06/06/2008

Prepotência na gestão do espaço público

A apresentação de um novo modelo de marca de automóveis arrancou antes de ontem à tarde na Praça das Flores, na Freguesia das Mercês, sob os protestos dos comerciantes e moradores da zona. Em causa está o facto de a CML ter autorizado que a organização (privada) vedasse o local durante os 17 dias do evento, condicionando o acesso automóvel e pedonal à praça, a troco de 150 mil euros e da reabilitação do jardim central.
Embora o protesto dos munícipes conte já uma semana, os tumultos arrancaram 3ª fª à noite, com dois manifestantes a serem conduzidos à esquadra da polícia por não apresentarem identificação, confirmou fonte da PSP.
Segundo os comerciantes e moradores locais, o incidente ocorreu por volta das 21h30, quando o dono da loja de óptica local insistiu com os seguranças do evento em atravessar a praça. “Ia a passar pelo meio do jardim, quando os seguranças apareceram e me barraram a passagem. Entretanto, já se tinham juntado pessoas a protestar, a PSP pediu reforços e os polícias acabaram por levar duas delas” para a esquadra, conta o especialista em optometria.
Com acesso pedonal restringido e automóveis longe da vista, os comerciantes da Praça das Flores já fazem contas à vida. É que entre o montar e o desmontar do evento publicitário passa-se cerca de um mês de ‘época alta’ para o comércio tradicional.
“Não me falem em dinamização da Praça das Flores. Um cliente pode passar bem sem vir ao meu restaurante durante um mês, mas eu não sobrevivo sem clientes. Ainda ontem servi apenas três jantares. Se o evento avançar, tenho de fechar”, protestou o dono de um estabelecimento local, minutos antes do arranque do evento. “As pessoas (…) não querem sequer vir meter-se na confusão”, explicou.
Mas o que mais indigna os moradores é não terem sido avisados do evento antes de começarem as restrições. “Só me apercebi de tudo no dia 28 de Maio, quando começaram a vedar o estacionamento. Como é que não somos tidos nem achados numa coisa tão importante? É uma prepotência por parte da Câmara”, criticou o optometrista.
Escassos minutos depois do início da iniciativa da empresa de automóveis já algumas dezenas de pessoas protestavam espontaneamente contra as restrições da organização. Sempre que um idoso era impedido de atravessar a praça, os ânimos exaltavam-se. Os 11 agentes da PSP e os seguranças presentes no local foram os alvos preferidos. Uma moradora da praça, explicou porquê: “a minha mãe teve uma crise enorme quando ouviu a música dos ensaios. Tem Alzheimer e pensou que estavam a lançar bombas. E o meu neto está a estudar para entrar na Faculdade e já não aguenta o barulho. É inadmissível que vendam a praça”, censurou 1.
A questão fulcral é que a vereação municipal vende prepotentemente o espaço público a troco de um ‘cheque’, mas à custa da qualidade de vida dos residentes.

1. Ver Público, 2008-06-05

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