04/04/2009

Lavar a Av. da Liberdade pode não reduzir partículas

Especialistas que analisam os efeitos do clima no planeamento urbano revelaram ontem que a lavagem de ruas, como está previsto para a Avenida da Liberdade, não deverá ter influência na redução de partículas necessária para baixar a poluição do ar.
A lavagem do corredor Marquês de Pombal/Restauradores, duas vezes por dia, é uma das medidas previstas no protocolo assinado entre a CML e a Comissão de Coordenação de Lisboa e Vale do Tejo para reduzir a poluição do ar na Avenida da Liberdade, que ultrapassa várias vezes por ano os valores limite.
Tal acção “também foi tentada na Alemanha e é uma medida que não resultou”, disse um membro da equipa de planeamento urbano da cidade de Estugarda, para quem esta medida “não é prática”, uma vez que “pode trazer congestionamento de tráfego enquanto se lava” e porque - diz - “está provado que a lavagem não tem efeito na concentração de partículas”.
“As medidas mais eficientes são a proibição do tráfego de atravessamento - quem atravessa apenas aquela zona não pode passar -, o que se provou retirar entre 3 a 5% das partículas”. Outra das medidas eficazes para reduzir a poluição é evitar aumentar a altura dos edifícios, já que quanto mais altos forem mais impedem a ventilação na cidade.
O especialista, que falava durante o encontro que a Agência Municipal de Energia (E-Nova) promoveu ontem sobre os desafios do planeamento urbano sustentável, deu ainda como exemplo outra das medidas aplicadas na Alemanha: impedir a circulação a veículos com maiores níveis de poluição do ar (com excepções para o abastecimento de lojas/restaurantes e veículos de emergência).
Estas limitações de tráfego também estão previstas no protocolo entre a Comissão de Coordenação e a CML para melhorar a qualidade do ar na cidade, assim como a criação de novos corredores BUS e a elaboração de planos de mobilidade para alguns edifícios com muita concentração de pessoas.
Por seu lado, o presidente do Conselho de Administração da E-Nova sublinhou que “o grande problema de Lisboa são as partículas poluentes no ar”, muitas transportadas de outros locais pelo vento. “Em Lisboa também foram identificadas partículas vindas do Norte de África” pelo que se justificaria uma intervenção integrada nesta matéria. “A emissão de CO2 é a febre. Temos é de combater a doença”.
Sobre a lavagem de ruas para ajudar a reduzir a poluição, lembrou que em Lisboa ela ainda é feita com água potável. “Só espero que isto não resulte nalguns subsídios para se lavar a rua com água mineral”.
O responsável da E-Nova lembrou ainda um dos paradoxos do sistema português é “favorecer os motores a diesel e penalizar os veículos que mais partículas emitem”, sem esquecer que “os motores diesel conseguem ser mais eficientes no consumo porque trabalham a altas temperaturas, o que resulta num aumento de determinadas partículas, como o óxido de azoto”.

Ver Lusa doc. nº 9510196, 02/04/2009 - 15:02

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