14/06/2009

Desacordo sobre redução de emissões de CO2 bloqueia negociações climáticas

Uma curta referência na página 776 de um relatório científico da ONU que defende uma redução de gases com efeito de estufa (GEE) maior do que a que os países desenvolvidos puseram em cima da mesa tornou-se no principal bloqueio ao novo tratado da ONU para o clima. A conferência de Bona termina assim com poucos consensos.
Para os países em desenvolvimento que participaram nas duas semanas de negociações em Bona, as reduções de GEE pelos países desenvolvidos - de 25 a 40% abaixo dos níveis de 1990, até 2020 - tornaram-se vitais para um acordo em Copenhaga, em Dezembro.
O problema é que muitos países desenvolvidos dizem que essas reduções iriam prejudicar em muito as suas economias. “A fasquia dos 25 aos 40% tornou-se numa espécie de farol”, comentou o director do Secretariado da ONU para as Alterações Climáticas. “As pessoas estão a considerá-la uma forma de medir o sucesso de Copenhaga”.
“Todos sabem que as emissões globais têm que ser reduzidas para metade em 2050 (comparadas aos níveis de 1990), o que implica que os países industrializados devem reduzir as suas emissões em 80 por cento. E todos sabem que as emissões dos países em desenvolvimento devem começar a cair, o mais tardar, em 2025, mas ninguém se está a comprometer”.
Os países em desenvolvimento, liderados pela China e Índia, dizem que os países ricos devem reduzir em, pelo menos, 40 por cento as suas emissões, especialmente da queima dos combustíveis fósseis. Já os pequenos Estados do Pacífico, receando ficar debaixo de água, não aceitam menos que 45 por cento.
Mas muitos países desenvolvidos, liderados pelos EUA, consideram que essa meta não pode ser alcançada: o presidente norte-americano quer reduzir as emissões a níveis de 1990 em 2020, uma redução de 14% a níveis de 2007 e uma redução de 80% em 2050.
E se aos países desenvolvidos são pedidas maiores reduções, os países em desenvolvimento devem abrandar o crescimento das suas emissões. “Ambas as partes sentem que lhes está a ser pedido demasiado”. Não ficou claro como será resolvido este bloqueio.
O director das Relações Internacionais da Nature Conservancy, que acompanhou os trabalhos em Bona, considera que o esboço do acordo está “demasiado longo e o ritmo dos trabalhos é demasiado lento para que consigamos um acordo em Copenhaga”. Além disso, diz, "estas negociações ficaram marcadas por uma falta de urgências entre os negociadores" 1.
Para um responsável pela política climática internacional da Greenpeace, “tornou-se claro que muitos dos enviados especiais a negociar em Bona estão dentro do seu mundinho, alheios às preocupações públicas e à ciência climática”.
A organização sublinha que “não são precisas mais provas para nos alertar para as consequências devastadoras de uma inacção política continuada”. A Greenpeace pede também aos chefes de Estado para agirem “imediatamente para quebrar o bloqueio” para que seja possível chegar a um novo acordo climático em Dezembro 2.

1. Ver http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1386361&idCanal=2100
2. Ver http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1386363&idCanal=2100

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