15/09/2009

Comércio Justo também não resiste à crise

Dez anos após a abertura da primeira Loja de Comércio Justo, a crise chegou aos estabelecimentos que lutam contra o trabalho infantil e a exploração dos trabalhadores. Em Lisboa já não existe qualquer loja e muitas outras estão em risco de fechar.
Primeiro fechou uma no Porto, depois seguiu-se a única loja que existia em Lisboa. A loja de comércio justo da baixa de Coimbra também não conseguiu resistir à crise. Em Guimarães, a ‘Cor de Tangerina’, teme também pelo futuro do seu estabelecimento localizado no centro histórico “mesmo em frente ao Palácio dos Duques”, porque “na hora de comprar, as pessoas questionam-se” e acabam por sair de mãos vazias.
“A crise começou em Setembro do ano passado, quando sentimos uma redução de 20 a 30% das vendas. Hoje, temos uma redução de 50 a 70%. Já equacionámos o encerramento da loja”.
O responsável pela abertura da primeira loja em Portugal, reconhece que a “situação é bastante difícil. Chegámos a ter oito lojas e hoje temos apenas cinco: duas no Porto, uma em Guimarães, outra em Braga e em Amarante. Já fechámos uma loja em Lisboa outra no Porto e em Barcelos”.
Quando em Agosto de 1999 abriu, em Amarante, a primeira loja de Comércio Justo em Portugal não imaginou que, passados dez anos, se iria confrontar com a actual situação. Depressa começaram a aparecer interessados num projecto que defendia os direitos dos pequenos produtores do sul do mundo assim como todos os trabalhadores marginais, desde os povos indignas às mães solteiras e viúvas.
No início, as pessoas “duvidaram da iniciativa”, mas depressa perceberam que “era real”. Um pouco por todo o país começaram a aparecer espaços que davam a garantia de que os produtos exóticos, oriundos de países pobres do Sul, eram produzidos respeitando o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores.
No entanto, “o consumidor responsável - disposto a pagar mais para ter a certeza de que se trata de comércio justo, sem exploração infantil e amigo do ambiente - representa apenas 1% dos portugueses”, lembra o director executivo da Oikos referindo-se a um estudo europeu realizado há cerca de cinco anos.
Para ele é preciso que as pessoas percebam que “os seus valores éticos não podem estar dissociados do consumo e da forma como investem o seu dinheiro” e para isso é preciso haver um marketing social que mude a mentalidade dos portugueses. No entanto, reconhece, “só quando há algum desafogo a nível económico é que é permitido às pessoas terem uma consciência responsável”.
Esta é uma ideia corroborada pela associação Reviravolta, no Porto: “em tempos de crise, as pessoas pensam primeiro nas suas necessidades básicas”. Resultado: “temos quebras de 30% de vendas em todas as nossas lojas”.
Apesar de haver menos consumidores, todos os responsáveis envolvidos nestes projectos acreditam que hoje os portugueses estão mais sensibilizados para a causa. Em Lisboa, onde a loja teve quebras de 50% que não permitiram continuar com o projecto, “agora as pessoas fazem encomendas on-line e nós fazemos entregas ao domicílio por envio postal”.

Ver
http://aeiou.expresso.pt/comercio-justo-crise-fecha-lojas-dez-anos-depois-de-abrir-a-primeira=f535418

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