13/09/2008

Segunda fila… sempre!

Um ano depois do início da ‘campanha de tolerância zero’ ao estacionamento ilegal em segunda fila movida pela CML 1, carros parados na via com recurso à técnica dos ‘quatro piscas’ continuam a fazer parte da paisagem de Lisboa, na Baixa, nas Avenidas Novas, em suma, um pouco por todo o lado.
Reconhece-se que a fiscalização existe: “os homens da EMEL (Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa) andam sempre aí, às vezes nem passam cinco minutos e vêm logo rondar os carros”, mas a ‘epidemia’ do estacionamento em segunda fila deve-se à escassez de lugares legais.
Segundo um munícipe que trabalha há quinze anos numa loja na Avenida 5 de Outubro, “em Agosto, estaciona-se bem, mas normalmente, quem anda por aí não consegue apanhar lugar”, afirma, apontando o carro estacionado na zona de cargas e descargas em frente da sua loja. “É claro que isto nos prejudica sempre, porque um cliente que queira estacionar para vir à loja não consegue ou tem que andar a procurar”, refere. “As piores alturas são de manhã e à tarde”.
O dono de um quiosque nas Avenidas Novas, tem uma percepção diferente, afirmando que “ultimamente, as pessoas já não estacionam tanto [em segunda fila], têm medo por causa dos bloqueadores”, mas aponta que “a PSP e a EMEL andam mais a multar quem estaciona nas zonas de cargas e descargas”.
Num stand de automóveis por perto, o problema só não é maior devido à proximidade permanente da polícia junto ao Ministério da Educação, afirmou uma funcionária. “Como temos aqui ao pé a polícia, não acontece tanto”, acrescenta, reiterando que o início da manhã e o início da tarde são as alturas mais críticas, com carros que impedem os clientes de estacionar.
Um percurso pelo centro da cidade é praticamente impossível de fazer sem apanhar vários carros estacionados em segunda fila, muitos dos quais param a fazer descargas em estabelecimentos comerciais, muitas vezes praticamente em cima de semáforos. A manobra é conhecida de qualquer automobilista que circule regularmente em Lisboa: ligam-se os quatro piscas para indicar que se trata de uma paragem relativamente breve e já está a rua ‘entupida’ em uma das faixas.
“As pessoas ao princípio tiveram mais algum respeito [com a campanha "tolerância zero aplicada pela autarquia há um ano no centro da cidade] mas já se sabe, escapa-se uma vez, escapa-se duas e volta tudo ao mesmo”, referiu um morador de uma artéria paralela à Avenida da Liberdade. “Quando não há lugar e têm que parar, não importa estarem a tapar a passagem aos outros, a pessoa quando tem que parar, pára mesmo”.
Na Avenida A. Augusto de Aguiar, um condutor que preferiu não ser identificado e acabado de parar em segunda fila afirmou que aquele expediente é “forçado, porque há horas em que é impossível encontrar lugar”. “Eu até percebo que irrite muitas pessoas, eu também conduzo e muitas vezes tenho que me desviar dos carros mal parados, mas que é que se há-de fazer? Temos todos que viver com isto”, argumenta 2.
Escassez de lugares legais? Temos de viver com isto? Aquele expediente é ‘forçado’? Por quem? Pelos peões que tentam circular nos passeios? Há horas em que é impossível encontrar lugar? Mas será que já experimentou andar de transportes públicos na cidade? Ou recorrer a meios de Mobilidade Suave? Sim, porque a campanha de tolerância zero da CML não passou de mais um ‘show off’ para a comunicação social.

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