15/08/2007

Desenvolvimento do conhecimento

As Nações Unidas propõem que os programas de apoio aos países mais pobres do mundo devam dar prioridade ao conhecimento e ao desenvolvimento tecnológico, para que sejam mais eficazes. Estes países tem até hoje sido incentivados a abrir as suas economias ao comércio internacional e ao investimento estrangeiro como via para o seu desenvolvimento, mas os resultados gerais ou foram escassos ou contraditórios. Por outras palavras, ficaram ainda mais marginalizados na economia global.
Este é o balanço do qual parte a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCD) no seu último relatório anual ‘Conhecimento, aprendizagem tecnológica e inovação’ sobre os países de pobreza extrema para justificar a proposta de uma mudança profunda do modelo: em vez de ‘desenvolvimento’, a palavra-chave deve ser ‘conhecimento’, defendendo que o primeiro, ‘na verdade’, não existe sem o segundo.
A CNUCD refere que a “rápida e profunda liberalização do comércio e do investimento” nestes países desde a década de 80 “não evitaram a sua marginalização em relação aos fluxos tecnológicos”, pois a “liberalização sem aprendizagem tecnológica resultará, no fim, numa marginalização acrescida”. Se os PMD “não adoptarem políticas de estímulo à convergência tecnológica com o resto do mundo vão continuar a atrasar-se e a enfrentar uma marginalização cada vez mais profunda na economia global”, alerta a organização.
Para os 767 milhões de pessoas que vivem nos países mais pobres do mundo, os especialistas antecipam dois futuros possíveis: ou agravam a sua situação ou entram num progressivo e sustentado crescimento económico, para o qual o contributo decisivo terá de vir do conhecimento e da tecnologia. “Os governos dos países mais pobres do mundo e os seus parceiros no desenvolvimento devem promover o progresso tecnológico como parte do seu esforço para desenvolver as capacidades produtivas domésticas”. Um país entra na lista dos PMD quando, entre outros critérios, tem um rendimento nacional bruto per capita inferior a 750 dólares, na média de três anos.
“A concessão de mais ajuda ao conhecimento, desde que dirigida para as áreas certas e nas modalidades apropriadas, pode ser a chave para a tornar eficaz”, acrescenta o relatório. É este, aliás, o triângulo que explica como países do Sudeste asiático deixaram de estar entre os mais pobres e são hoje designados por países ‘em desenvolvimento’.
Como a globalização não é a solução, e tal como na velha sabedoria oriental, ‘não dês peixe, dá antes a cana e ensina a pescar’.

Ver Público 2007-08-13, p. 31

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