06/01/2009

Avaliação de investimentos em conservação da natureza

Uma investigadora portuguesa publicou, na edição da passada 6ª fª da revista ‘Science’, um estudo onde propõe uma melhor avaliação dos resultados dos investimentos em conservação da natureza, visto que “presentemente, a maioria das organizações governamentais e não governamentais reporta apenas o acréscimo que houve em termos de áreas protegidas num determinado período de tempo”.
No entanto, esta “abordagem pode ser enganadora no sentido em que reporta apenas os benefícios, ou seja, o valor natural preservado, e não as perdas, isto é o valor natural perdido, mesmo que preservado, dentro e fora das áreas protegidas”.
O estudo agora publicado na Science - intitulado ‘True Conservation Progress’ (‘Verdadeiro Progresso em Conservação’) - resultou de um wokshop em que a investigadora participou na Austrália. O doutoramento que está a fazer tem por tema ‘Diversidade e Conservação dos Anfíbios e Répteis na Bacia Mediterrânica” e visa identificar áreas prioritárias para a conservação destas espécies recorrendo a metodologias inovadoras.
Neste estudo, realizado no seio de uma equipa internacional, propõe “a utilização de duas medidas adicionais que irão ajudar a evidenciar os reais benefícios e perdas dos investimentos em conservação da natureza” - explica esta estudante de doutoramento inscrita na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Concretamente, os autores propõem avaliações tanto de ganhos como de perdas de um valor natural, como por exemplo um determinado tipo de vegetação com valor de conservação relativamente a um referencial histórico.
Enquanto uma das medidas propostas determina que parte do investimento não originou retorno, a outra permite fazer uma avaliação da taxa de alteração do valor natural entre dois períodos de tempo, comparando a taxa de benefícios face à taxa de perdas. “Vamos imaginar que preservamos 10 hectares desse habitat num determinado momento e que 100 anos depois queremos avaliar que parte dessa área continua preservada e que parte foi destruída ou transformada noutra coisa”.
Relativamente a Portugal, onde na última década muito se investiu para consolidar a Rede Natura 2000, que integra vastas áreas do território e se ampliou a Rede Nacional de Áreas Protegidas, estas propostas poderiam ajudar a avaliar o retorno desses investimento em termos de valores naturais e biológicos.
“Que taxa de destruição de habitats havia antes da designação dos espaços como áreas de conservação? Essa taxa diminuiu? Aumentou? Em que estado se encontram as populações das espécies que lá ocorrem? Os números aumentaram? Diminuíram? Valeu a pena investir? Estamos a monitorizar de alguma forma o resultado do investimento?”.
Questiona ainda se, “apesar da designação de áreas com interesse de conservação, empreendimentos turísticos estão a ser construídos, florestas naturais estão a ser convertidas em eucaliptais e os efectivos das espécies diminuíram ou até mesmo desapareceram?"
Na sua óptica pessoal, “as políticas de conservação não se têm confrontado com estas questões e tanto a União Europeia, que financia, como o cidadão comum, que contribui com os seus impostos, e a comunidade interessada na conservação da natureza têm interesse em saber se o investimento obteve retorno ou não”.
O Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos a que a investigadora pertence, uma unidade de pesquisa no domínio do ambiente, ecologia e evolução com sede na Universidade do Porto, é único na sua área em Portugal, tendo obtido a classificação de ‘excelente’ numa recente avaliação das unidades de investigação e desenvolvimento do País feita por um painel internacional de peritos para a Fundação para a Ciência e a Tecnologia e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior português.

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