12/10/2008

Paga o justo pelo pecador

O Governo português vai disponibilizar “até 20 mil milhões de euros” em garantias, “abertas a todas as instituições de crédito sedeadas em Portugal”, como resposta a eventuais reflexos da crise do sistema financeiro internacional no país.
Estas garantias poderão não ter um impacto orçamental a curto prazo, pois, segundo o Ministro das Finanças, “a garantia é, no fundo, o Estado afirmar que, se por acaso, houver incumprimento por parte de uma instituição (bancária), o Estado chamará a si o cumprimento dessa obrigação”.
Mas este valor hoje anunciado no final do Conselho de Ministros pelo titular da pasta das Finanças corresponde a, nada mais nada menos, 11,7% do PIB do país. Mais ainda: na semana passada a Caixa Geral de Depósitos (CGD) garantiu um empréstimo bancário de 200 milhões de euros a um banco privado 1.
Mas esta crise financeira não é um fenómeno puramente técnico. Hoje todos os países tentam manter o nível de salário baixo, diminuindo portanto a procura interna, e têm de encontrar mercados externos para os seus próprios produtos. Este mecanismo funcionou durante os últimos dez anos porque os EUA funcionaram como um ‘aspirador’ para os produtos excedentes de outros países. E não porque os salários dos trabalhadores fossem demasiado altos e sim porque foi acumulada uma enorme dívida privada nos EUA. O sistema levou os trabalhadores a pagarem as suas dívidas hipotecárias com novos empréstimos e a pagarem os juros dos empréstimos com novos cartões de crédito. Numa espiral sem fim de endividamento.
As consequências da actual ‘crise financeira’ tem sido arrastada aos trabalhadores e empregados, ao passo que os executivos da Wall Street, que fabricaram estes 'explosivos', podem até mesmo vir a lucrar com isso.
No caso americano, com o plano Paulson, este estipula que o Governo vai comprar os activos arriscados dos bancos de investimento e em troca colocar dinheiro fresco à sua disposição, deixando a possibilidade dos bancos, uma vez passada a tempestade, possam recuperar os seus títulos. Se o governo pagar preços bastante altos, os banqueiros podem finalmente embolsar um lindo lucro a expensas do orçamento do Estado 2.
Tal como acontece agora com o Estado português. Ou seja, forçando a que pague o justo pelo pecador, ao disponibilizar os impostos sobre o trabalho para aliviar as dívidas da especulação financeira.

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