28/11/2007

A factura dos pobres

As populações mais pobres são as que mais sofrem as consequências das alterações climáticas. De acordo com um perito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o “efeito das alterações climáticas vai reforçar a desigualdade (entre os povos)”.
Exemplificando, o perito afirmou que as populações mais pobres estão concentradas em zonas geograficamente mais frágeis e mais sujeitas a inundações ou outras catástrofes naturais, onde “três quartos da população que vive em pobreza extrema depende da agricultura para subsistir e as alterações climáticas vão colocar em causa a manutenção dessa agricultura”, acrescentou.
Destacou ainda cinco factores que vão sofrer grandes consequências com as alterações climáticas: redução da produtividade agrícola, maiores dificuldades no acesso à água, maior exposição a desastres naturais, colapso dos ecossistemas e um aumento dos riscos para a saúde.
O perito alertou que se não se fizer nada para reduzir a emissão de gazes de efeito estuda, quando o mundo começar a sentir os seus efeitos “nessa altura não há nada a fazer”. Uma outra perita do PNUD defendeu, por isso, a implementação a nível internacional de políticas que promovam uma maior eficácia no uso da energia, tecnologias de reduzidas emissões de gazes, incentivos às energias renováveis e uma melhor gestão das florestas, entre outros 1.
Qual a solução encontrada pelos países mais ricos?
A Conferência de Bali, que decorrerá entre 3 e 14 de Dezembro na Indonésia, será dedicada às alterações climáticas. Em cima da mesa vão estar temas como a redução efectiva de emissões de carbono nos países desenvolvidos, formas de contribuição mensuráveis dos países em desenvolvimento, o financiamento dos mercados de carbono, a aposta em tecnologias limpas, a desflorestação e as emissões poluentes associadas ao transporte marítimo e aéreo.
Ao nível dos objectivos da União Europeia, a principal preocupação é tornar operacional o Fundo de Adaptação, um mecanismo previsto no Protocolo de Quioto e que tem como principal objectivo financiar projectos em países em vias de desenvolvimento que lhes permitam adaptar-se às alterações climáticas.
Mas afinal em que consiste este Fundo?
Ele é financiado por contribuições voluntárias e por uma taxa de 2% aplicada sobre Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, que permitem aos países desenvolvidos financiar projectos de desenvolvimento sustentável nos países mais pobres, obtendo em troca uma permissão para aumentar os seus níveis de emissão de gases com efeito de estufa 2.
Descodificando: como os países ricos têm muito dinheiro, propõem-se pagar a factura dos mais pobres, ficando com o direito a poluir a % que estes não conseguem gastar. Simples não é?

1. Ver Lusa doc. nº 7746355, 27/11/2007 - 15:20
2. Ver Lusa doc. nº 7744125, 26/11/2007 - 22:00

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