05/01/2009

Cegos com nova área de leitura mas sem meios adequados de ensino

A Biblioteca Nacional (BN) celebra quarenta anos da criação do Serviço de Leitura para cegos, assinalando, em simultâneo, o bicentenário (celebrado ontem) do nascimento de Louis Braille 1, criador francês do sistema de escrita e leitura para invisuais.
A BN encabeça um conjunto de organismos portugueses que se juntaram para as comemorações dos 200 anos do nascimento de Louis Braille ao longo de 2009, entre as quais a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).
Neste sentido, a par da inauguração desta nova área de leitura para deficientes visuais, a BN iniciará, ainda este ano, a digitalização e colocação na Internet dos livros sonoros e em braille. Esta área de leitura terá um espaço alargado (cerca de 500 metros quadrados) e em exclusivo para os deficientes visuais, incluindo depósito de colecções e logística adaptada aos trabalhos de impressão braille e digitalização, bem como leitura e gravação de livros sonoros (um serviço já com cerca de quatro décadas).
Terminado este processo de modernização, prevê proceder à “reconversão das cassetes e dos livros braille para a Internet e para digital”, sendo “centenas de milhares de páginas” a terem de ser digitalizadas.
De acordo com o seu director, existem cerca de 1.700 títulos em áudio, nove mil volumes em braille e cerca de 430 em formato electrónico (eBook). A colecção de livros em Braille inclui, por exemplo, o primeiro livro impresso em Portugal, mas as áreas com maior expressão são os manuais escolares e a literatura 2.
Mas a direcção da ACAPO, que considera que o Governo pode e deve ir mais longe, defendeu ontem a reactivação da Comissão de Braille, extinta em 2003, a fim de promover este sistema de leitura e escrita em Portugal, onde ainda há poucos professores especializados, pois é necessário haver uma entidade que “certifique, valide e defina as regras do Braille e que realize estudos que permitam saber porque muitas vezes não é utilizado”.
Fazendo um paralelismo com o que está a acontecer com os alunos do segundo ciclo, que utilizam uma linguagem muito telegráfica, do tipo mensagens de telemóvel, e que está a ter “repercussões grandes no modo como escrevem em aulas”, a ACAPO sustém que “tem de haver uma sensibilização das próprias pessoas com deficiência visual para a importância da utilização do Braille e do contacto directo com as palavras”.
“No caso das pessoas com deficiência visual o facto de utilizarem sistematicamente o gravador ou o programa de voz, ou seja, terem por base unicamente o método de estudo auditivo, está a ter grandes repercussões ao nível das construções de frases e erros ortográficos, porque a pessoa não tem o contacto directo com a palavra” escrita.
Acrescentou que terá de haver também um “esforço grande” dos conselhos executivos e do Ministério da Educação no sentido de disponibilizar aos professores e às escolas os equipamentos e os recursos necessários para o ensino do Braille, sensibilizando os docentes para que, numa fase inicial, não permitam apenas a utilização de métodos de estudo centrados na voz, mas sim na escrita Braille 3.

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