prática desportiva centenas de praticantes, tem desde então vindo a degradar-se com perda significativa de parte do seu espólio azulejular. Em 2008 chegou-se mesmo a projectar transformá-lo em Museu Nacional do Desporto, tendo o Município chegado a receber três milhões de euros do Casino de Lisboa para aplicar na sua recuperação. Porém, o Museu acabaria por ser instalado no Palácio Foz. A CML também chegou a considerar a sua concessão a uma Fundação, acabando em 2013 por cancelar o seu licenciamento para discoteca, salão de festas e exploração por terceiros de bares e parque de estacionamento, por a entidade ter violado as regras do concurso.
 
Logo depois, o Pavilhão foi incluído no Plano Estratégico para o desenvolvimento turístico de Lisboa, para 2015/2019, que nele previa a construção de um novo centro de congressos. Mas perante diversas reacções contrárias, um pouco por todos os sectores transversais ao turismo, a própria Associação de Hotelaria de Portugal considerou esse projecto como “inoportuno”.
 
Daqui se conclui que o executivo do PS sempre teve em vista a sua cedência a privados. A questão chave residia então em perceber-se se o pelouro do desporto estava disponível para recuperá-lo, e como, para a cultura e o uso das modalidades desportivas. Se a CML recebera as verbas do Casino, porque não promovia a recuperação e reabilitação do Pavilhão Carlos Lopes, salvaguardando o seu importante património artístico, impedindo a deterioração do seu espólio azulejular, e possibilitando a sua reabertura e utilização pública para usufruto lúdico e desportivo da cidade, inclusive para as Olissipíadas e para as iniciativas das associações de cultura, recreio e deporto?
 
A CML esquece que o Pavilhão Carlos Lopes constitui um relevante património de valor emblemático para a cidade de Lisboa, por toda a sua história e utilização ao longo de muitos anos ligada a associações desportivas, culturais e a entidades promotoras de iniciativas políticas e de lazer, devendo continuar ao serviço da população e das suas instituições sem fins lucrativos e não entregue à gestão privada.
 
Ao longo dos anos, a utilização regular do Pavilhão Carlos Lopes beneficiou muitas centenas de praticantes desportivos e, simultaneamente, foi palco de exposições, concertos, desfiles, marchas de Lisboa, comícios e muitas outras iniciativas de carácter desportivo e cultural. Parecia lógico que, perante a falta de novos pavilhões e devido à sobrecarga de uso do Pavilhão do Casal Vistoso, o Pavilhão Carlos Lopes fosse visto como uma prioridade para o município. Mas não é esta a solução encontrada pelo PS.
 
E será que nunca houve projecto para a sua reabilitação? Relembre-se que, por volta de 2000, a CML havia criado um Gabinete Técnico específico para a Adaptação e Valorização do Pavilhão Carlos Lopes que elaborou um programa geral para a obra de requalificação, contemplando a resolução dos problemas da cobertura, que definia uma sala principal com polivalência para espectáculos desportivos e culturais, incluindo dança, bailado, concertos, congressos, adaptável a diversas modalidades desportivas, com um núcleo de salas de média dimensão para fins desportivos e culturais, um núcleo de salas de investigação e apoio ao desporto, bem como áreas de apoio a colectividades.
 
O que foi feito deste projecto? Rasgado e deitado às malvas? Porquê? Por falta de verba ou de vontade política? Por falta de verba não terá sido, visto a CML ter recebido os milhões de euros em resultado das verbas do Casino de Lisboa para a sua reabilitação. Também por isso a sua gestão terá de ser pública e ao serviço da cidade. Depreende-se então que só poderá ter sido por clara inoperância política.
 
O resultado desta delapidação vai agora ser colocado ao serviço de interesses particulares e especulativos, não servindo directamente os interesses das populações e da cidade. A concessão e cedência em direito de superfície são feitas por 50 anos renováveis, por uma verba simbólica, que será paga ao longo de 30 anos. Mesmo considerando que o valor da obra é significativo, e apesar da recuperação rápida do capital investido, não existe na proposta qualquer obrigatoriedade de ser utilizado pela população de Lisboa a preços acessíveis para o seu uso pelas colectividade e outras instituições sem fins lucrativos.
 
A concessão do direito de superfície não se destina a meras obras para a sua reabilitação, mas para a gestão global do espaço pela ATL, potenciando mais um negócio privado à custa de um bem público. A presente proposta constitui mais um exemplo de que a cidade continua a ser alienada a retalho.
 
Em suma, trata-se de uma opção que serve apenas os interesses privados e especulativos, que não assegura os direitos da sua utilização pela população de Lisboa, colectividades e outras instituições. Se o executivo não alterar o teor da sua proposta, “Os Verdes” votarão contra.
 
 
J. L. Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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