24/09/2009

Desajustes na recolha selectiva conduzem a decisão unilateral de redução da reciclagem

A reciclagem de determinados tipos de plásticos vai sofrer um duro golpe a partir de Outubro.
Copos de iogurte, sacos de batatas fritas e outros recipientes feitos de plásticos mistos, mesmo que depositados nos ecopontos, deixarão de ser recolhidos pela Sociedade Ponto Verde (SPV) - a empresa que gere a reciclagem da maior parte das embalagens em Portugal, em nome da indústria.
Esta é uma das medidas que a SPV está (unilateralmente) a tomar para evitar nada menos do que a sua falência. Ironicamente, o argumento é de que o próprio sucesso da reciclagem em Portugal estará a asfixiar financeiramente a empresa.
A SPV foi criada por produtores, importadores e distribuidores de embalagens para garantir o cumprimento de metas legais de reciclagem. É financiada por um valor cobrado às empresas aderentes. A maior parte desse dinheiro é repassada às entidades que gerem o tratamento de lixo nos municípios, para suprir os custos da recolha selectiva. É o ‘valor de contrapartida’.
A SPV diz que, nos últimos anos, uma série de factores desestabilizaram esta equação. Um deles é a experiência de recolha dos plásticos mistos, iniciada em 2007. Desde então, os cidadãos podiam já depositar copos de iogurte, por exemplo, no contentor amarelo dos ecopontos, com a certeza de que seriam reciclados.
A experiência foi um sucesso em termos de reciclagem, mas um fiasco (?) financeiro. Os plásticos mistos representam 2% das embalagens recolhidas. Mas consumiam 13% dos recursos da empresa. Em dois anos terão sido gastos 15 milhões de euros.
A SPV decidiu suspender agora a recolha, sustentando que isto não comprometerá (??) as suas metas de reciclagem de plásticos - que hoje já superam a meta para 2011. Outras embalagens plásticas, como garrafas de água, não serão afectadas.
Empresas gestoras de lixo, avisadas ontem por e-mail, reagiram com estupefacção à medida. “A decisão foi uma surpresa, foi unilateral”, diz a Valorsul, responsável pelo tratamento dos resíduos de Lisboa, Loures, Amadora, Odivelas e Vila Franca de Xira.
As empresas gestoras já estavam organizadas para separar os plásticos mistos e entregá-los à SPV para reciclagem. Além disso, contavam com o valor de contrapartida nos seus cálculos financeiros. A SPV argumenta que os cidadãos devem continuar a pôr os plásticos mistos no contentor amarelo. Mas como não os vai recolher, o seu destino mais provável será a sua incineração ou deposição em aterro.
Tal situação “não faz sentido, depois de tudo o que fez para preparar a sua reciclagem”, afirma a associação ambientalista Quercus. Acontece que os cidadãos despejam no contentor de papel/cartão vários itens que não são embalagens, como jornais, revistas e folhetos. O simples aumento da taxa de reciclagem de embalagens - actualmente em 52% - estará também a aumentar a factura com os valores de contrapartida.
Porém, “não é acabando com a reciclagem de alguns materiais que se garante o equilíbrio financeiro”.

Ver
http://jornal.publico.clix.pt/noticia/23-09-2009/ponto-verde--recicla-menos-plasticos-para-evitar-falencia-17870790.htm

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