Para um invisual, cabinas, buracos, lixo, obras, tudo transforma a sua caminhada num perigoso ziguezague, mesmo num percurso de escassas centenas de metros em Lisboa. As armadilhas são várias, os perigos reais e as consequências dolorosas e só não vê quem não quer (ou não pode).
O passeio, de escassos 400 metros de percurso, foi acompanhado por dois cegos, para mostrar o calvário por que passam os deficientes visuais, numa zona que “até nem é das piores da capital”, bem próximo da delegação de Lisboa da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), na Avenida da Liberdade.
O passeio, de escassos 400 metros de percurso, foi acompanhado por dois cegos, para mostrar o calvário por que passam os deficientes visuais, numa zona que “até nem é das piores da capital”, bem próximo da delegação de Lisboa da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), na Avenida da Liberdade.

“Quando as cabinas telefónicas estão no meio de passeios apertados, obriga-nos a ir para o alcatrão, sem que consigamos ver se há carros”, recorda o secretário da delegação lisboeta da ACAPO, telefonista, na CML. “Há seis meses, circulava por uma estação de metro que não conhecia bem e ia junto à parede quando choquei forte com a cabeça numa estrutura destas, o que me magoou ao ponto de fazer sangue”, lembrou por sua vez o presidente, que trabalha como telefonista numa grande superfície em Lisboa.
Também uma placa de publicidade, que chega a ocupar meia largura do passeio público, foi alvo de críticas destes dois deficientes visuais, pois a bengala também não as detecta no imediato.
Descer a Avenida, um novo obstáculo: uma volumosa placa de cimento ocupa o passeio na íntegra, com vigas de ferro a segurar a fachada há muito abandonada, já que o miolo do prédio ruiu há anos. Além da parte estética incompreensível para uma zona nobre da cidade, aquela solução provisória de segurança obriga a circular pela rua. “Já estamos mais ou menos a habituados a estas eventualidades permanentes”, brincou um dos invisuais.
Mas há outras armadilhas detectáveis num tão curto passeio pela avenida. O lixo que se acumula em certos passeios, os dejectos dos animais que os donos não apanham do chão, as rodas de cimento que evitam o estacionamento em certas zonas - “essas dão queda garantida” -, carros em cima dos passeios e placas de trânsito à altura das cabeças, que já provocaram muitos acidentes.
Os representantes da ACAPO deixam interrogações prementes: “E de quem é a culpa desses acidentes? E se um dia há ferimentos graves?” 1.
Outra das dificuldades é o facto de os automóveis híbridos serem silenciosos. Se para a maioria das pessoas o silêncio é uma vantagem, para os invisuais pode ser um problema. É que o barulho transmitido pelos automóveis permite aos invisuais circularem com alguma segurança nas ruas, porque o seu sentido auditivo é mais desenvolvido. Já há por isso associações de cegos a pedirem que seja criada legislação que determine limites mínimos de som para estes veículos, de modo a garantir a segurança dos deficientes no trânsito 2.
Estima-se que em Portugal existam 160 mil deficientes visuais. Os obstáculos serão perigosamente, muitos, muitos mais.
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