02/01/2009

Fumadores preferem sujar a via pública

A Lei do Tabaco, que entrou em vigor há exactamente um ano, proibindo o fumo no interior de quase todos os edifícios, foi aprovada pela Assembleia da República sem estudos de impacto ambiental ou garantias de que as autarquias controlam o aumento do lixo urbano.
Desde então, milhares de pontas de cigarro são diariamente atiradas ao chão desde que os portugueses passaram a fumar em espaços abertos. Cidades como Lisboa e Coimbra reforçaram a recolha de lixo, mas os fumadores continuam a preferir o chão ao cinzeiro. “Há muito mais beatas no chão e a limpeza da cidade ressentiu-se”.
Na cidade do Mondego a nova lei obrigou também à compra de cinzeiros, colocados no exterior dos edifícios mais frequentados por fumadores, e de mais caixotes de lixo para a via pública. “Em Coimbra foi necessário reforçar a recolha de lixo, não só de beatas mas de copos ou garrafas que os fumadores levam e deixam ficar no exterior dos cafés, restaurantes, bares e discotecas”, reconheceu um assessor do presidente da autarquia.
As mudanças vão acontecendo à medida das necessidades e em alguns locais, como em Braga, não chegaram ainda a acontecer.
Pelo contrário, a cidade de Lisboa, que acolhe mais de um milhão de pessoas por dia, teve de reposicionar algumas das suas nove mil papeleiras para as portas dos edifícios mais frequentados e está a preparar uma segunda campanha informativa para os fumadores que largam no chão as beatas.
“A grande maioria das beatas continua a ser largada na via pública. A explicação é a falta de civismo de quem nem olha ao redor à procura das papeleiras mais próximas e, num gesto quase automático, apaga o cigarro com o pé acreditando que largado no chão já não lhe pertence”, contou o director municipal de Ambiente da CML.
Esse gesto, feito várias vezes ao dia por milhares de pessoas, obrigou o município a rever os circuitos e os horários de varredura. “Tivemos de transferir para a manhã a recolha de lixo junto aos estabelecimentos de diversão nocturna, mas ainda estamos com problemas por a varredura ser manual”.
Em fase de concurso está a aquisição de 12 carrinhos de aspiração manual para as zonas da cidade com calçada portuguesa, onde as beatas no chão não conseguem ser retiradas através da varredura manual. As beatas recolhidas pelos funcionários municipais de Lisboa são enviadas para queima numa incineradora em São João da Talha, juntamente com todo o lixo apanhado nas ruas da cidade, mas o procedimento não é igual em todo o País, dependendo dos municípios, que podem optar pelo aterro.
Em termos ambientais, o maior perigo das beatas largadas no chão são os químicos depositados no filtro, explicou a associação ambientalista Quercus. Estudos internacionais indicam que o filtro demora 12 ou mais anos até se decompor, embora os fabricantes de tabaco falem em três anos.
O problema do cigarro é, no entanto, maior do que a deterioração das suas fibras, pois químicos como a nicotina, arsénico, cádmio, chumbo ou alcatrão, entre outros, acompanham o filtro na sua ‘viagem’. Quando deixadas ao abandono, as beatas contribuem para a poluição dos lençóis de água e vão muitas vezes parar aos oceanos, acabando no estômago de peixes e aves marinhas.
Em Lisboa, a CML prepara-se ainda para lançar a segunda campanha de sensibilização da população para esta temática, com anúncios em órgãos de comunicação social e cartazes afixados apelando ‘Beatas no chão NÃO’.

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