Assembleia Municipal de Lisboa de 14 de Outubro de
2014
Já
era de esperar que o Sr. Presidente viesse à Assembleia Municipal fazer este
discurso de mudanças, de conquistas e de melhorias, que pelos vistos só o PS
vê, mas facilmente se percebe que o autor deste discurso é também o responsável
por muitos dos problemas da cidade.
Encontramo-nos
a fazer este debate sobre o Estado da Cidade decorrido cerca de um ano das
eleições autárquicas, mas assinalando já o sétimo ano do Sr. Presidente à
frente dos destinos da autarquia.
Não
que seja motivo para festejos, mas estes sete anos servirão, ao menos, para não
se poder refugiar na desculpa de que ainda não teve tempo para fazer mais e
melhor.
Sr.
Presidente, tem consciência de que o discurso que acabou de proferir não foi
muito diferente do discurso dos anos anteriores e que mesmo assim não podemos
dizer que a situação está melhor?
Quem
ouviu o Sr. Presidente no início deste mandato com certeza que achou que quando
chegássemos a este momento as coisas estariam muito diferentes. Mas não!
Pegando
nalguns exemplos do que o Sr. Presidente e o Partido Socialista fizeram na cidade
podemos dizer que os trabalhadores e os munícipes são os elos mais fracos e
continuam a ser constantemente prejudicados.
Em
três anos assitimos a duas reestruturações internas de serviços e a uma
reorganização administrativa, que levaram para fora da Câmara várias
competências na área da educação, da cultura, da limpeza urbana, da acção
social, do desporto, entre outras, levando à saída de mais de 1200
trabalhadores dos mapas de pessoal.
Está
à vista que a reestruturação dos serviços visou tão-somente esvaziar e
desmantelar a estrutura e os serviços da Câmara Municipal. Não podemos dizer
que essas alterações trouxeram melhorias, trouxeram sim instabilidade e
descontentamento aos trabalhadores.
Durante
meses pairou nos serviços da autarquia uma certa paralisação devido a mudanças
sucessivas de serviços para diferentes edifícios, mostrando uma falta de estratégia
e uma grande falta de respeito pelos trabalhadores.
Sobre
a transferência de competências, as Juntas de Freguesia assumiram, em Março, um
conjunto de competências transferidas pela CML, entre elas, a limpeza urbana,
sem a vertente da recolha de resíduos sólidos.
Na
altura, «Os Verdes» alertaram para um conjunto de situações que, passados uns meses,
começaram a dar sinais que apontam para uma deficiência na prestação deste
serviço público, com prejuízos para os lisboetas, os trabalhadores e a cidade.
É
indesmentível a carência de trabalhadores e de ferramentas de trabalho que
permitam responder adequadamente à limpeza dos teritórios que as Juntas de
Freguesia têm sob sua competência, situação de que a autarquia terá certamente
conhecimento.
O
que não pode, de forma alguma, acontecer, é haver uma redução do serviço
prestado, os trabalhadores serem desrespeitados nem preparar-se o caminho para
outras soluções que não visem a prestação de um serviço público de qualidade,
ou seja, a privatização tem de ficar de fora desta equação. O que é preciso é
investir em meios humanos e materiais para que se possa dar resposta ao serviço
de limpeza urbana nas freguesias.
E
este descontentamento dos trabalhadores tem sido bem visível através de
abaixo-assinados e através da luta. Será caso para perguntar ao Sr. Presidente
e aos srs. Vereadores: porque será que os trabalhadores têm estado em luta?
A
tudo isto, e como se não bastasse, junta-se a vocação de mediador imobiliário
do Sr. Presidente que decide vender ao desbarato o património imobiliário,
dizendo precisar de realizar receita, mas esquecendo-se de que é necessário dar
condições de trabalho e instalações aos trabalhadores da autarquia.
Que
fará depois o executivo? Vai alugar os espaços necessários?
Também
sobre a questão do amianto, a CML tem continuado a ignorar este problema, e até
agora tem permitido que os seus trabalhadores e utilizadores das instalações
municipais estejam sujeitos a esta substância. Até agora, não é conhecida uma
lista com os locais que contêm amianto, um plano de acção calendarizado com
vista à remoção e substituição do amianto, a transferência dos trabalhadores
para outro local ou a interdição dos espaços aos utentes, enquanto decorram os
trabalhos de substituição.
