07/10/2008

Obstáculos ao uso da bicicleta

A bicicleta como meio de transporte tem vindo a ganhar adeptos. Porém, apesar das preocupações ambientais, do aumento dos combustíveis e da procura de uma vida mais saudável, apenas 1% anda de bicicleta. Porque será?
Não há motivo aparente para tão fraca adesão, isto apesar de aos fins-de-semana ser normal ver grandes grupos de cicloturistas e praticantes de BTT. Aliás, qualquer prova de cicloturismo reúne, normalmente, mais de dois milhares de participantes.
O perfil de muitas das nossas cidades também não é impeditivo da utilização da bicicleta nas deslocações casa/trabalho, mas não oferecem condições de segurança. “A técnica há muito que resolveu esses problemas. Até as mais pequenas bicicletas desdobráveis já têm três velocidades no cubo e vencem qualquer subida. Além de que já há muita gente que as leva na bagageira do carro. Estacionam onde houver lugar e vão para o emprego de bicicleta”, sublinha o presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicletas (FPCUB).
Mas há outras explicações para nos encontrarmos na cauda da Europa no que diz respeito à utilização diária da bicicleta. A principal das quais dá pelo nome de Código da Estrada (CE). A bicicleta, diz o presidente da FPCUB, “não está ser encarada como um modo de transporte” e o CE “é um grande obstáculo a quem quer usar a bicicleta”, veículo que quase nunca tem prioridade. “Parece que ainda não percebemos o que está a acontecer com o preço dos combustíveis. Penso que, até por razões económicas, mais tarde ou mais cedo teremos de optar pela bicicleta”.
Com efeito, o Código de Estrada, é o ‘inimigo’ principal das duas rodas. “É a questão da prioridade, que nos prejudica bastante e, também, a obrigatoriedade de circularmos pelas ciclovias ou faixa cicláveis, que muitas vezes não estão nas melhores condições. Por outro lado, aumentam o número de cruzamentos”.
Há, efectivamente, especialistas em mobilidade que apontam diversos aspectos negativos às ciclovias, como o aumento dos cruzamentos, que é onde ocorrem 95% dos acidentes com ciclistas. Por outro lado, o traçado das cidades dificulta a implantação de ciclovias e cria um relacionamento conflituoso com os peões.
Polémicas e estatísticas à parte, certo é que o ciclismo de lazer tem aumentado de uma forma sustentada, não sendo descabido pensar que muitos dos praticantes se poderão facilmente render aos benefícios da bicicletas como meio de transporte diário 1.


E é nesta óptica que, para “Os Verdes”, radica a questão-chave deste equívoco: continua-se a considerar e a promover a bicicleta como mero ‘ciclismo de lazer’ citadino (como no caso da Câmara de Lisboa), quando ela deve também constituir uma excelente e sustentável alternativa de locomoção de mobilidade suave. Primeiro, reduzindo as despesas do orçamento familiar em transportes casa-emprego/escola e vice-versa. Segundo reduzindo a circulação automóvel, os engarrafamentos e, por consequência, as emissões de CO2.
Para além da falta de vontade (ou de compreensão) política, os grandes obstáculos parecem continuar ainda a ser o Código de Estrada e a circulação em segurança nas nossas estradas.

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