11/02/2007

De Entrecampos a Telheiras perdeu-se a pista



O Sporting Clube de Portugal (SCP) pretende implementar projectos de construção numa área de 130 mil metros quadrados em alguns dos terrenos junto ao novo estádio, bem como sobre o ‘interface’ que há ao lado do Alvaláxia, no espaço onde funcionava o antigo Bingo, em terrenos que terão servido de base do financiamento para a construção do novo Complexo Alvalade XXI. Segundo o DNotícias, o SCP diz-se agora “vítima da burocracia da CML e do Metro, que não se entendem entre si impedindo assim que os protocolos assinados sejam cumpridos”, prejudicando a eventual recuperação financeira do clube.
O presidente do SCP, citado pela Lusa, admitiu mesmo esta semana que a sua continuidade na direcção do clube estava “dependente de decisões da Câmara de Lisboa e da empresa que gere o Metro da capital”. Por outras palavras, o objectivo de baixar a fasquia do passivo dependeria assim “exclusivamente de decisões políticas de autoridades e empresas ligadas ao Estado, e de organismos locais", terá explicado Soares Franco, em declarações ao Público. Este jornal recorda que, depois de encaixar cerca de 40 milhões de euros com a venda de grande parte de património não desportivo (edifício-sede, ginásio Holmes Place, clínica CUF e centro comercial Alvaláxia), o Sporting precisa agora do aval da Câmara e do Metro para avançar com outros projectos necessários para o saneamento financeiro do clube.
No sábado, no final de um encontro em Lisboa da sexta eliminatória da Taça de Portugal, o Presidente da CML confirmou, em declarações aos jornalistas, que a questão havia sido debatida durante uma reunião mantida esta semana com o presidente do SCP, esclarecendo que “até finais de Março é possível poder levar a uma reunião de Câmara o loteamento que o Sporting tanto deseja e nós também, para que isto fique resolvido de vez", ou seja, um projecto de loteamento. O dirigente camarário esclareceu ainda que "uma operação de loteamento é uma operação urbanística que tem de ir a uma sessão de Câmara para ser apresentada, discutida e votada. Nós temos a obrigação de levar essa operação urbanística dos antigos terrenos do Estádio José Alvalade, desde que esteja em condições de poder ser aprovada". O edil acrescentou que tem sido desenvolvido um trabalho entre a equipa associada ao Sporting, projectista do loteamento, e os técnicos da Câmara "para acompanhamento do projecto, avaliação de algumas questões que possam não estar em conformidade com as normas vigentes, com o plano director ou outras normas regulamentares".
Mais longe vão ainda alguns dos leitores do Público on-line ao afirmarem que “depois da comparticipação do Estado aos clubes no âmbito do euro 2004” isto é “uma pressão sobre o Estado a todos (títulos) deplorável. Porque é que há de ser o Metro e a Câmara a resolver os disparates do Sporting. Se não tinham dinheiro para fazer um estádio tão grande e mais aquilo a que ridiculamente chamam de património não desportivo... então construíssem algo à sua medida. Pois, mas a mania das grandezas falou mais alto, e o Sporting é como muitos Portugueses que andaram a viver à grande à conta do crédito e agora que se vêem à rasca... alguém tem de lhes pagar (…) é um roubo ao erário público” (Vicguerr, de Lisboa).
Para o jornalista Rui Santos, num programa em directo sábado à noite na SIC Notícias “o problema da governabilidade do SCP não se resolvia afinal apenas com a venda do património desportivo”, só que durante a campanha eleitoral no Sporting o então candidato a presidente leonino nada esclareceu sobre este assunto. Logo…
Se assim foi, porque é que o Sporting não cumpre também com as suas obrigações para com a cidade e os munícipes das Freguesias limítrofes?
Com efeito, a pista ciclável que liga Entrecampos a Telheiras, e que atravessa as Freguesias do Campo Grande e do Lumiar, foi inaugurada em 2001, mas acontece que, com as obras realizadas nas vias de acesso ao Alvaláxia XXI o troço desde o Museu da Cidade de Lisboa, passando pelo ‘interface’ do Campo Grande até às imediações da entrada da Estrada de Telheiras, encontra-se destruído e interrompido, cortado por barreiras físicas que impedem qualquer forma de circulação segura dos utentes de bicicletas, muitas vezes, estudantes que pretendem dirigir-se à Cidade Universitária. A própria Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta alertou já várias vezes para a necessidade de reparar o corte na referida ciclovia.
A Câmara e o Sporting reconheceram há muito, não apenas a necessidade da sua reconstrução, como a responsabilidade pela sua reposição pertencer ao Sporting, opinião emitida publicamente pelo engº da NEJA na altura responsável pelas obras, aquando da visita dos membros dos órgãos autárquicos do Lumiar às instalações do novo estádio.
O que os moradores da zona não compreendem é por que é que com tanto “trabalho entre a equipa associada ao Sporting, projectista do loteamento e técnicos da Câmara” o clube não sai responsabilizado pelos seus compromissos para com os munícipes.
Deste modo, considerando o protelar desta solução e o manifesto perigo da situação exposta, as Assembleias Municipal de Lisboa e de Freguesia do Lumiar deliberam, na sequência de propostas apresentadas pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, recomendar à CML que urgentemente estabelecesse os contactos necessários com os responsáveis pela SAD do Sporting no sentido da imediata reposição do troço interrompido da pista ciclável Entrecampos-Telheiras, em condições de utilização segura pelos seus utilizadores.
Estranha-se que a Câmara nunca tenha tido pressa para atender as justas pretensões dos fregueses e agora, perante o ultimato do SCP, venha disponibilizar-se para encontrar até Março uma solução favorável… ao clube, claro, não aos moradores !!!
Perto do final deste jogo, o resultado está em UM para o SCP, ZERO para o município. Será que não há por aí um árbitro que possa mostrar a ambos o cartão vermelho?

