Nos hipermercados, supermercados, farmácias e boa parte do comércio retalhista embalam-se em saquinhos de plástico - com o logótipo da loja bem visível, claro - todas as compras que passam pela caixa registadora, não importando o tamanho do produto que se tenha à mão.
O pior é que esse gesto já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo viajar num saco plástico. Nossa dependência é de tal ordem que quando ele não está disponível costumamos reagir com reclamações indignadas. Quem se atreve a recusar a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico.
Mesmo que adquira uma simples caixa de comprimidos, uma esferográfica ou um CD que lhe cabe perfeitamente na sua mala de mão, a/o funcionária/o regista a compra e rapidamente lhe enfia a mísera caixinha num saco de plástico onde caberiam seguramente outras dez embalagens.
A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornaram-nos, como consumidores, colaboradores passivos de um desastre ambiental de grandes proporções.
Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água, retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis e dificultam a compactação dos detritos.
Essa realidade já justificou mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países europeus.
Na Alemanha, a ‘guerra’ contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obrigou os produtores e distribuidores de embalagens a aceitá-las de volta e a reciclá-las após o respectivo uso. E o que fizeram os empresários? Viraram imediatamente os custos para o consumidor. A plasticomania deu então lugar à ‘sacomania’, em que cada consumidor transporta o seu próprio saco, e quem não o faz é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. Para além de anti-ecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.
Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com os seus próprios cestos de palha, sacolas de pano ou mesmo mochilas.
Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis, que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartados. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contacto com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para micro organismos encontrados na natureza.
Não há desculpas para não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. Se ainda não acordamos para o problema do descarte das embalagens em geral, e dos sacos plásticos em particular, o planeta exige-o.
Em Portugal, “Os Verdes” bem procuraram fazer aprovar em seio da A.R., no início do ano passado, um projecto de lei visando a redução do excessivo uso de embalagens, sua dimensão e resíduos, mas que acabou por ser rejeitado.
Entre outros objectivos, o projecto alertava para sempre que um cidadão se desloca a uma superfície comercial paga e transporta consigo, sem que o tenha solicitado, um conjunto significativo de embalagens que têm uma origem imediata assim que os produtos são arrumados e guardados em casa: o lixo. Para além disso, a dimensão de muitas embalagens é, por norma, exagerada em relação ao volume dos produtos embalados, o que se traduz numa maior quantidade e volume de resíduos de embalagens.
Este amontoado de embalagens podia ser substancialmente reduzido, especialmente se essas embalagens não tiverem qualquer objectivo de conservação do produto em causa, mas apenas campanhas comerciais de promoção da atractividade do produto, ou técnicas comerciais que visam que o consumidor em vez de uma unidade de produto seja obrigado a adquirir mais unidades. A proposta pretendia assim dar um destino inteligente às embalagens e consequente redução do volume de lixo, e para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que libertam na natureza, assumindo a redução de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.
Haverá algum poderoso ‘lobby’ no mercado interessado na produção e no comércio de embalagens? É preciso declarar guerra à plasticomania e ao excessivo uso de embalagens. Parece haver alguns interesses em jogo. Qual é o seu? Não é o do equilíbrio ambiental?
O pior é que esse gesto já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo viajar num saco plástico. Nossa dependência é de tal ordem que quando ele não está disponível costumamos reagir com reclamações indignadas. Quem se atreve a recusar a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico.
Mesmo que adquira uma simples caixa de comprimidos, uma esferográfica ou um CD que lhe cabe perfeitamente na sua mala de mão, a/o funcionária/o regista a compra e rapidamente lhe enfia a mísera caixinha num saco de plástico onde caberiam seguramente outras dez embalagens.
A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornaram-nos, como consumidores, colaboradores passivos de um desastre ambiental de grandes proporções.
Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água, retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis e dificultam a compactação dos detritos.
Essa realidade já justificou mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países europeus.
Na Alemanha, a ‘guerra’ contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obrigou os produtores e distribuidores de embalagens a aceitá-las de volta e a reciclá-las após o respectivo uso. E o que fizeram os empresários? Viraram imediatamente os custos para o consumidor. A plasticomania deu então lugar à ‘sacomania’, em que cada consumidor transporta o seu próprio saco, e quem não o faz é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. Para além de anti-ecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.
Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com os seus próprios cestos de palha, sacolas de pano ou mesmo mochilas.
Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis, que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartados. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contacto com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para micro organismos encontrados na natureza.
Não há desculpas para não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. Se ainda não acordamos para o problema do descarte das embalagens em geral, e dos sacos plásticos em particular, o planeta exige-o.
Em Portugal, “Os Verdes” bem procuraram fazer aprovar em seio da A.R., no início do ano passado, um projecto de lei visando a redução do excessivo uso de embalagens, sua dimensão e resíduos, mas que acabou por ser rejeitado.
Entre outros objectivos, o projecto alertava para sempre que um cidadão se desloca a uma superfície comercial paga e transporta consigo, sem que o tenha solicitado, um conjunto significativo de embalagens que têm uma origem imediata assim que os produtos são arrumados e guardados em casa: o lixo. Para além disso, a dimensão de muitas embalagens é, por norma, exagerada em relação ao volume dos produtos embalados, o que se traduz numa maior quantidade e volume de resíduos de embalagens.
Este amontoado de embalagens podia ser substancialmente reduzido, especialmente se essas embalagens não tiverem qualquer objectivo de conservação do produto em causa, mas apenas campanhas comerciais de promoção da atractividade do produto, ou técnicas comerciais que visam que o consumidor em vez de uma unidade de produto seja obrigado a adquirir mais unidades. A proposta pretendia assim dar um destino inteligente às embalagens e consequente redução do volume de lixo, e para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que libertam na natureza, assumindo a redução de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.
Haverá algum poderoso ‘lobby’ no mercado interessado na produção e no comércio de embalagens? É preciso declarar guerra à plasticomania e ao excessivo uso de embalagens. Parece haver alguns interesses em jogo. Qual é o seu? Não é o do equilíbrio ambiental?
Fonte: Jornalista e apresentador no canal Globonews, pós-graduado em meio ambiente e Projecto de lei do ‘PEV’ de Fev. 2006
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