«A revolução era urgente, mas ninguém a fazia. Quando era preciso agir, mas, por medo, inépcia ou calculismo, ninguém agia.
Foi um processo lento. Nas reuniões do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas, já em 1973, muitos militares ainda recusavam terminantemente a ideia de pôr fim à guerra. Mas foi ganhando terreno a noção de que era preciso resolver o conflito de outra forma.
Os protestos começaram logo. Na Guiné e no Continente, houve reuniões, abaixo-assinados, manifestos. Mais tarde o Chefe de Governo aumentaria os salários dos capitães, mas o Movimento já estava em marcha e era imparável.
Após uma reunião, em Outubro de 1973, no apartamento do capitão Diniz de Almeida, no Bairro do Rego, o capitão Vasco Lourenço dá boleia ao capitão Otelo Saraiva de Carvalho, cujo carro ainda não chegou da Guiné. Têm um furo, na Avenida de Berna.
“Eu não sei o que é que tu pensas, Vasco, mas ultrapassada esta parte da luta do Movimento dos Capitães, que praticamente já ganhámos, acho que podemos ir muito mais longe, e criarmos condições para derrubarmos o Governo. Que é que tu achas?”, diz Otelo, enquanto mudam o pneu.
“Eu penso exactamente como tu”, responde Vasco Lourenço.
“Então vamos para a frente. Mas com calma, para não chocar os camaradas”.
Numa das últimas reuniões ainda na Guiné, a 25 de Agosto, na sala do Agrupamento de Transmissões, para aprovar um documento de protesto contra o decreto, um capitão engenheiro, Jorge Golias, toma a palavra e declara, exaltado:
“Estamos a perder demasiado tempo a pensar e discutir sobre o conteúdo do documento, quando devíamos era preparar-nos para a revolução armada, pois o que interessa é abater o regime, e isso só se consegue à porrada”.
É o pânico na sala, e a maior parte dos participantes quer abandonar a reunião. “Não, nisso eu não alinho”, dizem. E o Golias, isolado, acaba por calar-se.
Sábado, 24 de Novembro de 1973. A reunião realiza-se num armazém nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em São Pedro do Estoril. Estão presentes os elementos das comissões coordenadora e consultiva e oficiais de patente mais elevada. Ao todo, 80 camaradas. O objectivo é a eleição de uma Comissão Coordenadora efectiva, que represente o Movimento.
Quando ninguém espera, o tenente-coronel Luís Banazol faz um discurso, com voz rouca: “A única via possível para a reconquista do prestígio há muito perdido pelas Forças Armadas é o derrube pela força do Governo marcelista através de um golpe militar e o fim da ignominiosa guerra colonial...”
Burburinho na sala. “Meus senhores, sejamos realistas!”, grita o major Vítor Alves. E acaba por se aprovar a continuidade da guerra, exigindo embora melhor armamento. A seguir à tentativa de golpe (das Caldas), 23 camaradas foram presos e Vasco Lourenço é colocado nos Açores.
[Perante os avanços e os recuos] era como se a revolução estivesse à espera de ser feita, mas precisasse, ainda assim, de alguém que a fizesse.
Uma linha telefónica directa foi montada da Escola Prática de Transmissões até ao Posto de Comando, instalado no regimento de Engenharia da Pontinha. “Então, Salgueiro? Tens perguntas?” “Duas. Primeira: temos base de sustentação política, para o caso de sermos bem-sucedidos na operação militar?” “Temos, sim senhor. O Vítor Alves formou o grupo político e o Melo Antunes deu-nos as bases programáticas”.
Quartel do Carmo, 25 de Abril. As forças de Salgueiro Maia, vindas do Terreiro do Paço, cercam o edifício, onde se refugiou o presidente do Conselho (…)
Mais tarde, a Junta anunciava o Programa do Movimento das Forças Armadas, formaram-se os primeiros governos provisórios, libertaram-se os presos políticos, regressaram os exilados, foram legalizados os partidos.
