02/10/2008

Alunos do Conservatório assistem a aulas sentados no chão

O Ministério da Educação (ME) anunciou no ano passado uma reestruturação do ensino artístico com início para este ano lectivo, baseando-se num relatório que recomendava o fim do regime supletivo, que permite aos alunos realizar a formação geral numa escola normal e frequentar simultaneamente uma instituição especializada, como um Conservatório.
Segundo o documento, “o regime de frequência dos alunos em todas as escolas públicas do ensino artístico especializado deve ser essencialmente o regime integrado”, no qual os estudantes fazem os dois tipos de formação (geral e específica) nos Conservatórios e outras escolas especializadas.
Mas agora, no mesmo dia em que o ME emite um comunicado anunciando que o número de alunos no ensino especializado da música cresceu 47% este ano lectivo (ultrapassando os 25 mil estudantes), a Escola de Música do Conservatório Nacional (EMCN) divulga que tem 45 alunos a frequentarem aulas sentados no chão, por ainda não ter recebido da Direcção-Geral de Educação as secretárias e cadeiras pedidas em Maio.
A escola acusa o ME de impor a reforma do ensino artístico “sem investir nada” 1.
A EMCN está a ensinar música em regime integrado, como prevê a reforma em curso no ensino artístico, mas a falta de dinheiro faz com que estes alunos assistam às aulas sentados no chão. “O ano lectivo está para já a decorrer sem carteiras e sem cadeiras, com os meninos sentados literalmente no chão”, segundo a professora e vice-presidente da EMCN, só que, “o Ministério quis que nós implementássemos este novo regime e até ao momento não investiu nada, não nos deu material nenhum”.
A escola está este ano lectivo a receber pela primeira vez alunos de ensino integrado (que recebem ali todas as aulas, além do ensino da música), além de continuar com o ensino suplementar (a alunos que apenas aprendem música e vão ter as aulas curriculares noutra escola), depois de ter protagonizado no ano passado a contestação à reforma do Ensino Artístico desenhada pelo ME.
A docente explicou que as aulas teóricas da Escola, que funcionava até ao ano passado apenas em regime supletivo, eram dadas numa espécie de anfiteatro, em cadeiras de palmatória. “Estas aulas duravam quando muito uma hora por dia e não precisávamos de mais. Acontece que os alunos que agora vamos começando a ter em regime integrado, estão em permanência na escola das 8h da manhã às 16h ou às 19h, e têm mesmo de ter secretárias e outros materiais”, disse, acrescentando que, “de facto, o material que a escola tinha não se coaduna com o novo tipo de escola exigido pelo ministério”.
Entretanto, a escola comprou mais pianos e mais quadros brancos para escrever, entre outro material, para fazer face “a mais alunos no Conservatório este ano, com aumento dos que frequentam o regime integrado e diminuição dos outros”. “Agora, a escola não pode investir em tudo”, sublinhou. “O projecto que nós apresentámos [ao ME] foi de uma progressiva alteração da escola, em função da dimensão da escola. Por exemplo, não íamos abrir um nono ano de repente, quando não tínhamos tido oitavo nem tínhamos tido sétimo”, explicou.
A introdução faseada do ensino integrado prevê que daqui a dois anos a escola tenha todos os anos implementados, já que no próximo ano abrirá uma turma do oitavo ano e no ano seguinte do nono. “Mas também continuamos a receber meninos novos, não rejeitamos ninguém. O regime integrado se calhar vai-nos impedir de dar aulas apenas de música a tantos alunos como gostaríamos, mas no nosso projecto eles continuam a existir, não são para desaparecer”.
Fonte do Ministério da Educação já veio dizer que a EMCN pediu ajuda para solucionar o problema de falta cadeiras e mesas à Direcção Regional de Educação, que estará agora a analisar a situação 2.
Recorda-se que o Grupo Municipal de “Os Verdes” apresentou na AML de 19 de Fevereiro uma Recomendação sobre o “Ensino especializado de música”, a qual foi aprovada por maioria, apenas com a abstenção do PS 3.

Sem comentários: