29/09/2008

Nos 20 anos do sistema Gertrude

O ‘Gertrude’ é um sistema de controlo centralizado de gestão do trânsito, implantado na cidade de Lisboa há cerca de vinte anos.
Basicamente, é um software que gere o sistema de semáforos do centro da cidade e gere os fluxos automóveis, através de sensores implantados no pavimento e ligados a uma estação central de controlo viário. Foi concebido por uma empresa de Bordéus e tem sido gerido em parceria pelo departamento de tráfego da CML e pela Eisa-Tesis, uma firma portuguesa que detém o monopólio da semaforização de Lisboa (por sinal, a mesma que implantou o sistema de radares fixos da cidade).
O sistema tem sido criticado por contribuir para o estado geral de caos do trânsito da cidade. E para o ambiente de insegurança rodoviária que resulta de uma circulação automóvel feita em velocidade excessiva.
O que é necessário explicar é o facto de: 1) o sistema ser flexível; 2) o seu afinamento actual não é imputável à empresa francesa, mas resulta de directivas políticas assentes numa visão arcaica da mobilidade urbana; e 3) a empresa tem, desde há vários anos, insistido em convidar - sem qualquer sucesso até hoje - os sucessivos presidentes da CML e seus vereadores do trânsito, bem como as administrações da Carris, a visitar Bordéus, para que uns e outros possam perceber como o sistema pode funcionar com outro tipo de directivas.
Apesar de Bordéus ser uma cidade média francesa, cujo município, como muitas outras autarquias europeias, apostou na redução drástica do acesso do automóvel privado às zonas centrais da malha urbana, fê-lo criando parques de estacionamento na periferia, introduzindo linhas de eléctrico que, como um metro de superfície, ocupam o espaço antes cedido ao automóvel nas principais vias da cidade, e alterando o afinamento do ‘Gertrude’ de modo a dar total prioridade ao transporte colectivo (eléctrico e autocarros) e ao trânsito de peões e bicicletas, em detrimento do transporte automóvel privado.
O resultado foi o aumento exponencial da qualidade de vida na cidade, uma profunda requalificação urbanística, uma economia de transportes mais sustentável e uma impressionante redução da poluição atmosférica e acústica.
Em contraponto, Lisboa tem apostado em construir vias rápidas e túneis que garantem a invasão diária de mais de meio milhão de veículos à cidade…

Sem comentários: