09/08/2007

'Princesa' extinta por culpa da acção humana

Poderá estar extinta a última ‘princesa’ do rio Yangtzé. Este é o ponto final na história do ‘baiji’, um golfinho de água doce que vivia há mais de 20 milhões de anos no rio Yangtzé, na China. Após uma expedição de seis semanas, entre Novembro e Dezembro de 2006, uma equipa internacional de cientistas não conseguiu localizar nem um exemplar desta espécie (Lipotes vexillifer) ao longo de mais de 1600 quilómetros de rio. O ‘baiji’, que podia atingir 2,4 metros, está extinto graças à... acção do homem.
“Mesmo que ainda exista algum espécime, não o conseguimos encontrar e não podemos fazer nada para impedir a sua extinção”, afirmou à BBC um biólogo da Sociedade Zoológica de Londres, que participou na expedição. “Esta extinção representa o desaparecimento de um ramo completo na árvore da evolução e mostra que ainda não tomámos plena consciência do nosso papel enquanto guardiães do planeta”.
A confirmar-se o pior cenário, este é o primeiro grande vertebrado a desaparecer nos últimos 50 anos e a quarta família de mamíferos extinta em meio século. Será também o primeiro cetáceo (baleia, golfinho, boto) extinto devido à acção do homem.
Segundo os resultados da expedição, publicados ontem na revista Biology Letters, a culpa desta “tragédia chocante” é da pesca predatória e do aumento do tráfego fluvial, com barcos que afectavam o seu sonar. “O ‘baiji’ foi vítima não de uma perseguição activa, mas de uma mortandade resultante do impacto humano a grande escala”.
Na década de 1950, viviam milhares de golfinhos no rio Yangtzé e nos seus afluentes. Contudo, a industrialização da China transformou-o numa verdadeira auto-estrada fluvial: estima-se que 10% da população mundial viva junto ao “grande rio”. Um estudo de 1999 tinha encontrado apenas 13 exemplares deste animal e o último baiji em cativeiro, um macho chamado Qi Qi, morreu em 2002.
Durante a expedição, a equipa de cientistas da China, Japão, EUA e R Unido percorreu 1669 quilómetros do rio, entre a cidade de Yichang (abaixo da barragem das Três Gargantas) e Xangai. Foram usados dois barcos distintos, para garantir que nenhum pedaço de rio ficava por analisar. A observação com binóculos foi complementada com o uso de sonares.
Segundo a lenda, o ‘baiji’ é a reencarnação de uma princesa que recusou casar com um homem que não amava. Por envergonhar a família, a princesa morreu afogada às mãos do próprio pai. Uma lenda que agora poderá ser esquecida, como o próprio golfinho. À classificação “criticamente ameaçado” deverá agora juntar-se a expressão “possivelmente extinto” 1.
Um século atrás, a população destes animais ascendia a mais de cinco mil. Mas a última vez que um indivíduo da espécie foi avistado já foi há dois anos. O golfinho de água doce ou do rio que vivia por estas paragens era conhecido como ‘baiji’ na China. Quando nasce mede até 90 centímetros, alcançando em adulto até 2,40 metros. De cor branca azulada com matizes acinzentados, tinha uma visão muito pouco apurada 2. Terá assim desaparecido a última ‘princesa’ do rio Yangtzé.

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