08/04/2009

Quando um Museu deixa muita gente zangada

A história da mudança do Museu dos Coches já vai longa. Terá sido há pelo menos 15 anos que alguns entusiastas do 'cavalo lusitano' falarem na ideia, que era na altura defendida pelos dirigentes da Escola Portuguesa de Arte Equestre. O propósito era então o de que o Picadeiro Real, onde estão instalados os Coches, voltasse a ser usado para as exibições da escola equestre, e que, por outro lado, os coches da colecção que se encontra em Vila Viçosa fossem trazidos para Lisboa, para se juntarem aos outros.
A Cultura adquiriu então à Defesa o espaço das Oficinas Gerais do Exército (OGE), em Belém, local do futuro museu. Mas data de Junho de 1998, a resolução do Conselho de Ministros que decide avançar com a construção, argumentando que “desde há muito que se reconhece que o actual espaço ocupado pelo Museu dos Coches é demasiado pequeno para acolher e exibir toda a valiosa colecção do museu”.
Nessa resolução continua a referir-se a intenção de “restituir o picadeiro à sua função original”, ideia recentemente abandonada depois de vários pareceres que indicavam que o picadeiro não estaria em condições de receber novamente cavalos.
O processo paralisou de novo e só voltou a arrancar em 2006, quando foi anunciado que o novo edifício seria construído com dinheiro das contrapartidas da concessão do Casino de Lisboa, depositadas no Instituto de Turismo de Portugal (o que levou a que o projecto fosse coordenado pelo Ministério da Economia).
Recentemente, nas últimas semanas, começaram as obras para desmantelar as OGE. O objectivo era que o novo museu - que poderá receber 33 coches de Vila Viçosa, onde ficarão 44 - estivesse pronto a tempo das comemorações da República, em 2010. O orçamento previsto é de 31 milhões de euros 1.

Mas a polémica não se fica por aqui.
Até que ponto constitui um ‘projecto-âncora’ que permita a regeneração urbana da zona de Belém?
Não está comprovado que o investir nos Coches é por o museu ter potencial para aumentar significativamente o número de visitantes.
Mas há mais razões contra.
O dinheiro devia ser utilizado para a requalificação de outros museus da rede nacional, que lutam com enormes dificuldades financeiras.
Se se tivesse mesmo que construir um edifício de raiz, deveria ser para outro museu que não os Coches, que tem a única colecção que não vai crescer.
Uma das razões do sucesso dos Coches é encontrar-se no espaço do antigo Picadeiro Real. Passá-lo para um espaço moderno vai fazer com que a colecção perca uma parte do seu encanto.
Não existe qualquer base para afirmar que o número de visitantes do novo museu pode crescer até um milhão.
- A construção do novo museu no local das antigas Oficinas de Material do Exército obriga à mudança de serviços ligados à Arqueologia para o edifício da Cordoaria, um Monumento Nacional que estaria assim a ser “desfigurado” 2.
Daí a petição em defesa das actuais instalações do Museu dos Coches 3.


1. Ver
http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fdt%3D20090329%26page%3D2%26c%3DA
2. Ver http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fdt%3D20090329%26page%3D2%26c%3DA
3. Ver Petição www.gopetition.com/petitions/salvem-o-museu-dos-coches.html
Foto http://dererummundi.blogspot.com/2009/03/salvem-o-museu-dos-coches.html

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