1 comentário:

Anónimo disse...

Os negócios imobiliários em torno dos terrenos do Sporting, nas imediações do Estádio de Alvalade, prometem dar muito que falar. O agastamento de Soares Franco com a “burocracia” da Câmara de Lisboa, conforme noticiou o “Público”, tem uma razão de ser. E o sportinguista Carmona Rodrigues tem uma batata quente na mão, que pode transformar-se em mais uma trapalhada para a colecção deste mandato.
Em causa estão três lotes de terreno, com uma área de construção de 139 mil metros quadrados, que estão à espera de licenciamento. Esses terrenos, foram vendidos pelo Sporting a uma empresa holandesa conhecida pelas iniciais M.D.C., pelos quais pagará ao clube de Alvalade 40 milhões de euros logo que a autarquia licencie os projectos de urbanização. Mas há um detalhe: segundo uma carta que seis advogados, todos sócios do Sporting, enviaram a Carmona Rodrigues, o contrato efectuado entre o clube e a M.D.C “foi assinado pelo Director Geral do Clube, Diogo Gaspar Ferreira”, que, “em perfeito conflito de interesses, passou, acto contínuo a esta operação, a fazer parte da administração da empresa M.D.C.”.
Os subscritores da carta ao presidente da Câmara de Lisboa, que se afirmam “temerosos com o futuro do Sporting, por força da situação financeira calamitosa que é do conhecimento público, e desejam dar o seu contributo na procura de uma solução que possa relançar a saúde económica do clube”, lembram que a Câmara Municipal de Lisboa, ao vender ou doar terrenos ao Sporting, “fê-lo na convicção de que os terrenos seriam para ajudar a colectividade nas suas despesas gerais, com grande incidência nas suas modalidades amadoras e não em operações especulativas de criminosos lucros a favor de entidades estrangeiras”.
Por isso, os advogados solicitaram a Carmona Rodrigues que vete “qualquer licenciamento que possa comprometer o valiosíssimo património do clube, que em grande parte se deve à generosidade da Câmara Municipal de Lisboa”.
Lembrando que os valores “envolvem prejuízos de dezenas de milhões de contos [para o Sporting], em operação ruinosa e de má-fé”, e defendendo que a saúde financeira do clube “só pode ser alcançada se for preservado o património do Sporting e se as valias desse património forem potenciadas pelo próprio clube”, os subscritores afirmam que “não hesitarão em defender os interesses e o património do Clube, Instituição de Utilidade Pública, até às últimas consequências”, pois têm “fundadas suspeitas de que alguns dos negócios que envolvem o património imobiliário do Sporting padecem de irregularidades que ferem a sua validade”.
Será por isso que o processo está empatado nos gabinetes? Terá Carmona Rodrigues receio de mais uma trapalhada para animar o seu mandato? Não há como esperar para ver.