Este
é um problema que convém resolver com a máxima urgência e precaução e o
executivo continua a ignorar esta grave questão de saúde pública.
Sobre
a degradação e destruição de serviços públicos, por iniciativa do Governo, a
Câmara tem estado ou silenciosa ou tem dado luz verde. Foi para isso que o Sr.
Presidente foi eleito? Para deixar levar os CTT, a Loja do Cidadão, as
esquadras e tudo o que o Governo entender?
Exemplo
paradigmático desta postura da autarquia foi a situação da Colina de Santana.
Estava já a Câmara preparada para dar o aval à ESTAMO, que havia solicitado
pedidos de informação prévia, que não tinham ainda sido votados e aprovados. Não
fosse a contestação que surgiu em volta deste assunto e o facto de nos
encontrarmos em período pré eleitoral, ninguém dava por nada e lá tinhamos nós
mais um negócio à custa do património e do direito ao acesso à saúde dos
lisboetas.
Sobre
o Parque Florestal de Monsanto, assunto que «Os Verdes» têm trazido com bastante
insistência a esta Assembleia Municipal, pela importância que assume para a
cidade, a postura da Câmara não tem sido a de efectiva protecção e defesa deste
espaço, quer seja por nada ter feito relativamente à descontaminação dos solos
do Campo de Tiro a Chumbo, seja pela luz verde que dá a tudo e mais alguma
coisa que lá pretendam construir.
Hoje,
uma vasta área do Parque Florestal de Monsanto já se encontra alienada e
construída, muitas vezes sob o pretexto de utilidade pública, através de meros
despachos, ou mesmo suspensão do próprio Plano Director Municipal, e essas
acções têm contribuído para que o parque actualmente compreenda uma área
ocupada de cerca de 100 campos de futebol.
Não
seria lógico que a autarquia se mostrasse preocupada com esta situação?
É
indiscutível que este debate acontece num momento particularmente difícil para
a generalidade da população e esse cenário não pode ser ignorado,
principalmente quando os sinais de austeridade são bem visíveis em Lisboa.
Não
será tudo responsabilidade da autarquia, naturalmente, mas também não nos
parece que a linha seguida pelo executivo esteja direccionada para contrariar
ou minimizar esta situação.
Façamos então um exercício: se o diagnóstico
está feito, se os problemas são conhecidos, se até são apresentadas propostas
para os resolver e se continuamos na mesma, o que podemos concluir? Que há uma
total falta de vontade de fazer as coisas de forma diferente. Que não há
vontade de resolver esses problemas porque o Partido Socialista determinou que
apenas faria o que entendesse e da forma como entendesse, mesmo que isso
prejudicasse as pessoas e que tivesse que ir contra tudo e contra todos.
Para
«Os Verdes», Lisboa precisa de outras políticas e de outra gestão. E a
solução não passa pela continuidade de políticas que gerem mais resultados como
os que temos tido até agora. A solução é a inversão destas políticas. E é aqui
que existem as nossas maiores divergências com o rumo a que o executivo tem
conduzido a cidade e enquanto o Partido Socialista insistir em prosseguir neste
caminho, terá a oposição de «Os Verdes», pois continuaremos a denunciar
estas opções e a propor medidas com vista a uma cidade mais equilibrada, a uma
cidade para os cidadãos.
Se
a dificuldade do PS é a falta de alternativas ou de propostas, é porque anda
distraído, e a bem da cidade, da justiça social e do ambiente, bem pode
aproveitar as vozes que se vão levantando em defesa da cidade e as propostas
apresentadas, nomeadamente as propostas do PEV.
Para
terminar, uma questão: será que o Sr. Presidente considera que Lisboa e os
lisboetas não merecem mais e melhor?
A
melhor avaliação que poderemos fazer sobre o estado da cidade é feita lá fora,
a falar com as pessoas e a ouvir o que têm a dizer, porque esta discussão não
pode ficar limitada aqui e é lá fora que estão as pessoas que são directamente
afectadas pelas políticas seguidas.
Sr.
Presidente, uma coisa é certa, por muitos discursos de esquerda ou
pseudo-esquerda que faça, as medidas que tem aplicado na cidade de Lisboa não
são de esquerda, disso não restam dúvidas. Experimente governar à esquerda e os
resultados serão naturalmente outros!
Cláudia Madeira
Grupo Municipal de “Os Verdes”
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