28/10/2008

Nuclear? Claro que não, a solução está no Sol

O director do Instituto Potsdam de Investigação sobre Impactos Climáticos, um daqueles cientistas a quem os políticos gostam de recorrer em busca de orientação, sugere um megaprojecto-piloto com 20 grandes centrais solares no Norte de África e na Península Ibérica para alimentar a Europa com electricidade.
Com um pé na ciência e outro na política, apresenta uma visão preocupante do aquecimento global. Mas não é pessimista: até ao final do século, diz, o mundo poderá ficar livre do carbono como fonte principal de energia. Será preciso melhorar a eficiência energética, encontrar tecnologias para enterrar o dióxido de carbono (CO2) das centrais térmicas a carvão e gás e, por fim, apostar forte na energia solar.
Se custa caro? Nem por isso; muito menos do que o preço da crise financeira, que mostra o falhanço da visão de curto prazo, afirmou quando esteve em Lisboa, na semana passada, para uma palestra na Fundação Calouste Gulbenkian.

Qual é a sua visão de soluções para a energia a curto e médio prazo?
Nas próximas duas décadas, provavelmente será aumentar a eficiência energética. Estou seguro de que em Lisboa é possível aumentar a eficiência energética, por exemplo, alterando-se os comportamentos nos transportes. Há pessoas que insistem em ficar duas horas em filas de trânsito, apenas para ter o seu próprio carro.
Acha que é possível alterar comportamentos no curto prazo?
É um processo lento, mas não tanto que leve um século. Acho que é possível alterar atitudes em alguns anos, na verdade. É uma questão [que envolve] educação pública, os media, debates. É algo cultural. Mas é possível e haverá avanços nos próximos dez a vinte anos.
E quanto à tecnologia? Como atenderia à maior parte da procura energética?
Teria de se começar com um grande projecto de demonstração: uma parceria entre a Europa e o Norte de África para uma rede eléctrica inteligente, com um número de centrais termo-solares - algumas talvez em Portugal e Espanha. Depois a electricidade seria transportada em redes de alta tensão para o Norte e Centro da Europa. Custaria 40 mil milhões de euros, para 20 centrais solares, com uma potência total de 20 gigawatts. Seria o equivalente a 20 centrais nucleares, ao mesmo custo. Mas não haveria resíduos radioactivos, nem proliferação nuclear, a energia seria gratuita, não haveria o problema do pico do urânio no futuro.
O que tem a dizer dos cépticos, que afirmam que as alterações climáticas não são culpa humana?
Não conheço nenhum cientista respeitado que diga que as alterações climáticas não existem ou que a humanidade não está envolvida. Alguns, muitos poucos, dizem que o aquecimento global vai ser muito mais brando do que o que os modelos prevêem. Nunca vi nenhum argumento dos chamados cépticos que fosse estável o suficiente para sobreviver ao escrutínio científico.

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