O golpe transformou-se em Revolução porque o poder caiu realmente na rua através da participação popular…»
Foi um processo lento. Nas reuniões do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas, já em 1973, muitos militares ainda recusavam terminantemente a ideia de pôr fim à guerra. Mas foi ganhando terreno a noção de que era preciso resolver o conflito de outra forma.
Os protestos começaram logo. Na Guiné e no Continente, houve reuniões, abaixo-assinados, manifestos. Mais tarde o Chefe de Governo aumentaria os salários dos capitães, mas o Movimento já estava em marcha e era imparável.
Após uma reunião, em Outubro de 1973, no apartamento do capitão Diniz de Almeida, no Bairro do Rego, o capitão Vasco Lourenço dá boleia ao capitão Otelo Saraiva de Carvalho, cujo carro ainda não chegou da Guiné. Têm um furo, na Avenida de Berna.
“Eu não sei o que é que tu pensas, Vasco, mas ultrapassada esta parte da luta do Movimento dos Capitães, que praticamente já ganhámos, acho que podemos ir muito mais longe, e criarmos condições para derrubarmos o Governo. Que é que tu achas?”, diz Otelo, enquanto mudam o pneu.
“Eu penso exactamente como tu”, responde Vasco Lourenço.
“Então vamos para a frente. Mas com calma, para não chocar os camaradas”.
Numa das últimas reuniões ainda na Guiné, a 25 de Agosto, na sala do Agrupamento de Transmissões, para aprovar um documento de protesto contra o decreto, um capitão engenheiro, Jorge Golias, toma a palavra e declara, exaltado:
“Estamos a perder demasiado tempo a pensar e discutir sobre o conteúdo do documento, quando devíamos era preparar-nos para a revolução armada, pois o que interessa é abater o regime, e isso só se consegue à porrada”.
É o pânico na sala, e a maior parte dos participantes quer abandonar a reunião. “Não, nisso eu não alinho”, dizem. E o Golias, isolado, acaba por calar-se.
Sábado, 24 de Novembro de 1973. A reunião realiza-se num armazém nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em São Pedro do Estoril. Estão presentes os elementos das comissões coordenadora e consultiva e oficiais de patente mais elevada. Ao todo, 80 camaradas. O objectivo é a eleição de uma Comissão Coordenadora efectiva, que represente o Movimento.
Quando ninguém espera, o tenente-coronel Luís Banazol faz um discurso, com voz rouca: “A única via possível para a reconquista do prestígio há muito perdido pelas Forças Armadas é o derrube pela força do Governo marcelista através de um golpe militar e o fim da ignominiosa guerra colonial...”
Burburinho na sala. “Meus senhores, sejamos realistas!”, grita o major Vítor Alves. E acaba por se aprovar a continuidade da guerra, exigindo embora melhor armamento. A seguir à tentativa de golpe (das Caldas), 23 camaradas foram presos e Vasco Lourenço é colocado nos Açores.
[Perante os avanços e os recuos] era como se a revolução estivesse à espera de ser feita, mas precisasse, ainda assim, de alguém que a fizesse.
Uma linha telefónica directa foi montada da Escola Prática de Transmissões até ao Posto de Comando, instalado no regimento de Engenharia da Pontinha. “Então, Salgueiro? Tens perguntas?” “Duas. Primeira: temos base de sustentação política, para o caso de sermos bem-sucedidos na operação militar?” “Temos, sim senhor. O Vítor Alves formou o grupo político e o Melo Antunes deu-nos as bases programáticas”.
Quartel do Carmo, 25 de Abril. As forças de Salgueiro Maia, vindas do Terreiro do Paço, cercam o edifício, onde se refugiou o presidente do Conselho (…)
Mais tarde, a Junta anunciava o Programa do Movimento das Forças Armadas, formaram-se os primeiros governos provisórios, libertaram-se os presos políticos, regressaram os exilados, foram legalizados os partidos.
O golpe transformou-se em Revolução porque o poder caiu realmente na rua através da participação popular…»
Após a clandestinidade, a liberdade e a democracia foram conquistadas a ferros. A luta confunde-se entre o verde e o vermelho. Por isso, escutem: A Revolução está na rua!
Ver http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1376370&idCanal=62
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