31/08/2009

Entrevista a Heloísa Apolónia: I - Eleições legislativas

- Como surge a política na sua vida? E o Partido Ecologista “Os Verdes”?
HA: Desde muito cedo fui activa na participação no movimento estudantil e percebi que a política é tudo aquilo que me rodeia, quer eu tenha imediata percepção disso ou não. Um dia, em Lisboa, tive contacto com o PEV numa acção de rua. Parei, ouvi, li e interessei-me. Foi a partir daí que me liguei ao PEV, depois com um conhecimento mais profundo da sua componente ideológica e das suas propostas, com as quais me identifiquei de imediato. Desde então, dou o meu contributo para o reforço deste projecto ecologista que eu julgo ser extraordinariamente útil ao país.
- Quais as expectativas do PEV para as legislativas de Setembro?
HA: Eleger um terceiro deputado?
HA: Quantos mais votos tiver a CDU mais mandatos poderá ter e, consequentemente, mais oportunidade terá o PEV de reforçar o seu Grupo Parlamentar. Esperamos que os eleitores tenham em conta a seriedade, a lealdade e o empenho que caracterizou o nosso trabalho no Parlamento, dando-nos um grande voto de confiança.
- Concorrerão agregados à CDU...
HA: Agregados não. Integrados, que é bem diferente. A CDU é uma coligação eleitoral entre o PCP e o PEV, uma coligação que se tem mantido nos períodos eleitorais porque há um grande respeito pela autonomia de cada um dos partidos que a integra.
- Ideologicamente, onde se situam “Os Verdes”? Com que partidos têm maior afinidade?
HA: O PEV é, se sombra de dúvida, um partido de esquerda que se define ideologicamente no campo da ecologia política. A nossa afinidade é com o nosso projecto ecologista em concreto. Temos, contudo, a percepção que unidos teremos mais força de transformação social, e essa união eleitoral só poderia acontecer com outros projectos que não estão comprometidos com interesses instalados e que trabalham para uma sociedade mais justa.
- A maioria obtida pelo PS nas Legislativas de 2005 “inviabilizou” o fortalecimento da Esquerda portuguesa. O que falta para que, entre os partidos à Esquerda com assento parlamentar, haja uma maior coesão?
HA: Relembro que em 2005 todos os partidos que se situam mais à esquerda, ou que dizem aí situar-se, tiveram um crescimento significativo, o que significa que os eleitores queriam penalizar a governação de direita a que estávamos submetidos na altura e queriam soluções de esquerda, soluções que pensassem nas pessoas e na justiça social. O problema é que, assim que começou a governar, o PS começou a tomar medidas de tal modo gravosas e fora de uma concepção de esquerda que tinha, inevitavelmente, que contar com a nossa total oposição. Ora, da parte do PEV não pode haver acordo a medidas que prejudiquem as pessoas desta forma. Faltou, por isso, ao PS governar à esquerda.
- Impedir a reeleição do PS é o que, realmente, está em causa nestas legislativas?
HA: O que está em causa nestas eleições é dar mais força aos que trabalharam, propuseram e levantaram sempre a voz em benefício da justiça e da qualidade de vida das populações. Se a CDU tiver mais mandatos no Parlamento, terá mais força para influenciar a política de próximos governos. A opção não está entre escolher PS ou PSD, isso é tudo mais do mesmo. E as pessoas precisam de saber que não estamos a eleger nenhum 1º Ministro, mas sim 230 deputados para a Assembleia da República, e a sua distribuição fará toda a diferença na próxima legislatura.
- Que alternativas apresenta o PEV para a próxima legislatura?
HA: As mesmas que tem preconizado. São extensas, mas talvez seja útil destacar aqui algumas. Nós defendemos um sistema fiscal que seja mais justo na redistribuição da riqueza, necessitando por isso de não deixar de fora a tributação de volumosas fortunas; defendemos uma política social sustentada na valorização do trabalho e também na oferta de serviços públicos que garantam com qualidade as necessidades das populações (quer no âmbito da saúde, da educação, da água, etc); defendemos a valorização das políticas ambientais e de preservação do património natural como componente determinante até para a dinamização de actividades económicas sustentáveis. Muitos outros exemplos poderiam aqui ser dados sobre políticas e alternativas que defendemos e propomos, as quais de resto se encontram expostas no manifesto eleitoral do PEV.
Uma coisa é certa: desempenharemos sempre o nosso mandato atentos à realidade do país e não a inventar um país virtual, para que as nossas respostas sejam adequadas à resolução dos problemas.

Extracto do questionário da Revista Plenitude a Heloísa Apolónia, 26 de Agosto de 2009

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