Uma
outra hasta pública é relativa à venda do terreno do quartel de bombeiros
contíguo ao Hospital da Luz e ao Centro Comercial, com a qual o executivo
pretende encaixar 15,8 milhões de euros, mas que estava dependente da aprovação
do Plano de Pormenor Luz-Benfica. Também aqui temos uma área registada em
cadastro com 9,738 m2, mas que vai permitir uma construção bruta de
29 mil m2, ou seja, 3 vezes mais. Depois, não se trata ‘apenas’ de
um equipamento qualquer que vai ser demolido, mas de um quartel que tem dez
anos e é o mais moderno de Lisboa! Temos por isso aqui ‘pano para mangas muito
compridas’.
Primeiro,
já em 2008 a CML havia solicitado uma avaliação do lote municipal onde se
encontra o Quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB). A encomenda foi
feita no pressuposto de que as alterações ao PP do Eixo Urbano Luz-Benfica
permitiriam que ali fossem construídos 29.164 m2, embora ainda sem
especificação de uso. Em 2010 surgem as primeiras referências à hipótese de
encerrar o quartel. Na altura, o presidente da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais ouvia dizer que o Hospital da Luz queria expandir-se e que isso
obrigaria a deitar abaixo o quartel. Ainda em 2010 a CML decide proceder à alteração
do Plano.
Segundo,
o executivo prevê alienar em hasta pública o lote em Carnide onde se encontra o
Quartel, bem como o Museu do Regimento e a Sala de Operações Conjunta (SALOC) para
acorrer a situações de emergência relacionadas com a protecção civil.
Terceiro,
o preço pelo qual a CML quer vender o quartel é inferior aos investimentos que
já ali fez e que ainda terá de fazer. Embora o orçamento municipal aponte para
um encaixe inferior, as avaliações feitas determinaram que a base de licitação
da hasta pública venha a ser de 15,8 milhões de euros.
Quarto,
como para além dos 12,3 milhões de euros iniciais já gastos, a instalação do
RSB teve nesta última década outros custos associados à aquisição do terreno,
um eventual encaixe de 15,8 milhões de euros ficará bem aquém dos custos já
suportados pelo município e daqueles que terá de suportar para reinstalar todo o
RSB. Ou seja, caso consiga vender este lote pelo valor de mercado base, o executivo
ficará aquém do investimento já feito e do que terá de fazer, tanto na construção
do novo quartel, do Posto Avançado a implementar no Lote 30, como na deslocalização
do Museu para o Museu da Cidade e da SALOC para Monsanto.
Quinto,
a autarquia fecha o quartel de bombeiros mais moderno da cidade para poder
vender o terreno à Espírito Santo Saúde. Altera o PP do Eixo Luz-Benfica prevendo,
inequivocamente, o alargamento ao vizinho Hospital do Grupo Espírito Santo. Não
se espera que apareçam outros interessados no negócio, pois trata-se de uma
hasta com fotografia. Mas não nos espantaríamos que os GMs ainda viessem a ser
confrontados com alguma inesperada carta de direito de preferência, como já
aconteceu numa anterior muito polémica situação.
Sexto,
poderá parecer estranho, mas mesmo antes da CML discutir a revisão do PP, a
Espírito Santo Saúde anunciava que ia aumentar em 40% a área do Hospital da
Luz, num investimento entre 60 a 70 milhões de euros a realizar até 2018. Que
premonição! Ora, sendo certo que o Hospital só poderia crescer para cima, parece
mais do que óbvio que o grupo privado beneficiou de qualquer informação
privilegiada. De quem, perguntamos nós?
Muitíssimo
curioso é o facto de no relatório ‘Extensão do Hospital da Luz no lote 40’,
onde constam os trabalhos de revisão do Plano, já se indicava uma área
reservada para equipamento, e que a superfície de pavimento máxima a construir poderia
incluir um novo edifício entre seis a dez pisos, para além do actual bloco
hospitalar poder vir a ser ampliado com novo piso, até um máximo de cinco mil m2.
Até que há 3 meses atrás, a CML acabaria por confirmar a existência de uma ‘pretensão’
por parte dos responsáveis do Hospital da Luz, comprometendo-se o executivo a entregar
o terreno, com o quartel e o museu, ‘livres de pessoas e bens’, podendo o
comprador demoli-los a expensas suas.
Sétimo,
o executivo deveria atender à realidade financeira do Grupo Espírito Santo. Com
efeito, em 2013 o BES teve um prejuízo de 4,1 milhões €. E só nos primeiros 6
meses deste ano já leva um prejuízo de 3,5 milhões €. A CML não parece saber
escolher bem os seus potenciais parceiros de negócio.
Oitavo,
quanto a alternativas para o RSB, as alterações ao PP admitem a construção de
um novo quartel nas proximidades, mas o projecto ainda não é conhecido. E “Os Verdes” perguntam ainda se a vereação
garante que a venda do terreno permitirá na íntegra construir um quartel
idêntico, num local com as mesmas acessibilidades e se a entrega do espaço ao
comprador do terreno apenas será realizada quando o novo quartel estiver
pronto. E qual será o custo de deslocalização de meios e a construção do novo
quartel e museu? Serão estas obras cobertas na íntegra pelo montante da hasta
pública? Onde está o saldo positivo que a CML persegue com esta hasta pública?
Pelo
exposto, ao Grupo Municipal de “Os Verdes” restam poucas dúvidas que a presente hasta consubstancia um caloroso
abraço aos interesses privados. Mesmo com tantos braços, ao
promitente-comprador privado ‘mangas’ para os revestir não lhe vai faltar.
J. L. Sobreda Antunes
Grupo
Municipal de “Os
Verdes”