09/06/2015

Intervenção sobre a Proposta nº 262/2015 - 4º relatório de monitorização do processo da Reforma Administrativa de Lisboa


Assembleia Municipal de Lisboa de 9 de Junho de 2015

Neste 4º relatório elaborado pelo Grupo de Acompanhamento e Monitorização da Reforma Administrativa de Lisboa, “Os Verdes” irão procurar não repetir a análise feita aos 3 anteriores relatórios, destacando algumas das consequências mais relevantes: os resultados da transferência de competências para as Juntas de Freguesia, os equipamentos e a situação laboral dos trabalhadores, a ausência de uma resposta integrada na gestão municipal e a externalização da prestação de serviços.
Decorrido um ano de reforma, sobressai, no relatório, um conjunto fulcral de elementos mais gravosos, a saber: o desajustamento dos recursos financeiros disponíveis nas Juntas, face às suas novas responsabilidades, que conduziu ao projecto de Lei nº 888-XII, ainda em discussão na Assembleia da República; a falta de clarificação das competências e responsabilidades entre as Juntas e a CML; as insuficiências de enquadramento nas disposições legais, incluindo as limitações impostas pelo Estatuto dos Eleitos Locais; o mau estado de conservação de determinados equipamentos e materiais transferidos, facto que implicou despesas inicialmente não previstas pelas Juntas; a gestão diferenciada de equipamentos; os processos de comunicação e as debilidades nas aplicações informáticas de gestão, entre outros.
Também são reportadas as insuficiências em recursos humanos qualificados em algumas Juntas de Freguesia e a necessidade de formação contínua dos funcionários, bem como a incerteza dos critérios de transição e de adaptação de trabalhadores e Juntas às novas responsabilidades, para além do horário de trabalho e o trabalho extraordinário. Subsiste ainda por resolver o envelhecimento e avarias em alguns equipamentos mecânicos e veículos recebidos da CML, com risco ‘elevado’ para tarefas específicas da higiene urbana.
Diz-nos o relatório que um dos primeiros sistemas afectados foi o da estrutura organizacional, que afectou cerca de 2 dezenas de Juntas de Freguesia. Não havendo chefias intermédias, os funcionários passaram a reportar directamente aos membros dos executivos. Estes defrontam-se com as dificuldades inerentes a não disporem da atribuição de tempos inteiros. Para múltiplas situações, tornou-se inevitável o recurso à contratação de serviços externos para apoio às mais diversas actividades, desde a gestão do espaço público e de espaços verdes, para o apoio jurídico, para a gestão dos recursos humanos e mesmo no atendimento ao munícipe. Por isso, quase todas as Juntas apontaram como um dos aspectos mais problemáticos, e ainda por resolver, a necessidade de colmatar as suas insuficiências em termos de recursos humanos, incluindo as áreas de competência técnica superior ou mesmo de dirigente.
Exemplos concretos são ainda os da transferência de recursos humanos e materiais na área do ambiente urbano, onde várias situações continuam por estabilizar, e que incluem a falta de pessoal que tem conduzido à contratação de serviços externos para situações concretas, como nas áreas da manutenção urbana e da limpeza e mesmo na gestão dos espaços verdes. Esta opção significou a entrega da manutenção desses espaços a empresas privadas, devido à ausência de meios humanos capacitados para a tarefa e porque tal requereria um grande esforço de investimento das Juntas, nomeadamente na aquisição dos meios mecânicos. A este facto, acresceram as dificuldades associadas ao envelhecimento e às avarias nos equipamentos mecânicos e em veículos recebidos.
Depois, o recente caso das drásticas podas de árvores constitui a prova provada da ausência de normas regulamentares sobre os correctos procedimentos a ter em conta, o que levou à recente aprovação por unanimidade de uma Recomendação do GM de “Os Verdes”. A CML anuncia agora um plano para o arvoredo da capital, mas depois da chacina a que os munícipes assistiram “vem tarde e a más horas”, donde se conclui que só depois das denúncias é que a CML vem pôr “trancas à porta arrombada”.
Para além disso, com a transição das novas competências para as Juntas houve necessidade de serem reavaliados os contratos existentes com a gestão de espaços e equipamentos, ficando alguns desses espaços públicos no limbo, devido ao problema do tempo de resolução que se exige para a sua revisão. Também no caso da gestão de espaços verdes e jardins, evidenciam-se dificuldades devido não apenas aos contratos de prestação de serviços transitados da CML, bem como devido ainda ao mau estado de estruturas, como os sistemas de rega.
Eis aqui outro resultado das pressas da CML. Ora, se a responsabilidade não é das Juntas, deveria ter sido a CML a, atempadamente, obviar na solução destes problemas. Ou seja, o custo com a correcção destas deficiências não poderá ser imputado às Juntas.
Ainda para o caso da transição dos equipamentos, como as piscinas, houve Juntas que aprovaram tabelas de preços com novos critérios de isenções e tendo noutros casos aumentado as tarifas de forma relevante e diferenciado preços entre fregueses e não fregueses. No caso dos culturais, surge agora a novidade de a CML se ter lembrado de avançar para um regulamento da rede de bibliotecas. E se o não fez antes, tal facto volta a constituir prova da pressa da CML em precipitadamente avançar para a reforma em curso.
Afinal, fazia ou não falta o desenvolvimento de instrumentos comuns de gestão municipal? Foi ou não a cegueira da precipitação da CML quem acabou por provocar os nefastos resultados que estão à vista?
Depois, algumas das Juntas optaram por desenvolver aplicações informáticas próprias de suporte às novas competências, podendo suceder-se o risco de a utilização dessas aplicações ser incompatível, em termos de comunicação, com os sistemas da CML, provocando perda de capacidade global de manutenção, bem como de gestão e de monitorização integrada da informação. É o caso dos licenciamentos, onde persistem fragilidades no funcionamento das plataformas informáticas, o que tem levado algumas Juntas a optar por aplicações próprias, o que, obviamente, cedo ou tarde porá a nu a não interoperabilidade entre sistemas.
Assim sendo, pergunta-se: porque não interveio a CML para atempadamente resolver estas disfuncionalidades? Porque não foram logo de início criados os necessários instrumentos de gestão integrada?
E já agora, se todas estas situações foram inventariadas pelo Grupo de Trabalho, transcrevendo-as no 4º relatório, porque se insiste em afirmar na p. 144 que a cidade se consolidou e que o processo como um todo tem decorrido com qualidade e coesão? Muito simples: porque o Grupo de Acompanhamento e Monitorização está a ser “juiz em causa própria”. E isto configura um pré-logro eleitoral!
Em suma, tornou-se finalmente clara uma das razões que “Os Verdes” vinham argumentando desde o início do processo: o afogadilho político da CML, na resolução e condução da reforma, não foi bom conselheiro. Em conclusão, para “Os Verdes”, estas têm sido algumas das consequências provocadas pela pressa com que o executivo, ao longo do processo da Reforma Administrativa de Lisboa, tentou conduzir a transferência de competências para as Juntas de Freguesia. O resultado está plasmado no ditado popular que explica porque, às vezes, os pais “… têm os filhos cegos”!

Sobreda Antunes
Grupo Municipal de “Os Verdes

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