O antigo Vice-Presidente dos EUA, Albert Gore, Jr., foi galardoado com o prémio Nobel da Paz de 2007. Pelo seu passado político e pelo seu presente de promotor, vendedor e negociante de direitos de emissão de carbono Al Gore não é um lutador pela paz e o ambiente no planeta.
A atribuição do Nobel da Paz é um prémio à mistificação, um “verdadeiro acto de profanação da memória de muitos ilustres e dignos anteriores recipientes do Prémio Nobel da Paz que a presente atribuição configura”. Quando normalmente a atribuição de tal prémio suscita adesão e alegria, a presente atribuição merece apreciação demorada e crítica severa.
Al Gore fez-se conhecer dentro e fora do seu país, desde que deixou a vice-presidência dos EUA, por via das campanhas sensacionalistas a propósito de uma causa que seria proteger a humanidade ‘contra’ as Alterações Climáticas. Tem feito périplos para propagar as suas crenças e a sua política nos EUA, na Europa e por todo o mundo.
Em Outubro de 2006, o então Ministro da Finanças britânico Gordon Brown designou Al Gore “conselheiro especial do seu governo para as Alterações Climáticas”. Posteriormente, em Março de 2007, Al Gore foi a Edimburgo nessa capacidade, e também como presidente de um fundo de investimentos de risco, para convencer a Associação Britânica de Fundos de Pensões para apostar as pensões nacionais no comércio do carbono que ele, bem como o agora Primeiro Ministro Gordon Brown e a City de Londres, tentam ansiosamente propulsionar, para ajudar a evitar o descalabro do sistema financeiro, já muito abalado pela bolha do imobiliário nos EUA (e não só).
Gordon Brown assumiu audaz, aquando do referido périplo de Al Gore, que pretende tornar Londres no centro do novo mercado mundial do carbono. Literalmente: “A minha ambição é construir um mercado do carbono global, fundado no Esquema de Transacção de Emissões da UE e centrado em Londres. Valendo hoje apenas US$ 9 biliões, esse comércio poderá crescer para 50 a 100 biliões”. A 6 de Fevereiro de 2007, deu uma conferência em Espanha, à qual só foi permitida a assistência àqueles que pagaram 470 € + IVA, sem direito a formular qualquer pergunta, mesmo sendo jornalista. Que grandes negócios!
A sua campanha insere-se ainda numa estratégia que procura assegurar a continuidade da prevalência de direitos e de propriedade dos grandes consumidores de combustíveis fósseis, sobre a capacidade planetária de absorção das correspondentes emissões de carbono, enquanto criando novas oportunidades de lucro para as corporações mediante o comércio do carbono.
Mas mais grave, no caso de se tratar de premiar uma personalidade pelo que terá feito de bem a favor da Paz, é o currículo vitae de Al Gore como senhor da guerra. Foi vice-presidente da Administração Norte-Americana de 20 de Janeiro de 1993 a 20 de Janeiro de 2001 e nessa condição foi co-responsável por intervenções militares em diversos países, apoio a actos de violência bélica e de terrorismo: em 1993-2001, no Iraque. Na Jugoslávia, em 1992-94. Em 1993, na Bósnia-Herzegovina, fomentando a guerra civil de 1994-1995. Noutro “teatro” geo-estratégico, no Sudão em 1998. Em 2000, no Plano Colômbia.
Em 1999, o governo dos EUA rejeitou assinar o Acordo Internacional para a proibição de utilização de minas anti-pessoal, cuja definição inclui também as bombas de fragmentação. Nesse mesmo ano foram lançadas na Jugoslávia 1100 dessas bombas de fragmentação, cada uma das quais contendo 2 centenas de ‘pequenas’ granadas. A respectiva utilização tendeu a multiplicar-se, no Afeganistão, no Iraque, e no Verão de 2006 no Líbano.
Mal havia deixado a Casa Branca continuava ainda fixado na fúria guerreira que caracterizara o seu mandato, e logo se prontificou a transferir toda essa fúria como apoio aos desígnios bélicos de George W. Bush. Após o que se converteu em profeta climático, evangelizador ambientalista e negociante de créditos de carbono, tudo numa só pessoa.
É, por isso, profundamente lamentável o verdadeiro acto de profanação da memória de muitos ilustres e dignos anteriores recipientes do Prémio Nobel da Paz que a presente atribuição configura.