29/07/2007

Um país a duas velocidades

A velocidade máxima de 50 ou de 80 km/hora estabelecida pelos radares da CML não é aplicável a todos os veículos. Há excepções. Segundo o Código da Estrada as viaturas “em sentido de urgência” estão isentas das coimas previstas.
Só que os veículos ‘isentos’ incluem, além das ambulâncias e outras viaturas dos bombeiros e do INEM, carros ao serviço do Estado, ou seja, das autarquias, das polícias e outras entidades oficiais 1. E é tão frequente assistirmos à sua passagem - rompendo entre o trânsito e por tudo o que é sinal vermelho - precedidos pelas motorizadas da PSP ou da GNR.
Que uma ambulância, bombeiros ou uma perseguição policial justifiquem a ultrapassagem de todos os limites de velocidade impostos ao comum dos condutores nas nossas cidades e estradas, ainda se compreende. E aceita. Agora que se estabeleça uma lista de isenções corporativas em uso normal de funções para uma série de veículos oficiais, indígenas ou estrangeiros, só porque sim, não é uma grande ideia. E não se justifica.
É sabido que o tráfego nas cidades deste país sofre as consequências de um fluxo demasiado febril em velocidade e condução. A instalação dos 21 radares estrategicamente polvilhados pela paisagem da capital produziu já dezenas de milhares de infractores. Imagine-se, pois, neste cenário o efeito junto do condutor reprimido da passagem veloz de um veículo oficial à velocidade que a personalidade sentada no banco de trás considere compatível com os seus superiores interesses.
Já assistíamos a cenas destas nas auto-estradas do País. Agora, em Lisboa, o espectáculo de um país a duas velocidades aprofunda a ideia de que ‘eles’ continuam a fazer o que lhes apetece. Noção tanto mais inaceitável quanto a pressa no topo do Estado vai desacelerando à medida que vamos descendo na hierarquia para desaguar na lentidão exasperante dos serviços de atendimento 2.
São (maus) exemplos de cidadania a duas velocidades.

1. Ver
http://dn.sapo.pt/2007/07/27/cidades/limite_velocidade_se_aplica_a_veicul.html
2. Ver http://dn.sapo.pt/2007/07/27/editorial/um_pais_varios_radares_duas_velocida.html

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