12/11/2008

Contentores em Alcântara requerem soluções complicadas

Existe uma grande agitação à volta da revisão do terminal de contentores no cais de Alcântara, no porto de Lisboa. Em Abril foi o anúncio e agora a publicação do Decreto-lei que autoriza a prorrogação do prazo de concessão ao actual locatário até 2042, com a justificação de que tal é necessário para amortizar o investimento na ampliação desse mesmo terminal, de modo a aumentar a sua capacidade actual para o triplo.
Argumenta-se que essa ampliação é estratégica para o País, permitindo que o porto de Lisboa passe a assegurar uma fatia importante no mercado nacional e internacional de movimentação de contentores. Como contrapartida, o concessionário assegura a realização de um conjunto de obras, com destaque para, além da ampliação do próprio terminal, a construção de um túnel ferroviário de ligação da Linha de Cascais à Linha de Cintura, acabando com a actual ligação à superfície.
A obra poderá ser uma oportunidade para racionalizar todo o sistema de transportes públicos naquela zona, transformando a estação de Alcântara Terra num grande nó intermodal, ligando a Linha de Cascais e a Linha de Cintura, mas também o Eixo Norte-Sul (no Alvito), bem como ser o ponto de convergência das linhas Amarela e Vermelha do Metro. Todavia, a realização desta obra não pode ser usada como justificação para a ampliação do terminal de contentores.
O cais de Alcântara só muito recentemente (meados dos anos 80) passou a movimentar contentores, tendo funcionado como uma gare marítima. Ainda nos anos 90 os planos do porto de Lisboa passavam por melhorar as condições daquele cais para o movimento de paquetes, tendo inclusivamente sido realizadas obras de reabilitação do contíguo cais da Rocha do Conde de Óbidos.
Há três ou quatro anos dá-se, contudo, uma grande viragem: a ideia passou a ser pôr os paquetes em Santa Apolónia, enquanto Alcântara passava a ficar reservada para os contentores. É, no mínimo, estranho.
Ocupando Alcântara uma posição muito mais nobre e central, porque é que os paquetes hão-de ir para Santa Apolónia e os contentores hão-de estar em Alcântara? Se esta troca é estranha, mais estranho é ouvir-se falar em aumentar a capacidade do terminal. Então, não haverá outros portos, como Setúbal ou Sines (cujo terminal está a ser ampliado), que possam movimentar esses contentores?


E será que na foz do Tejo não haverá outros locais mais apropriados? Ouve-se dizer que não, que no futuro talvez, na Trafaria. Mas, na Trafaria, como? Seriam precisas obras muito complicadas, com impactes no rio difíceis de avaliar. Além disso, um terminal de contentores precisa de boas ligações ferroviárias e, na Trafaria, além de não existirem, a sua construção causaria impactes impressionantes (lá se ia a arriba fóssil).
Ora, existe um local no porto de Lisboa que tem condições privilegiadas para instalar um grande terminal de contentores. Trata-se do antigo cais da Siderurgia Nacional, no Seixal.
Além de uma enorme área disponível (quase cem hectares), esta zona passou recentemente a dispor de uma excelente serventia ferroviária, com a construção do ramal que ligou as fábricas da Siderurgia Nacional e da Lusocider ao Eixo Norte-Sul, em Coina. Além disso, fica próximo da futura plataforma logística do Poceirão, onde poderá ser feito o transbordo dos contentores. Claro que será preciso dragar mais profundamente o canal fluvial do Barreiro, mas isso serão ‘trocos’ em comparação com os benefícios duma tal localização.
Havendo alternativas, para quê arranjar soluções complicadas e conflituosas?

Ler S. Pompeu Santos, membro conselheiro da Ordem dos Engenheiros, IN
http://dn.sapo.pt/2008/11/08/opiniao/contentores_alcantara_sera_mesmo_nec.html

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