07/08/2007

Bicicletas em desuso ?

A mobilidade é uma componente essencial da vivência moderna. Inspira infra-estruturas de uso exclusivo que sorvem volumosos orçamentos dos Estados, invenções de veículos motorizados e fundamenta a construção de auto-estradas, de linhas de metro e aeroportos. Construir uma estrada, encher de alcatrão as existentes ou possuir uma viatura de determinado modelo é ainda um ícone que dá votos e um pretenso estatuto social.
Talvez por isso é que os veículos motorizados são o principal meio de transporte usado pelos portugueses. Num estudo recente sobre a mobilidade na Europa é revelado que 58% dos portugueses utilizam carro ou motociclo nas suas deslocações. Portugal, apesar de não produzir petróleo e do preço do combustível ter uma enérgica carga fiscal, que faz deste produto um luxo no espaço europeu, utiliza mais o carro do que a Alemanha, a Holanda ou a Espanha e fica cinco pontos percentuais acima da média europeia, na utilização de veículos motorizados.
A motorização das deslocações dos portugueses relegou para o esquecimento outros meios de transporte, como a utilização da bicicleta em distâncias curtas e em percursos planos. De tal modo que, de acordo com o estudo do Eurobarómetro de Julho deste ano, a bicicleta é apenas utilizada por 1% dos inquiridos portugueses. Um dos valores mais baixos da Europa 1.
Há porém quem confesse que chegou a pedalar e que caiu imensas vezes, algumas vezes com violência, e que acompanhava com emoção as voltas velocipédicas a Portugal. Mas que ouvir alguns políticos fazer a apologia da bicicleta o deixa nervoso e cansado só de pensar no País e na cidade das sete colinas 2.
Com base nesta filosofia (barata) algumas administrações autárquicas ou fazem ‘orelhas das moucas’ das propostas aprovadas unanimemente 3, ou preferiram moldar as empresas municipais de transportes para a gestão de bilhetes, autocarros e parques de estacionamento, em vez de desenhar projectos de mobilidade sustentável que incluam a construção de pistas cicláveis e condições de compatibilização da bicicleta com os restantes meios de transporte. Especialmente quando temos condições climatéricas excelentes e uma indústria de bicicletas com presença internacional, onde existe espaço para inovar e que pode criar condições que permitam superar as subidas mais íngremes.
Ao contrário dos carros e autocarros, dos comboios e dos metros, as bicicletas não têm organismos de gestão dedicados. Os serviços municipais ocupam-se dos transportes colectivos urbanos, do trânsito, dos sentidos proibidos e dos estacionamentos, a CP dos comboios e os ‘metros’ dos trens ‘mais pequenos’.
O uso da bicicleta e o andar a pé são pois as medidas que os portugueses entrevistados para o estudo referido adoptariam, num cenário de poupança de combustível. Esta atitude é, actualmente, um desafio. É preciso consumir menos combustíveis fósseis para inverter a poluição do ar das nossas cidades e o aquecimento do nosso planeta. Os portugueses preferem usar a bicicleta do que alterar os métodos de condução, usar transporte público ou trocar de viatura por uma menos poluente. Face a estes dados, urge criar vias pedonais e cicláveis, que integrem o sistema existente, tendo em vista a mobilidade sustentável das nossas cidades 4.
Desde quando são as bicicletas em Portugal um veículo em desuso ?

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